O Código Penal brasileiro em seu Artigo 240
prescrevia entre os crimes: Cometer adultério. Pena - detenção, de 15 (quinze)
dias a 6 (seis) meses. A Lei nº 11.106,
de 28.03.05, revogou o artigo fazendo caducar a ideia de adultério como crime.
Crime é algo que a lei nomina como tal. Praticá-lo é o mesmo que
transgredir, descumprir a lei. Sabe-se que o "crime de adultério" tinha uma
pena simbólica prevista para o culpado, e essa pena não surtia efeito algum e
nunca se via alguém efetivamente condenado. Não sabemos se alguém deixou de
“pular a cerca” porque era crime... talvez não.
Adultério não somente não é crime há 11 anos, como é quase um mandamento
nesse país tropical. O homem que não trai a mulher, não tem um “casinho” quando
viaja, que não está de olho numa mulher mais nova, ou mesmo que não está
“ligado” nas curvas de alguém das redondezas... esse nem parece que é homem! Em
muitos grupos um homem não dado ao adultério tende a ser excluído,
marginalizado.
Esse é o mundo dos homens! E mais especificamente esta é a sociedade
brasileira. O artigo 226 da Constituição Federal (este ainda vigente)
preceitua: A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. A
sociedade é assim mesmo, registra o ideal, e realiza o inconcebível.
Novelas não tem atrativos se não tiverem
adultérios, traições. E os tele expectadores ficam torcendo pelos amantes...
pelo fim de mais uma família (que tem especial proteção do Estado).
Deixo para os leitores pensarem e
concluírem onde vamos parar, pois introduzi o tema para falar de outro
adultério: O Adultério espiritual.
Uma coisa que caracteriza o adultério é que
surge um novo relacionamento sem o abandono do anterior. Um homem ou uma mulher
adúlteros estão ligados a duas pessoas: seu cônjuge e seu (ou sua) amante. E normalmente não há intenção de se
abrir mão de nenhum dos dois. No entanto, o amor humano exige exclusividade, ninguém
quer compartilhar o ser amado com outro.
Quem vive em adultério vive perigosamente!
Entretanto, a sociedade tenta conscientizar a si mesma da naturalidade do
adultério. Parece que há uma tentativa de absorvê-lo como parte da rotina
social.
Na época em que adultério era crime, no
outro lado do mundo, em Israel, os profetas de Deus ergueram sua voz contra o
adultério. Profetas são pessoas chatas, um tipo de desmancha prazeres, sem
graça. Não é à toa que muitos foram presos, ou até mortos.
Me lembro de João Batista, que foi dizer ao Rei Herodes que ele estava
errado em ter um caso com a cunhada, e foi preso. Depois foi degolado (Mt
14.3-12). E nesse tempo adultério era crime... Abusado, esse João. Não queria
deixar o rei viver tranquilamente a sua aventura amorosa com a mulher do seu
irmão Felipe. Por isso perdeu a cabeça.
Mas não quero falar dos casos escondidos
dos reis, como Davi, que o profeta Natã, esse desmancha prazer, insistiu em
trazer à luz. Desses adultérios todo mundo já sabe. Quero falar de outro
adultério.
Preciso primeiro falar de outro
relacionamento. Não homem-mulher. Falo de Yahweh-Israel, Deus-homem,
Cristo-igreja. O profeta Isaías num bonito poema afirma: “O teu Criador é o teu
marido; Yahweh dos Exércitos é o seu nome...” (Is 54.5)
O profeta Oséias registra a história de um
Israel adúltero, com vários amantes. Constatamos isso tanto na mensagem do
profeta quanto em sua complicadíssima vida conjugal, uma verdadeira epopeia de
traições e reconciliações. Cito apenas
um trecho que ilustra o drama desse relacionamento, Os 2.13-20:
“Castigá-la-ei pelos dias dos Baalins, nos quais lhes queimou incenso, e
se adornou dos seus pendentes e das suas jóias, e andou atrás de seus amantes,
mas de mim se esqueceu, diz o SENHOR. Portanto, eis que eu a atrairei, e a
levarei para o deserto, e lhe falarei ao coração. E lhe darei as suas vinhas
dali, e o vale de Acor, por porta de esperança; e ali cantará, como nos dias de
sua mocidade, e como no dia em que subiu da terra do Egito. E naquele dia, diz o SENHOR, tu me
chamarás: Meu marido; e não mais me chamarás: Meu senhor. E da sua boca tirarei
os nomes dos Baalins, e não mais se lembrará desses nomes. E naquele dia farei
por eles aliança com as feras do campo, e com as aves do céu, e com os répteis
da terra; e da terra quebrarei o arco, e a espada, e a guerra, e os farei
deitar em segurança. E desposar-te-ei
comigo para sempre; desposar-te-ei comigo em justiça, e em juízo, e em
benignidade, e em misericórdias. E desposar-te-ei comigo em fidelidade, e
conhecerás ao Senhor.”
Em
Oséias, Deus é o marido traído pelo seu povo adúltero.
No Novo Testamento, multiplica-se a comparação do relacionamento conjugal
entre Cristo e a igreja:
Vós
maridos amai vossas mulheres como Cristo amou a Igreja e a si mesmo se entregou
por ela (Ef 5.25). O Apocalipse fala da grande celebração das Bodas do Cordeiro
(Ap 19.7).
O perigo do adultério ronda o relacionamento conjugal. No Velho
Testamento, Oséias identifica os ídolos e deuses cananeus como Baal, como os
amantes. Israel não se divorcia de Yahweh, não finda o relacionamento. Continua
como Israel de Deus, mas, mantem casos com as divindades cananeias.
Hoje a igreja desposada com o noivo celestial vive, como o Israel
antigo, não apenas possibilidades, mas verdadeiro adultério espiritual. Os baalins
do passado foram transformados em outro tipo de ídolos. A esposa igreja
continua tendo Cristo como celeste esposo, porém, agora anda de “caso” com
amantes.
Como todo profeta “chato”, estou aqui como desmancha prazer repetindo
Natã e João Batista (meus célebres predecessores).
Há alguns dias postamos um texto muitíssimo
pertinente, por Thalison Evangelista, acerca da ideologia política como ídolo
do pensamento. Gostaria de sugerir a
leitura de um livro excelente acerca do assunto: Deuses Falsos, por Timothy
Keller. É uma caminhada desafiadora por entre os ídolos de nosso coração. Apenas citarei outros ídolos, cuja análise é
feita de forma mais cuidadosa e acurada por Tim Keller, no livro citado.
“Existem
ídolos pessoais, como o amor romântico e a família, ou o dinheiro, poder e
sucesso, ou o acesso a círculos sociais específicos, ou a dependência emocional
de outros em relação a você, ou saúde, boa forma e beleza física.
Existem ídolos culturais,
como a liberdade individual, o autoconhecimento, a prosperidade pessoal e a
satisfação. Além dos ídolos intelectuais, muitas vezes chamados de ideologias...”
Enquanto pessoas comprometidas com Jesus,
parte da sua igreja, e tendo Deus como único Senhor. Qual o ídolo de nosso
coração? Ou quais os ídolos que temos constituído, e por ele (s) dividimos
nossa adoração, nosso tempo, nosso empenho...
Como todo adúltero, talvez estejamos racionalizando nossa idolatria. Eis
porque nosso cristianismo é tão vazio. Nosso relacionamento com Deus é tão infrutífero.
Não seria tempo de humildemente confessarmos e gritarmos como Davi: Pequei
contra o Senhor? (II Sm 12.13).
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