* Obs. Todos os nomes são fictícios
Mais uma vez trabalhei como mesário nas
eleições. Parece um trabalho repetitivo e desinteressante, mas não é. Para mim
é sempre uma experiência sociológica única. Nenhuma aula de antropologia na
universidade poderia me trazer um retrato tão vívido do povo da cidade, e em
menor escala do país.
O vaivém constante do cara-crachá, da checagem de rotina “documento de
identificação com foto” – rosto do eleitor, é um sermão da implacabilidade do
tempo. Mas por que o tempo é mais implacável pra uns do que pra outros?
Sr. H é um homem jovem, a data de nascimento informa. Mas estamos diante
de um velho. Um velho trêmulo, que já pela manhã cheira a cachaça. Como no dia
da eleição não se vende bebida alcoólica, desconfio que tenha um estoque em sua
casa. A bebida se encarregou de debilitar sua saúde e apressar sua velhice.
O documento de identificação da Sra. M também nos indica uma mulher jovem.
Mas estamos diante de uma idosa. Mais do que isso, alguém com marcas intensas
do trabalho e de sofrimento. Fez biometria, mas os dedos estão tão grossos de
calos decorrentes do trabalho pesado, que o leitor biométrico se recusa a
reconhecer aquele polegar deformado, ou indicador estranho.
É.... há labores que não constam nos
registros do Ministério do Trabalho, mas não são fictícios. Talvez sejam mais
reais do que aqueles que estão sendo contabilizados pela Previdência Social.
É verdade que o calor de Fortaleza não é para os fracos! Mas isso
explica os trajes mínimos das adolescentes e jovens? Normalmente apenas os
glúteos das garotas são cobertos; E muitas vezes com peças excessivamente
apertadas com o objetivo de despertar os olhares cobiçosos dos homens jovens e
velhos.
Pode-se observar também que boa parte delas
vem acompanhadas de crianças. Garotas com menos de 20 anos trazendo crianças
que nem são mais de colo, as quais ficam ao lado, puxando pela peça ínfima que
cobre os glúteos da garota-mãe.
Claro que alguns daqueles rapazes que
votaram na mesma seção devem ter sido os machos que geraram aquelas
criancinhas... e nunca reconhecerão a paternidade. Isso ficará a cargo dos
avós... e eles estarão livres para gerar outras crianças, que também não
conhecerão o pai!
Em pequeno número tem aqueles que desistiram do gênero que nasceram. Não
é fácil identificar Maria Fernanda, a bonita garota da foto da identidade, que
em nada se parece com o garoto musculoso à sua frente. Ou ainda, fazer a identificação
de Carlos Eduardo, o adolescente sério e com cara de macho retratado no
documento de identificação com a moça peituda e melosa à sua frente.
Pensa-se no futuro do país a
partir dos governantes eleitos. E se pensarmos a partir do povo? E se cada
brasileiro anônimo entender que o futuro desse país depende de cada um de nós? Que
há consequências macro e micro para os vícios, os atos irresponsáveis!
Eu sei que é politicamente incorreto dizer
isso. Melhor pensar que são todos vítimas do sistema cruel e opressor. Eu insisto em dizer que há sim, responsabilidade em cada um dos eleitores que compareceram
na minha seção para eleger o novo prefeito da cidade!
Texto-Pintura! Retratando, em Poesia, não apenas uma circunstância ou situação específica... me levou a refletir sobre como a nossa péssima administração da "liberdade", sempre redundou (desde Genêsis!) em transferência de responsabilidade.
ResponderExcluirO blog está cada vez melhor, professor!
Paz
Gostei muito dos seus artigos uma bênção.
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