domingo, 24 de julho de 2016

Confissão e Lamento


   Semana passada estava envolvido na nossa congregação com o Forum Dokimon para a juventude, com o tema “O Evangelho Puro e Simples”, parafraseando C.S.Lewis. Foi um tempo proveitoso de aprendizagem para todos nós que estávamos envolvidos. Não tive tempo de acompanhar o desenrolar das novidades nas redes sociais.  Hoje, buscando me atualizar das novidades me deparei com a lamentável notícia do cancelamento de um evento na CPAD que teria participação do Rev. Augustos Nicodemus, juntamente com os desdobramentos possíveis numa sociedade conectada.
    Não pretendo realizar uma crítica abrangente do episódio, pois gente com muito mais cacife do que eu já o fez, com muita propriedade. Restou-me duas coisas, que parece que se encontram em desuso nesses tempos de um evangelicalismo triunfante: Lamentar e Confessar...



   O lamento era um recurso que os homens dos tempos bíblicos sempre lançavam à mão nas épocas de tragédia. Foi assim com Jeremias. Quase podemos ouvir sua voz de choro em suas Lamentações (Lam 2.11). Em meio a tanta tristeza decide “trazer à memória aquilo que pode lhe trazer esperança” (Lam  3.21). Gostaria de seguir os passos de Jeremias, um profeta com o qual tenho uma profunda identificação. Lamento porque nossas instituições cedem com alguma facilidade às pressões, como o Rei Saul, o que lhe causou, inclusive a perda do trono (I Sm 13.8-14). Lamento porque percebemos na igreja evangélica um festival de gente imatura. Por um lado gente imatura que por ter tido acesso ao conhecimento, a alguma formação, permitiu que a arrogância tomasse conta de si, ignorando o que Paulo escreveu aos coríntios: “O conhecimento/ciência (gnosis) incha, mas o amor (ágape) edifica. (I Co 8.1)”. Por outro lado, gente imatura que por não ter qualquer conhecimento, não sabe lidar com as situações que surgem.
    Meu lamento é maior ainda porque a solução encontrada tem sido a negação do outro. Pra quem entende, isto também é uma forma de violência! Parece ser a solução mais simples, embora não cristã para o impasse. Gente que pode ser ensinada através do exemplo, exortada pela palavra para viver em amor e não em arrogância, entra em colisão com líderes sem conhecimento e formação, e o anátema mútuo corre solto. Lamento porque num nível institucional estamos vivendo a atitude infantil dos discípulos: “Mestre, vimos um homem que expulsava demônios em teu nome, e nós o proibimos, pois ele não nos acompanha” (Lc 9.49).
   Eu poderia sentir, de repente, um sentimento pós-moderno denominado de vergonha alheia. E, certamente, juntar-me ao coro das maldições. Nas Escrituras somos chamados a encarar a culpa de nosso povo como nossa. Gosto do capítulo 9 do profeta Daniel. Daniel não fora um judeu idólatra, não transgredira os mandamentos do Senhor, mas sua oração de confissão o inclui: “Pecamos e praticamos o mal, agindo com impiedade e rebeldia, apartando-nos dos teus preceitos e das tuas normas, não demos ouvidos aos teus servos, os profetas, que falaram em teu nome... A ti, ó Senhor, pertence a justiça; mas a nós, a vergonha, como hoje se vê...” (Dan 9. 5-7).
  Confessamos que a igreja brasileira não tem se preocupado com a formação dos seus pastores como deveria fazê-lo. Muitos se encontram totalmente incapacitados para tão grande e nobre tarefa. Confessamos que não orientamos nossos jovens com o amor e piedade que deveríamos fazê-lo. Às vezes nossos seminários são fábricas de Querubins Ungidos, de donos do conhecimento, de devoradores de livros sem qualquer temor a Deus.  Fico lembrando de meu querido mestre Pr. Thomas Fodor, no Seminário Teológico Pentecostal do Nordeste. Estava sempre preocupado com nossa vida devocional, com nosso caminhar com Deus, angustiado para que nossa balança entre o conhecimento e o amor estivesse em equilíbrio...
   Lamentando e confessando, quero trazer à memória aquilo que pode me trazer esperança. Conheci o Rev. Augustus Nicodemus há alguns anos, numa Conferência Teológica. É meu conterrâneo. Fala com a gravidade de um mestre, e a propriedade de quem sabe o que está dizendo. Posso não concordar com todas as suas posições, mas reconheço nele um homem de Deus, com um profundo amor pelas Escrituras. Minha formação espiritual se deu aos pés dos mestres, fossem eles da minha denominação ou não. Como jovem pobre na periferia de Recife, gostava de ler, mas não tinha dinheiro para comprar livros. Me tornei colportor, da  Editora Betânia, CPAD. Os livros eram, e ainda são minha riqueza. Nunca me importei em olhar se o autor era da minha denominação, e sim, se era alguém que tinha algo a me ensinar, sempre tentei seguir a orientação paulina: Examinai de tudo e retende o bem (I Tes 5.21). Estudei num Seminário interdenominacional que me levou a ter uma visão do Reino de Deus não sectária, não mesquinha. Fui fazer mestrado na querida Faculdade Teológica Batista de São Paulo, onde o fato de ser um pentecostal assembleiano nunca foi problema em minha relação com os professores e colegas.

     Atualmente estou ministrando na Igreja a Carta aos Gálatas, e um dos livros que utilizo é o livro de autoria do Pastor Augustus Nicodemus.  Fico pensando se dentro em breve não haverá uma proibição de ler os livros deste expoente da Palavra... Outro dia ministrei na Igreja sobre João 14.1-3 “Vou preparar-vos lugar”. Ao final do culto confessei a um irmão próximo que estou desejando muito ir, para um lugar junto ao Pai... Talvez não haja mais lugar para mim nesse mundo, não consigo mais achar natural determinadas coisas... Resta-me seguir o conselho de Jeremias: “Põe a tua boca no pó, talvez ainda haja esperança” (Lam 3.29).

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Episódio da Mulher Adúltera ilustra texto de Gálatas

     Estudando a epístola aos gálatas para expor no culto de ensino da igreja revejo o trecho já mui conhecido:
     “Então, para que serve a lei? Ela foi acrescentada por causa das transgressões, até que viesse o descendente a quem a promessa havia sido feita... (Gl 3.19) Mas a Escritura colocou tudo debaixo do pecado, para que a promessa fosse dada aos que creem pela fé em Jesus Cristo. Mas, antes que viesse a fé, éramos mantidos debaixo da lei, nela confinados para a fé que haveria de ser revelada. Desse modo, a lei se tornou nosso guia para os conduzir a Cristo, a fim de que pela fé fôssemos justificados. Mas tendo chegado a fé, já não estamos sujeitos a esse guia. Pois todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus” (Gl 3.22-26).  

     A leitura desse trecho paulino me faz lembrar o episódio registrado por João em seu evangelho, no capítulo 8:
    “Jesus, porém, foi para o monte das Oliveiras. Ao amanhecer ele apareceu novamente no templo, onde todo o povo se reuniu ao seu redor, e ele se assentou para ensiná-lo. Os mestres da lei e os fariseus trouxeram-lhe uma mulher surpreendida em adultério. Fizeram-na ficar em pé diante de todos e disseram a Jesus: "Mestre, esta mulher foi surpreendida em ato de adultério. Na Lei, Moisés nos ordena apedrejar tais mulheres. E o senhor, que diz? "

     Eles estavam usando essa pergunta como armadilha, a fim de terem uma base para acusá-lo. Mas Jesus inclinou-se e começou a escrever no chão com o dedo. Visto que continuavam a interrogá-lo, ele se levantou e lhes disse: "Se algum de vocês estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar pedra nela". Inclinou-se novamente e continuou escrevendo no chão.
     Os que o ouviram foram saindo, um de cada vez, começando com os mais velhos. Jesus ficou só, com a mulher em pé diante dele.
     Então Jesus pôs-se de pé e perguntou-lhe: "Mulher, onde estão eles? Ninguém a condenou?”  "Ninguém, Senhor", disse ela. Declarou Jesus: "Eu também não a condeno. Agora vá e abandone sua vida de pecado.” (Jo 8:1-11)
    Agora vejamos como o episódio da Mulher Adúltera ilustra as explicações paulinas:
    Os mestres da lei e os fariseus trouxeram-lhe uma mulher flagrada em adultério.  Indaga Paulo, para que serve a lei?  E ele mesmo responde “por causa das transgressões”. A resposta é muito sucinta e talvez não esclareça plenamente. Então pode-se usar outro texto paulino para lançar mais luz sobre a questão: “Eu não conheci o pecado senão através da lei, pois eu não teria conhecido a concupiscência se a Lei não tivesse dito: Não cobiçarás.” (Rm 7.7)

   Os fariseus sabiam que a mulher havia pecado porque a lei afirmava isso. Eles não chegariam a essa conclusão por si mesmos.  A lei indicou que havia pecado, e esse pecado conduzia à morte. Naquele caso, o apedrejamento. A punição que a lei previa era para que o homem assimilasse a gravidade da transgressão.
    Mas pecado não era apenas o adultério da mulher. Dizia Paulo:  “A Escritura colocou tudo debaixo do pecado”.  Jesus se levantou, olhou para os homens que traziam a mulher e indagou: “Se algum de vocês estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar pedra nela”. Os que o ouviram foram saindo, um de cada vez começando com os mais velhos.

    A lei apontava claramente o pecado não apenas da mulher, mas de todo o homem.  E aqueles fariseus e homens da lei entenderam isso. Nesse episódio fica claro qual era o objetivo da lei, e também que ela cumprira satisfatoriamente sua finalidade: Deixar claro, que todo o homem é pecador diante de Deus!
   Agora a mulher estava ali, diante de Cristo, trazida pelos ditames da lei. Sem nada que pudesse falar a seu favor, a não ser a fé no homem que tinha nas mãos o seu destino, pois a lei previa seu apedrejamento. Mas Jesus a perdoou, dizendo: Vá em paz e não peques mais.  Paulo resumiria o que aconteceu com as seguintes palavras:  Desse modo, a lei se tornou nosso guia para os conduzir a Cristo, a fim de que pela fé fôssemos justificados. Mas tendo chegado a fé, já não estamos sujeitos a esse guia.
   Vivamos pela fé, na Salvação graciosa do Senhor que nos libertou da maldição da Lei!!