segunda-feira, 31 de outubro de 2016

A cara do Brasil que não é retratada pelo IBGE e a responsabilidade de cada um

* Obs. Todos os nomes são fictícios

    Mais uma vez trabalhei como mesário nas eleições. Parece um trabalho repetitivo e desinteressante, mas não é. Para mim é sempre uma experiência sociológica única. Nenhuma aula de antropologia na universidade poderia me trazer um retrato tão vívido do povo da cidade, e em menor escala do país.
   O vaivém constante do cara-crachá, da checagem de rotina “documento de identificação com foto” – rosto do eleitor, é um sermão da implacabilidade do tempo. Mas por que o tempo é mais implacável pra uns do que pra outros?
   Sr. H é um homem jovem, a data de nascimento informa. Mas estamos diante de um velho. Um velho trêmulo, que já pela manhã cheira a cachaça. Como no dia da eleição não se vende bebida alcoólica, desconfio que tenha um estoque em sua casa. A bebida se encarregou de debilitar sua saúde e apressar sua velhice.
    O documento de identificação  da Sra. M também nos indica uma mulher jovem. Mas estamos diante de uma idosa. Mais do que isso, alguém com marcas intensas do trabalho e de sofrimento. Fez biometria, mas os dedos estão tão grossos de calos decorrentes do trabalho pesado, que o leitor biométrico se recusa a reconhecer aquele polegar deformado, ou indicador estranho.  

    É.... há labores que não constam nos registros do Ministério do Trabalho, mas não são fictícios. Talvez sejam mais reais do que aqueles que estão sendo contabilizados pela Previdência Social.
   É verdade que o calor de Fortaleza não é para os fracos! Mas isso explica os trajes mínimos das adolescentes e jovens? Normalmente apenas os glúteos das garotas são cobertos; E muitas vezes com peças excessivamente apertadas com o objetivo de despertar os olhares cobiçosos dos homens jovens e velhos.
    Pode-se observar também que boa parte delas vem acompanhadas de crianças. Garotas com menos de 20 anos trazendo crianças que nem são mais de colo, as quais ficam ao lado, puxando pela peça ínfima que cobre os glúteos da garota-mãe.

    Claro que alguns daqueles rapazes que votaram na mesma seção devem ter sido os machos que geraram aquelas criancinhas... e nunca reconhecerão a paternidade. Isso ficará a cargo dos avós... e eles estarão livres para gerar outras crianças, que também não conhecerão o pai!
   Em pequeno número tem aqueles que desistiram do gênero que nasceram. Não é fácil identificar Maria Fernanda, a bonita garota da foto da identidade, que em nada se parece com o garoto musculoso  à sua frente. Ou ainda, fazer a identificação de Carlos Eduardo, o adolescente sério e com cara de macho retratado no documento de identificação com a moça peituda e melosa à sua frente.
    Pensa-se no futuro do país a partir dos governantes eleitos. E se pensarmos a partir do povo? E se cada brasileiro anônimo entender que o futuro desse país depende de cada um de nós? Que há consequências macro e micro para os vícios, os atos irresponsáveis!
    Eu sei que é politicamente incorreto dizer isso. Melhor pensar que são todos vítimas do sistema cruel e opressor. Eu insisto em dizer que há sim, responsabilidade em cada um dos eleitores que compareceram na minha seção para eleger o novo prefeito da cidade!

2 comentários:

  1. Texto-Pintura! Retratando, em Poesia, não apenas uma circunstância ou situação específica... me levou a refletir sobre como a nossa péssima administração da "liberdade", sempre redundou (desde Genêsis!) em transferência de responsabilidade.

    O blog está cada vez melhor, professor!

    Paz

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  2. Gostei muito dos seus artigos uma bênção.

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