terça-feira, 28 de outubro de 2014

Isso é AMOR!!!


      Sábado foi o casamento da Rafa e Marcelo. Um momento para se confirmar nossa crença no amor romântico. Tudo muito lindo. Cuidadosamente escolhido. O local, as músicas, a decoração (que lembrou o vaivém Rio-Fortaleza), o horário (ao cair da tarde)... Familiares, amigos e padrinhos todos engalanados.

     Tudo cuidadosamente pensado para tocar nossas emoções. Ainda bem que não uso maquiagem. Por isso pude chorar de emoção sem qualquer constrangimento.


     Rafaela conheceu o Marcelo quando ele ainda servia na Marinha em Fortaleza. Em algum momento da cerimônia ela falou desse momento mágico quando eles se perceberam pela primeira vez. Uma pulseira caída no chão, uma gentileza ao apanhá-la, olhares e... Amor.
    Marcelo é carioca, de uma animada família de gente risonha e hospitaleira.  Rafaela foi lá para conhecer os sogros,  cunhados e amigos do Marcelo. Eles um dia se transformariam na sua família.
   Uma boa parte das poltronas de um avião foi destinada aos amigos e familiares de Marcelo que vieram do Rio de Janeiro para a festa  de casamento em Fortaleza. Vieram para celebrar, para receber em alto estilo a cearense que será acolhida no Rio.
    Uma garotinha entrou com uma plaquinha: TIO, SUA NOIVA VEM AÍ. Rafa entrou ao som de Paulo César Baruk (Isto é AMOR)
Eu gosto tanto de você e pra sempre eu quero ser teu eterno namorado
Vamos juntos aprender, um ao outro compreender para andarmos lado a lado
Eu quero te fazer feliz, eu quero você sempre aqui, meu amor, isso é amor!
E quando a gente se olhar o mundo inteiro vai cantar é amor, isso é amor!

Eu gosto tanto de você e pra sempre eu quero ser tua eterna namorada
Vamos juntos aprender, um ao outro compreender para andarmos de mãos dadas
Eu quero te fazer sorrir, eu quero você sempre aqui, meu amor, isso é amor!
E quando a gente se olhar o mundo inteiro vai cantar é amor, isso é amor!

   Sem querer ser meloso... Mas foi lindo, gente!
   Depois vieram as juras de amor.  Foi aí que a Rafa contou um pouco da história de amor deles. Aí foi a vez do Marcelo. Ele disse que não era tão criativo quanto ela. Mas era capaz de fazer grandes surpresas. Então eu me lembrei  quando ele a pediu em casamento. No desembarque do Aeroporto do Rio de Janeiro. Uma faixa enorme “Quer casar comigo?”. E ele de joelhos a pediu em casamento. 



     Agora suas juras de amor foram em forma de canção. Cantou e cantou o amor. Lindo demais.
    Aí veio outra surpresa especial. Quando o celebrante pediu para virem as alianças, a vovó da Rafa veio trazendo-as.  Numa sociedade que enaltece somente a beleza do jovem e a promessa de futuro das crianças, uma senhora conduziu as alianças. Bela, serena, meiga... como é a beleza dos velhos. Muito lindo.  

     Comemos, rimos, celebramos... ao som de lindas músicas, que respeitavam nossa vontade de confraternizarmos, conversarmos. Isto é, não agrediam nossos ouvidos com uma barulheira  infernal. Afinal, fomos a um casamento, e não a uma apresentação de uma banda. Se quiséssemos assistir a um show, com certeza casamento não seria o evento mais indicado. Estou lembrando da leveza com a qual cantaram com uma harmonia de beleza mágica  “AMAZING GRACE”...
     Eles devem estar neste momento em algum lugar do Chile, aproveitando sua lua de mel, conhecendo-se no sentido bíblico. Não sabem o bem que fizeram aos seus convidados ao lhes proporcionarem uma tarde tão inesquecível. Obrigado, queridos!
   

   

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Hannah Arendt - Ela marcou minha história!

      Quem consultou o Google hoje deparou-se com um Doodle curioso: O desenho de uma senhora delicada empunhando com segurança uma caneta na mão esquerda e folhas de papel na mão direita, reclinada em sua mesa de trabalho, emoldurada por livros.


   Quem por curiosidade clicou no Doodle soube que era uma homenagem aos 108 anos de nascimento de Hannah Arendt. Mas quem foi  Hannah Arendt?
   Generais foram retratados empunhando suas espadas, reis os seus cetros... escritores e pensadores são lembrados também com seus instrumentos que lhes conferiram poder e lhes imortalizaram. É o caso de Hannah Arendt.
   Devo confessar que tenho um carinho especial por ela. Uma senhora de olhar atento, de aguda perspicácia e de notável sensibilidade. Tenho algumas de suas obras traduzidas  no vernáculo e disponíveis nas livrarias nacionais.


   Não sei  bem como foi nosso primeiro encontro. Só sei que a conheci através de um dos seus escritos mais famosos: Eichmann em Jerusalém, um relato sobre a banalidade do mal. Vivia um momento especialmente delicado e a leitura desse livro de Arendt potencializou minha indignação, minha revolta... abriu meus olhos para situações do cotidiano... conscientizou-me de atitudes monstruosas que Eu estava me tornando protagonista!
    Todos deveriam ler esse relato de Arendt. Afinal de que se trata?
     Eichmann foi um alto funcionário da estrutura nazista que atuava na logística da máquina da morte. Com a queda do Reich e a derrota alemã fugiu para Argentina onde viveu até ser capturado em Buenos Aires, em 11 de maio de 1960, e transportado para Israel onde foi levado a julgamento em Jerusalém, em abril de 1961.
    Hannah estava lá, fazendo a cobertura do julgamento para a revista The New Yorker. Das observações e reflexões acerca do julgamento veio à luz Eichmann em Jerusalém.


    O acusado tinha dificuldade de entender porque estava ali, afinal ele sempre fora um cidadão respeitador das leis, e executou as ordens de seu superior hierárquico  (Hitler) o melhor  que pôde.  “Ao longo de todo o julgamento, Eichmann tentou esclarecer, quase sempre sem nenhum sucesso que ele não era nenhum sujeito imoral. Quanto a sua consciência, ele se lembrava perfeitamente de que só ficava com a consciência pesada quando não fazia aquilo que lhe ordenavam – embarcar milhões de homens, mulheres e crianças para morte, com grande aplicação e meticuloso cuidado.”
      Arendt  registra que “quanto mais se ouvia Eichmann, mais óbvio ficava que sua incapacidade de falar estava intimamente relacionada com sua incapacidade de pensar, ou seja, de pensar do ponto de vista de outra pessoa.”
     A não ser por sua extraordinária aplicação em obter progressos pessoais, ele não tinha nenhuma motivação... Ele simplesmente nunca percebeu o que estava fazendo. Ele não era burro. Foi pura IRREFLEXÃO – algo de maneira nenhuma idêntico à burrice – que o predispôs a se tornar um dos grandes criminosos desta época.
    A leitura deste livro me deixou profundamente perturbado. Não estamos diante da “Solução Final”, mas estamos diante de mega estruturas econômicas e religiosas que às vezes nos engajam em suas engrenagens e nos convidam a não pensar, a apenas agir.  Podemos nos tornar monstros, seres malignos, travestidos de bons funcionários, excelentes executivos, empregados premiados... como Eichmann.
       Arendt me resgatou do pragmatismo utilitário do sistema em que estou inserido, e me deu uma sacudida para que eu voltasse a vida... Aí me lembro de outro livro dela:  A Condição Humana. Ela nos convida à reflexão, e ressalta que a irreflexão, pensada como a imprudência temerária ou a irremediável confusão ou a repetição complacente de verdades que se tornaram triviais e vazias, parece ser uma das principais características do nosso tempo. Ela nos propõe apenas refletirmos sobre o que estamos fazendo.
  Apenas... isso muda tudo! Grande Hannah! Homenagem muito bem merecida!


     

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Já que estamos falando de crianças...

  ... Os ateus de plantão afirmam que a fé é um sentimento infantil. Os afetos religiosos denotam dependência, um filho dependente de um pai, precisa ser guiado, conduzido. Talvez seja por isso que Jesus disse que precisávamos nos fazer como crianças para herdar o reino dos céus (Mc 10.15). Eles estão certos [os ateus]. Eu sou um exemplo disso, afinal sou um homem feito, mas ainda sou dependente... dependo de Deus, do seu amor, do seu carinho, de sua proteção.

   Quem deixou de ser criança, e já é dono de seu nariz, rejeita a orientação paterna, não quer que ninguém lhe diga o que fazer. O Pai para ele morreu. Coitado. Está órfão.  Ficou adulto.
     Não sou Peter Pan, mas espiritualmente vou continuar criança. Criança que ainda ora quando acorda, quando come, quando vai dormir... que pede ao Pai que seja o meu guia  na tomada de decisões. Criança que num púlpito não fala as suas próprias palavras, mas as palavras que o Pai manda! Ainda bem que eu continuo tendo Pai.
    Queria dizer pra vocês que é muito bom ter Pai.
   Crianças gostam de carrinho, de aviãozinho, de barquinho... Quem não brincou de barquinho de papel? Hoje eu ia pro trabalho e pensando... Quando era garotinho eu aprendi lindas músicas de barquinho. A minha preferida não era cantada por um menininho. Era um senhor com cara de vovô: Feliciano Amaral.



     Era um poema com uma ou outra palavra difícil, mas era tão belo, tão puro, que um garotinho de 2 ou 3 anos escutou tanto que passou a cantar também, falando as palavras do seu jeito. Ainda hoje não sei bem o que significa FANAL:

Noite azul, céu sereno
Num barco pequeno,
Vou deslizando no mar
E a brancura da lua,
Nas águas flutua,
Numa beleza sem par.

De longe parece ouvir-se uma prece,
No vento, nas ondas, na espuma quem em véu
Emoldura o caminho que passa o barquinho,
Seguindo as estrelas que o guiam do céu

Mas em dado momento, transforma-se o vento
Cessa da lua o clarão
E o mar tão bravio é um desafio
Ao barco sem direção

Com voz de lamento, do meu pensamento
Orei ao meu mestre, com fé sem igual
E voltou a bonança, vitória se alcança
Olhando pra Cristo, o eterno fanal.


    Da brincadeira com barquinho a ser o próprio barquinho na metáfora do poeta, foi um caminho natural. Me vi na canção como o barquinho que às vezes navega num mar tranquilo, às vezes tudo se transforma e vira uma confusão. Mas o que fazem os filhos quando temerosos? Gritam,  Papai, papai. Naquela época eu nem sonhava que um dia eu também teria filhos, e que para eles eu seria uma referência de abrigo e proteção.
    Coisa de criança “com voz de lamento orei ao meu mestre, com fé sem igual...” Fiz isso no carro hoje de manhã. Dirão os ateus com razão: Criança, não cresceu. Verdade.


    Ainda criança, outro poeta fez questão de consolidar em minha mente e coração a metáfora do Ezion/Barquinho. Também trazia expressões ainda hoje incompreensíveis, imagina naquela época para um garotinho. Esse era jovem e bonitão: Ozeias de Paula, com a sua Canção do Nauta:

Que ternura, são calma as ondas do mar...
Meu barquinho, desliza sutil sob o nume solar.

Tal qual aventureiro que vaga no mar aquém
O meu barquinho deslizando vai pois descanso e dulçor
Há no porto além.

Se algum dia feroz temporal açoitar
Prontamente eu sei que Jesus há de vir me amparar.

Entre as ondas levanto os meus olhos pra o céu
E suplico vem cristo Jesus pilotar meu batel.


    Dizem que homens não choram, mas meninos choram... estou chorando. Choro sempre. Chorando porque no meu barquinho está meu Pai, a me conduzir, guiar e amparar... Feliz Dia das Crianças!