domingo, 30 de dezembro de 2012

2013...Ano Novo... Vida Intensa e paixões


  Puxa... amanhã é o último dia do ano... foi um ano intenso, isto é, vivido intensamente. Intenso nas atividades, intenso nas exigências, intenso nos desafios, intenso nos medos, nos enfrentamentos...
   Aprendi que a vida precisa ser vivida de forma intensa. Vidinha mais ou menos, calma e serena, sem muita adrenalina, sem ter nada pra contar... pra que? A vida precisa ser vivida intensamente, e uma vida intensa quer dizer uma vida vivida apaixonadamente. Primeiro é preciso paixão pela vida, paixão que um poeta dizia que é “sorvida aos goles”, como uma boa bebida. Estar vivo neste final de 2012, aguardando 2013 é motivo de celebração!

    Mas as coisas não aconteceram do jeito que eu pensei... a tão sonhada oportunidade profissional não surgiu como prevista... ainda não consegui entrar no curso desejado na universidade... o coração ainda está confuso e “só”... as turbulências domésticas continuam rondando o cotidiano e tirando o sossego... Enfim! Celebra-se assim mesmo?

    Celebra, sim! Celebra o dom da vida, celebra a esperança que se renova a cada amanhecer, celebra o calor do sol que aquece o rosto... celebra o Criador!
    É preciso estar apaixonado por uma causa... a paixão alimenta a adrenalina, e empurra você para realizar muito mais!!!!! Edward Gibbon foi um historiador inglês do século XVIII, que quando foi à Roma e viu as ruínas do Forum Romano apaixonou-se por uma ideia, uma causa... relatar o Declínio e Queda do Império Romano. Viveu em função dessa paixão e deixou uma obra que ainda hoje continua tendo o seu valor... um livro que tem a marca da paixão.
   A gente se apaixona por um saber, por um conhecimento, que se mostra e se esconde...
   Minha esposa se apaixonou pela psicanálise lacaniana... não se mede tempo e recursos por uma paixão... enfrenta-se todo o tipo de obstáculo... e já dizia Fernando Pessoa que “tudo vale a pena se a alma não é pequena...” Ela sabe muito melhor do que eu falar sobre essas coisas.... amor, paixão.
    É preciso estar apaixonado pelas pessoas... pelos familiares, pelos filhos, pela esposa, pelo marido, pelos amigos.  Gosto de ficar observando o vaivém das pessoas nos aeroportos e rodoviárias. O fim do ano é a época de maior movimento nestes lugares. E as viagens não são de negócios...  Viaja-se para ver [e rever] pessoas amadas, viaja-se pelo prazer de estar com o outro. Não importa se vamos gastar pouco ou muito... isso não interessa para a paixão.

    O Cristianismo traz dois grandes exemplos de homens apaixonados. Homens em cuja história está condensada a paixão pela vida, por uma causa, e pelas pessoas. Estou falando em primeiro lugar de Jesus. Nem precisa falar muito, porque está nas canções, nos filmes, nos livros... A Paixão de Cristo. Uma vida curta mas intensa.  Ele disse que veio nos trazer vida, e vida com abundância. Ele era um embaixador do Reino do Céu, e esta era a causa que lhe movia. E ele era apaixonado pelas pessoas.  Lembro de uma música antiga que dizia: Marcou a história, transformou corações... perdoou inimigos e salvou multidões... Morreu numa cruz por essa paixão!

   Outro expoente do Cristianismo que não pode ficar de fora quando se fala em paixão chama-se Paulo.  Suas palavras demonstram a paixão que o motiva: Ai de mim, se não anunciar o evangelho...  De boa vontade me gastarei e me deixarei gastar... o que nos motiva é o amor de Cristo (II Co 5.14)...
 

    Pessoas que são movidas por paixões marcam sua geração!!! Vivem intensamente... como Jesus, como Paulo.  Como será 2013? Mais 12 meses de vida na nossa história, que passarão voando, e daqui a pouco vamos comentar sobre o ano que passou tão rápido?
   Não!  Faça cada momento valer a pena. Que seja marcante pra você, que seja marcante para os outros... Um 2013 intenso, e cheio de paixão pra você... Paixão pela vida, paixão por uma causa, paixão pelo Reino e pelo Senhor do Reino, paixão pelos outros, sejam estes namorados, cônjuges, pais, irmãos ou amigos. Vai ser um ano inesquecível!!! Não apenas pelo que você está esperando do ano, mas pelo que você está disposto a oferecer!!!
    

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O Menino-Deus: Oportunidade de Adoração para Cultos e Incultos

Como cristãos que somos, deve estar claro pra nós que Natal é muito mais do que o ápice do consumo anual... é mais do que ir aos restaurantes para confraternizações e comprar e ganhar presentes, até porque alguns de nós não usufruímos de nenhuma dessas alternativas.  Um dia destes estava num shopping (para compras natalinas) e ouvi alguém tocando uma música numa loja, era mais ou menos uma oração ao Papai Noel:
"Papai Noel   
Traga um presente pra mim
Lá do céu..."
Era uma súplica a uma divindade gordinha e rosada, que faz a alegria da criançada chamada Papai Noel. Pensei  na teologia de muitos para os quais, Deus é uma espécie de Papai Noel onipresente.
É verdade que os magos caldeus trouxeram presentes... mas  seus  presentes faziam parte da  formalidade exigida pelo momento. O que mais nos intriga quanto a esses homens é o  seu caminho, do Oriente para a Judéia. Foi seu desprendimento em vir da Mesopotâmia, atravessando desertos e perigos para adorar o Rei dos Judeus. Fico pensando no que estamos dispostos a renunciar para adorar o Rei...

Não podemos esquecer dos pastores... não há registros de que trouxeram presentes... este protocolo era desconhecido para homens do campo, não acostumados às formalidades palacianas (ainda que o Rei estivesse numa estrebaria).  Mas foram à Belém...

Em Belém encontramos cultos e incultos reunidos em torno do Menino-Deus:
 Os  magos caldeus, cultos, esclarecidos, entendidos foram atraídos  por um sinal no céu, que as análises astronômicas, a sabedoria milenar e o seu saber científico indicavam tratar-se de algo especial... Foram então em busca de adorar ao ser  percebido através do seu conhecimento... guiados pela estrela...

Os pastores também estavam lá, como dissemos homens simples, não afeitos a leitura das mensagens da natureza, nem ao saber livresco.  Mas homens atentos ao sobrenatural. E de repente viram um coral de anjos no céu anunciando o nascimento do Salvador, e enviando-lhes a Belém.  Claro que se isso tivesse acontecido aos magos caldeus eles iriam analisar o acontecido e chegar à conclusão que estavam tendo um acesso paranoico ou um surto psicótico. Mas não para os pastores, para os quais o sobrenatural não estava descartado, o sobrenatural era manifestação divina que toca o homem. Foram então até Belém... atendendo ao chamado de um coral de anjos!

Eis o mistério do Natal. Homens cultos e incultos adorando ao mistério do Deus-Encarnado. Uns guiados por uma criteriosa análise racional, da trajetória de um astro celeste... outros guiados por uma visão de anjos. Ambos se dispuseram à adoração.  Cada um por sua vez se curvou diante da manjedoura...
Natal é isso. É atendermos ao chamado divino, que nos vem pelas mais diversas formas, e não sermos incrédulos... façamos nosso caminho em busca do Rei nascido, às vezes longo e penoso como o dos magos (para os ricos “no conhecimento”, é sempre uma trajetória complicada)... mas tão produtivo quanto o dos pastores.  E juntos, cultos e incultos nos prostremos diante do Rei que veio nos reconciliar com o Pai!!!
Feliz Natal.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O teu Deus será o meu Deus...


“Não me instes para que te abandone, e deixe de seguir-te; porque aonde quer que tu fores irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo será o meu povo, o teu Deus será o meu Deus...”  Rute 1:16


     A decisão de Rute em ficar com Noemi, reveste-se de um mistério e indagações que merecem investigação por parte do leitor... Por que uma moabita deixaria sua pátria, seus familiares e seguiria a mãe de seu marido morto, para uma terra desconhecida?
    Em sua decisão em seguir sua sogra, Rute afirma: “o teu povo será o meu povo, o teu Deus será o meu Deus...”
   Rute não conhece o povo de Noemi, nunca foi na terra para onde Noemi ia... Seria então tudo que envolvia Noemi uma total incógnita? Não. Na realidade além da própria Noemi ela conhecia algo mais... e quando ela afirma: o teu Deus é o meu Deus... podemos com certeza entender que ela conhecia esse Deus! Ela demonstra que conhece o Deus de Noemi!
    Ao entendermos que Rute conhecia o Deus de Noemi estamos diante de uma realidade muito forte. Em primeiro lugar estamos falando de um Deus que é relevante na vida da pessoa. Ele não é um mero acessório, não é uma crença ou uma afirmação teórica. Este Deus faz parte da vida e da história de Noemi.
     Era um tempo em que servir e temer a Deus fazia parte do cotidiano das pessoas. Quando indagaram a Jonas quem ele era, ele respondeu: Eu sou hebreu, e temo ao Deus do céu! A relação com Deus fazia parte da identidade do homem.
    Era um tempo no qual a divindade não estava confinada aos “gaps” das explicações científicas, ou aos tratados teológicos que admitem que Feuerbach estava certo, ao afirmar que a divindade é uma projeção do desejo humano...
     Mas é preciso reconhecermos que a época de Noemi em Moabe não foi um período de muita prosperidade ou muita vitória, como falariam os triunfalistas de plantão. Foi uma época de vacas magérrimas.  Uma família longe de casa, fugindo da fome, deixou bens e propriedades na sua terra natal, e foi de mãos abanando para um outro país... Imagine uma família de retirantes nordestinos fugindo da seca (fato bem provável, hoje), cruzando a fronteira do sul penetrando em território uruguaio ou argentino... sem eira nem beira...
     Conseguem se instalar no novo país, aculturam-se, os filhos casam com moças do lugar. Mas a aculturação é parcial... Não abandonam o seu Deus. E as noras moabitas testemunham a fé num Deus invisível, que se mantem viva em  meio a tantas adversidades.
    O pior ainda está por vir... Talvez uma peste, ou uma epidemia dizimou os homens da família. Morreram o marido de Noemi e seus dois filhos, deixando três mulheres viúvas, sendo uma idosa e duas jovens.

    Seria motivo suficiente para o desespero, para o abandono da fé nesse Deus que não poupou seus filhos, que fazia pesar sobre uma velha e sofrida mulher a sua mão...  E nesse momento é preciso registrar que não havia vitória à vista... não havia esperança...
    Mas Deus fazia parte da vida de Noemi... E não apenas quando tudo estava bem, e a alegria invadia o coração e a casa... Ou apenas quando a enfermidade exigia que se fizesse orações e súplicas a um Ser maior que pudesse socorrer o moribundo. Deus fazia parte da vida daquela mulher mesmo quando o marido e os filhos foram enterrados... mesmo depois que a última pá de areia cobriu o corpo inanimado dos entes queridos... quando não havia mais nada a fazer, a não ser chorar e lamentar. Quando todas as lágrimas estavam sendo derramadas... quando a palavra de consolo do outro parece vazia e sem qualquer sentido. Deus continuava sendo relevante para a vida daquela mulher, ainda que fosse para ela se indignar com ele e dizer: “A mão do Senhor voltou-se contra mim...” (Rt 1.13)
     Rute não entende o que está acontecendo. Por que tanto sofrimento sobre uma pobre mulher? Mas o que mais lhe chama a atenção é essa confiança nesse Deus que continua viva, forte, inabalável! Ela sente desejo de servir a esse Deus, de amar esse Deus, de tê-lo também como Senhor de sua vida... O teu Deus, será o meu Deus!

    Que Deus é esse que temos? E que relevância ele tem em nossas vidas para que as pessoas desejem servi-lo, amá-lo, como nós o amamos?
    Ele continua sendo relevante para nós mesmo quando não há sinalizações de grandes bênçãos? Ele continua sendo nosso Deus mesmo quando não entendemos o que ele está fazendo conosco? Se respondermos positivamente outros desejarão ter o nosso Deus, e dirão como Rute: O teu Deus será o meu Deus!

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O que os olhos não veem o coração não sente!

   Voltei hoje de uma rápida viagem a Recife, onde fui dar um abraço nos meus pais (de dia dos Pais [no meu pai], e de Aniversário [na minha mãe])... O avião sobrevoou a cidade, foi até a zona rural da Caucaia depois aprumou para o Pinto Martins... Voltei pra casa.
    A ida a Recife também fala de um voltar pra casa. Nas palavras da canção de Alceu Valença: Voltei Recife, foi a saudade que me trouxe pelo braço...  Me dei conta que estou fora da minha cidade há 11 anos.  Volto pela saudade, da cidade, das pessoas... da minha história, de cada momento vivido ali.
   Às vezes  mergulho no trabalho e deixo a saudade esquecida...  Mas agora, revendo tudo, andando pelas ruas da cidade relembro da máxima: O que os olhos não veem o coração não sente.  Olhar pra cidade, as pontes, as pessoas... é sentir de novo, a dor da saudade, e a certeza  de que meu Recife não está no meu passado, está em cada momento do  meu presente!
   Abracei minha mãe, meu pai, meus irmãos, minhas tias queridas (tia Ruth, tia Moisa, Tia Madalena), meu sobrinho Pedrinho, que eu não estou vendo crescer...
   Na televisão assisto entrevistas com meus colegas de Colégio da Polícia que hoje são comandantes de unidades na Polícia Militar e no Corpo de Bombeiros. Recebo um panfleto da campanha eleitoral da cidade que anuncia que Geraldo Júlio que cursou Administração comigo na Faculdade está candidato a Prefeito, apoiado pelo Governador.
   Fui orar na igreja que participei há mais de 18 anos.  Depois subi sozinho a Cidade Alta de Olinda. Andei nas ruas da cidade velha como costumava fazer viajando nas cidades do mundo... Londres, York, Roma, Jerusalém.  Com os olhos curiosos vendo cada coisa como se fosse a primeira vez, com o olfato sentindo cada cheiro..
     Passo pelos velhos casarões... pelas casinhas espremidas entre os sobrados...  percebe-se as definições da pirâmide social nos casarões com eira, beira e tribeira... enquanto nas casas humildes não se tem  “eira nem beira”...
    Subo a Ladeira da Misericórdia... lá de cima a paisagem é soberba, fazendo valer a pena cada esforço da subida.  Lindo... O Recife visto do Alto da Sé, emoldurado pelo casario antigo de Olinda. Tantas vezes já vi essa paisagem... mas a vi novamente como se fosse a primeira vez! Para me deixar levar pelo encanto  do momento. Entardecia...
Depois de anos voltei ao Seminário que frequentei durante toda a década de 90, primeiro como estudante depois como professor.  Conversei com o velho mestre Thomas Fodor, e alguns outros que eram remanescentes do meu tempo.  Tem uma pergunta que sempre surge: E aí, quando volta?
    Tomo o avião no Aeroporto dos Guararapes, com destino a Fortaleza.  Minha esposa veio me buscar.  Voltei. Voltei pra ficar, pois aqui é o meu lugar!
 

domingo, 15 de julho de 2012

Uma cidade chamada Jerusalém

   Na árida paisagem da Judéia, aninhada nas montanhas do Planalto Central de Israel, encontramos a milenar cidade de Jerusalém.  Nem sempre ela foi conhecida por esse nome. Chamava-se Jebus (I Cr 11.4), e os seus habitantes eram os jebuseus. Quando Josué empreendeu a conquista da terra de Canaã muitas cidades ficaram por ser conquistadas (Jos 13.1), entre as quais Jebus.
   Quando Davi foi coroado rei sobre todo o Israel, sentiu necessidade de ter uma capital que fosse geograficamente central, e também segura sob o ponto de vista militar. Uma cidade lhe vinha à mente, por sua localização, sua dificuldade de acesso, que lhe assegurava o título de Fortaleza de Sião (II Sm 5.7): Jebus, Jerusalém.
   Pôs então, no seu coração o desejo de conquistá-la. Escolheu-a para ser sua capital, antes mesmo de conquistá-la. Mas a cidade era soberba, orgulhosa, ciente de suas defesas naturais, que faziam com que suas muralhas estivessem sobre abismos montanhosos. Quem se atreveria a atacá-la? E  mesmo se a atacasse com certeza não lograria êxito em conquistá-la. Tal era sua autoconfiança que se dizia: “Davi, não entrarás aqui; os cegos e aleijados te impedirão...” (II Sm 5.6). Isto é, apenas cegos e aleijados eram necessários para defender a cidade. Em termos de força bélica nada significavam. Em outras palavras, a cidade sequer necessitaria de alguém que a defendesse. De forma alguma Davi entraria lá.
   Quando Davi ofereceu o posto de comandante do exército àquele que conseguisse tomá-la (I Cr 11.6), seu sobrinho Joabe conseguiu conduzir as tropas com êxito e conquistar a cidade, possivelmente pelos túneis que abasteciam de água a cidade (II Sm 5.8). De repente a cidade orgulhosa e cheia de si, que seria defendida apenas por cegos e aleijados, é tomada por Davi.
    Mas é importante registrarmos que, a conquista de Jerusalém não visava apenas um fim político ou militar. Mas, enfim qual o propósito de Davi em conquistar a cidade? Tão logo a cidade é conquistada e o reino de Davi é confirmado sobre Israel, uma coisa é feita, que deixa claro pra nós qual o propósito da conquista da cidade:
    Davi manda trazer a arca de Deus... a arca não era apenas um utensílio, um objeto especial... era a arca de Deus, sobre a qual se invoca o Nome, o nome do Senhor dos Exércitos, entronizado sobre os querubins (II Sm 6.2). A presença da arca em Jerusalém transformava a cidade em habitação de Deus. Esse era o propósito da conquista de Jerusalém, transformar uma fortaleza jebuséia em lugar da habitação de Deus.
     Mas um lugar de habitação de Deus é consequentemente um lugar de adoração. E Davi, convocou Asafe e seus irmãos para ministrarem louvores ao Senhor (I Cr 16.7). Jerusalém tornava-se assim num lugar de adoração ao Senhor dos Exércitos!
Naquela época Israel ainda cultuava a Deus num tabernáculo, uma tenda, uma estrutura transitória, desmontável que não tinha local fixo. Davi então propõe em seu coração a construção de um templo, um lugar de adoração definitivo, não transitório, permanente.
    Mas construir um templo exige direcionamento de recursos, exige esforço, exige disposição, exige comprometimento. E embora não tenha sido responsável por erguê-lo, Davi preparou grande parte dos recursos para que tal empreendimento se tornasse possível (I Cr 22.14-16). Mas tudo isso valia a pena, em se tratando da construção de um lugar definitivo de adoração.
    Jerusalém não era mais a fortaleza de Jebus, era agora habitação de Deus, lugar de adoração, em breve sediaria um lugar definitivo de adoração. Mas uma cidade assim sofreria algum tipo de dificuldade? Não seria totalmente isenta de males? Deus não a tornaria livre de toda possibilidade de sofrimento?
   Não, mesmo sendo habitação de Deus, lugar de adoração, Jerusalém foi uma cidade afrontada, assediada. Das diversas vezes em que foi cercada, combatida, afrontada, desafiada, uma delas vale a pena analisarmos com mais cuidado:
    Era na época do Rei Ezequias... os assírios eram a grande ameaça de todos os povos do Oriente. Formaram o primeiro grande império globalizado. Sua fama de agressividade e crueldade fazia tremer nações inteiras. Seus reis eram famosos como os reis caçadores de leões. Os baixo-relevo das paredes dos palácios de Nínive contavam a história de conquista e poder dos assírios (hoje se acham expostos no Museu Britânico, em Londres).
    Os assírios tomaram o reino-irmão de Israel, cuja capital Samaria caiu sob o poder dos exércitos do Rei Senaqueribe. Em sua política os assírios costumavam destruir a cultura dos povos subjugados, misturando as etnias, trazendo gente de outros lugares para habitar as cidades israelitas (II Rs 17.24).  Quando as crenças não eram destruídas passavam por um processo de sincretismo religioso, assim os samaritanos tornaram-se pessoas que adoravam ao Senhor, mas também cultuavam outros deuses (II Rs 17.33). Agora os assírios se aproximavam de Judá, e não apenas isso, já haviam atacado algumas cidades e levado seus habitantes como cativos, como foi o caso de Laquis (II Rs 18.13).
    Diante da ameaça assíria, Ezequias toma três providências, que vão se mostrar acertadas:
   1) Tapou as fontes das águas que ficavam fora da cidade, privando o inimigo de ser saciado com as águas de Jerusalém (II Cr 32.3-4);
  2) Fortificou o muro, reconstruindo o que estava demolido e levantando novos muros e torres (II Cr 32.5);
  3) Desafiou o povo a confiar no Senhor (II Cr 32.6-8).
     O Rei da Assíria encaminhou um embaixador para negociar a rendição de Jerusalém, chamava-se Rabsaqué. Sua estratégia também consistia em três ações:
    1) Ameaças e amedrontamento: “Que confiança é essa que tens? Em quem tens confiado para te revoltares contra mim?” (II Rs 18.19-21);
   2) Falsas promessas: “Fazei paz comigo e vinde a mim. Assim cada um comerá da sua vide e da sua figueira e beberá a água da sua cisterna; até que eu venha e vos leve para uma terra semelhante à vossa, terra de trigo e de vinho, terra de pão e de mel; para que vivais e não morrais...” (II Rs 18.31-32);
    3) Profecia mentirosa: “Por acaso eu teria vindo atacar e destruir este lugar sem o Senhor? Foi o Senhor que me ordenou: Ataca e destrói esta terra.” (II Rs 18.25)
   Diante da estratégia inimiga, após ter feito sua parte, Ezequias orienta o povo a ficar em silêncio, não responder nada (II Rs 18.36), e orar ao Senhor (II Rs 19.1-19), apresentando-lhe as palavra de afronta ao Senhor, o Deus vivo.
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Jerusalém, não está no passado! Não é uma história antiga. Jerusalém é você, caro leitor temente a Deus!
Você não é fruto do acaso: O Senhor te escolheu, te conquistou, apesar de seu orgulho, de sua autosuficiência. Mas ele te escolheu para que fosses sua habitação, para que se tornasse em lugar de adoração. E este lugar não pode ser passageiro, temporário. É preciso construir em sua vida um lugar definitivo de adoração ao Senhor, para isso é preciso direcionar recursos, comprometimento, e esforços, pois Ele quer um lugar definitivo em sua vida. Chega de andar de um lugar para o outro, buscando Deus aqui ou ali. Construa um lugar permanente de adoração, ainda que isso lhe custe esforço.
Não é porque somos habitação e lugar de adoração de Deus, que estamos isentos de todas as dificuldades. Os nossos problemas não acabaram. Não temos uma história tabajara, nem uma relação tabajara com a divindade. Apesar de tudo, somos afrontados, desafiados, atacados... O que fazer então? Aprendamos com o Rei Ezequias: Tapemos as fontes que alimentam o inimigo, fortifiquemos os muros e confiemos no Senhor!
O inimigo virá com suas estratégias, ameaçando, fazendo falsas promessas e até mesmo com profecias mentirosas. Não discutiremos, ficaremos em silêncio, em oração, apresentando ao Senhor tudo, pois a afronta não é contra nós, não é contra Jerusalém, é contra o Deus vivo. O Senhor concede vitória a Jerusalém, para que todos saibam que só Ele é Deus!!!
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Gostaria de finalizar este post com este vídeo que traz uma música inesquecível: JERUSALÉM....

sábado, 9 de junho de 2012

O Adorador

Estamos vivendo um momento especial no mundo evangélico, aliás, por que não dizer cristão? Um grande movimento adoracionista levanta-se de todos os lados. Dos padres cantores ao gospel pentecostal, todos estão se dando o título de “Adoradores”. E as adorações vão desde as manifestações extravagantes originadas da Bênção de Toronto (tomadas lugar na Igreja Comunhão da Videira do Aeroporto de Toronto, Canadá) , onde após a ministração da palavra, os obreiros oram com imposição de mãos pelas pessoas, e a maioria "cai" para trás, e são aparadas imediatamente pelos "apanhadores". Então as pessoas recebem a unção do riso, e outras manifestações do gênero.
   Outras manifestações surgem um pouco mais extravagantes já classificadas como exóticas, tais como a “unção do leão”... não vou mais além, mas se alguém pesquisar um pouco mais vai ver coisas no mínimo, exdrúxulas, inacreditáveis.
   Enfim, todos estão no grupo de Adoradores. Me preocupa ainda mais os adoradores que estão na mídia, cujos trabalhos vendem milhares de cópias. Tornam-se referência para milhões de jovens cristãos neste país. Muitos tornaram-se celebridades. Vivem hoje para o seu trabalho, a divulgação de sua obra, o lançamento de novos produtos. Fiquei chocado um dia desses quando entrei no site de uma “adoradora” de grande sucesso no momento. Um hot site levava para sua loja virtual... Onde canecas, camisas, mouse-pad são ofertados, ilustrados com trechos dos “louvores”. Fiquei pensando onde entra a adoração na venda daquela caneca...
    São os adoradores da hora... comunidades evangélicas pagam a peso de ouro sua participação nos eventos das igrejas, e atraem milhares de pessoas. E estes adoradores vão forjando novos adoradores, à sua imagem e semelhança. Todos sonhando com sucesso... muito sucesso. Se possível milhões de CDs vendidos, discos de ouro, platina... e tantos metais preciosos quanto houver...
    Quando pensei sobre um adorador nas Escrituras, só um homem me veio à mente: Não foi Davi, com sua harpa, cajado e coroa... não foi Asafe com seus instrumentos... foi um homem solitário, sem um staff, sem instrumentos elaborados... mas um homem seguido por uma grande multidão. Como diriam nossos jovens “uma galera” enorme foi atrás dele, em determinado momento sua mensagem estava “bombando”...
 
               JOÃO BATISTA !!!
    Um adorador tem a consciência de quem ele NÃO É:
    Embora estivesse ali para dar testemunho da luz, João NÃO ERA A LUZ (Jo 1.7-8). Quando se fala muito de algo é perigoso começar a se confundir com ele. 
    Por mais que as pessoas insistissem que ele deveria ser uma grande figura: Talvez o Messias, ou Elias, ou o Profeta (que equivaleria ao Messias novamente), ele sabia que não era nada disso (Jo 1.20-22).
     Por mais que as pessoas insistam na sua importância, na sua capacidade de arregimentar multidões, de fazer estremecer as pessoas...
   UM ADORADOR TEM A CONSCIÊNCIA DE QUE ELE É APENAS:
    A VOZ... (Jo 1.23) A voz que é usada pelo Senhor, para a proclamação da verdade, para testemunhar da luz, para louvor, para glorificação... Nada estava centrado em João, ele era apenas a Voz.
     UM ADORADOR SABE O SEU LUGAR NO MUNDO ESPIRITUAL:
     Por mais intimidade que ele tenha com Jesus, no caso de João, eles eram primos, o Adorador reconhece que: “Não é digno de desamarrar as correias das sandálias... do seu Senhor.” (Jo 1.27)
    E é isto que o faz um adorador. O reconhecimento do seu papel, da sua insignificância, da sua pequenez. De que ele existe para promover o engrandecimento do seu Senhor, portanto pode dizer constantemente: “É necessário que Ele cresça, e eu diminua” (Jo 3.30).
    Um Adorador ouve as insinuações sobre si, e seu ministério e não se incomoda, porque sabe exatamente porque e para que está ali:
    Por que batizas se não és uma figura importante (nem o Cristo, nem Elias, nem o profeta...)? João não estava ali como celebridade, estava apenas como A VOZ, e esta era a sua missão: abrir o caminho do Senhor e batizar com água (Jo 1.23-26).
Um adorador existe para apontar a Cristo e glorificá-lo através de sua vida e de sua Voz
     A tarefa de João, pregar e batizar não era um fim em si mesma. Muitas vezes achamos que nossas atividades religiosas e eclesiásticas tem um fim em si mesma. E então passamos a atribuir grande importância a elas, e passamos a cuidar que nada mude em nossas rotinas religiosas. João sabia que sua tarefa apontava para Cristo, era apenas uma ponte. Os discípulos que o seguiam não eram seus, as pessoas que ele batizava e o seguiam também  não tinham a finalidade de se fechar em torno de si mesmo, como uma comunidade religiosa particular.
    Quando Jesus surge, João aponta para o Mestre e diz: Este é o Cordeiro de Deus! E os discípulos o abandonam e vão seguir Jesus (Jo 1.35-37). João não fica triste, nem ressentido... afinal ele era apenas a Voz... que já cumprira o seu papel.
       Um adorador tem consciência de que ele não é a atração: Ele é o Amigo do Noivo
     As pessoas viram João perdendo Ibope, as multidões o trocando por Jesus, e imediatamente foram conversar com ele. Talvez ele precisasse tomar providências para rever seus discípulos, para retornar sua audiência (Jo 3.26-29).
      João tinha consciência de que ele era apenas a Voz. Na festa, não fazia o papel do noivo, apenas do Amigo do Noivo. Não era a atração. Era amigo da atração. O amigo do noivo fica feliz ao ouvir a voz do noivo, e participa da festa, não como atração da mesma, pois só o noivo o é... Diante do noivo, sua alegria é completa... O adorador é apenas a Voz, mas se sente realizado no papel de amigo do Noivo!!!!     
     Agora estou preocupado... Não vejo muitas pessoas com esse perfil. São adoradores ou imitações?
      E você? Pode dizer como João Batista: Importa que ele cresça e eu diminua?
    

domingo, 20 de maio de 2012

Uma comparação desigual: "Porventura não são Abana e Farpar, rios de Damasco, melhores do que todas as águas de Israel?" Parte 2

   Pensar que em Damasco, os rios Abana e Farpar corriam límpidos e brilhantes, semeando fertilidade por onde passavam e embelezando a paisagem, e a ordem do profeta era mergulhar sete vezes no Jordão...
    A comparação foi inevitável: “Não são porventura Abana e Farpar, rios de Damasco, melhores do que todas as águas de Israel?”.
    Como mergulhar naquelas águas barrentas quando os cursos dágua da Síria eram muito mais límpidos e translúcidos?
    A objeção do general Naamã é perfeita: Inegavelmente os rios de Damasco eram superiores ao Jordão, em beleza, em qualidade da água, em limpeza aparente... Mas o milagre não estava lá, estava nas águas barrentas do Jordão.
    Alguém, de repente, resolve lembrar ao general que seu objetivo ali não era tomar um banho no Jordão para refrescar-se, se assim o fosse, melhor seria fazê-lo em Damasco. Ele estava ali não como o general, ele estava ali como o leproso precisando de tratamento, de cura.
    Todos nós somos encaminhados para o Jordão, para lá sermos tratados. A Igreja, a comunidade de cristãos a qual pertencemos não se parece com Abana e Farpar, assemelha-se ao Rio Jordão.
    Inevitavelmente acontecem comparações: A comunidade científica a qual pertenço é mais culta, mais esclarecida... minha equipe de trabalho é mais coesa, mais entrosada, mais comprometida... meus amigos de discussão artística são mais sensíveis, mais abertos ao belo, mais criativos... meu grupo de aventuras e de caminhada e trilhas é mais ousado, mais disposto a correr riscos... meu grupo de discussão filosófica é mais racional, mais rigoroso... meus colegas de faculdade são mais despojados, mais abertos às novidades...
    Ninguém em sã consciência diria que Naamã estava errado. Sua objeção tinha rigor lógico, era óbvio, incontestável. Os rios Abana e Farpar eram melhores que as águas barrentas do Jordão.
  Os grupos que frequentamos, conhecemos, interagimos podem sim, ser equiparados ao Abana e Farpar... podem ser em qualidade, melhores do que o nosso Jordão!
   A Igreja não é uma sociedade filosófica, ou científica, ou de esportes de aventura, ou de conhecimento... Igreja é um lugar para onde são encaminhados os leprosos, os doentes, os sujos, os carentes de tratamento. Não é um lugar de encontro de generais, ou de grandes expoentes da sociedade. É um lugar onde os generais são simplesmente leprosos, os professores transformam-se em pessoas carentes de conhecimento, os médicos viram enfermos em convalescença... todos com suas sujeiras, suas mazelas... por isso as águas do Jordão são tão barrentas... é a sujeira de cada um...
    ... e quem de nós não temos as nossas sujeiras? Como ter nojo de mergulhar num lugar onde as sujeiras estão em efervescência saindo da pele das pessoas, se a água está suja também por nosso mal, o sujo que existia em nós?
    O Abana e Farpar são mais limpos, mais aprazíveis, mas neles os leprosos continuam leprosos. É no Jordão onde a limpeza acontece.
    Mas como chegar ao Jordão? É preciso descer... (II Rs 5.14). Samaria ficava  situada a meio caminho do Jordão ao Grande Mar, ao oriente da planície de Sarom, no alto de um monte oblongo, a mais de 100 metros acima do nível do mar. Para chegar ao Jordão era necessário enfrentar um desnível de mais de 300 metros, afinal, na linha de Samaria o rio corria em seu vale a mais de 200 metros abaixo do nível do mar.
    A descida para o Jordão também tinha um significado... durante a descida Naamã vai se despindo de sua autoimagem orgulhosa de General vencedor, para assumir a de um leproso carente. É assim também conosco, descemos de nossas posições sociais e nos vemos apenas como pecadores perdidos necessitando da salvação de Deus. Corremos para mergulhar no Jordão, onde está a limpeza, a cura, a pureza milagrosa da justiça de Cristo.
    Não foi à toda que séculos depois, João Batista encontrou-se no mesmo Jordão batizando as pessoas que se arrependiam de seus pecados. Outro tipo de lepra, mas sempre a enfermidade que precisa de cura... Estavam chegando saduceus e fariseus (Mt 3.7) e vinham, como o general Naamã confiantes pelo lugar que ocupavam na sociedade, esquecidos de sua lepra... Novamente alguém tem que lhes lembrar que eles não estão ali como figuras de destaque... São raça de víboras fugindo da ira vindoura, desafiados a produzir frutos dignos de arrependimento (Mt 3.7-8)...
    Embora outros rios pudessem ser melhores, é no Jordão que as pessoas são batizadas, confessam seus pecados e saem purificadas para uma nova vida (Mt 3.6).
    Deixemos que o general Naamã, os saduceus e os fariseus usufruam das belezas do Abana e Farpar... mas nós, leprosos e raça de víboras em fuga da ira vindoura, desçamos e mergulhemos em humildade no Jordão e alcancemos a salvação de Deus.
   E neste Jordão sejamos todos trabalhados pelo Senhor em nossas mazelas, em nossas fraquezas, em nosso pecado, em nossa maldade!

Uma comparação desigual: “Porventura, não são Abana e Farpar, rios de Damasco, melhores do que todas as águas de Israel?” Parte 1

     É conhecida a história do general sírio Naamã, que vai à Samaria, capital do reino de Israel, em busca de cura para a sua lepra. A pequena escrava israelita lhe trouxera um raio de esperança quando avisou a sua esposa que em Israel havia um profeta que poderia restaurar sua saúde (II Rs 5.1-3).

    Agora ele chegara de Damasco em Samaria, com a carta do seu Rei, Ben-Hadad (Filho de Hadad), direcionada para o Rei de Israel, bem como  muitos presentes e riquezas,  inexplicavelmente o rei israelita leu com terror a carta do monarca sírio, e rasgou seus vestidos. Estranhos estes hebreus, não?                                    
   Ora, o Rei sírio, Ben-Hadad, isto é, Filho de Hadad, o deus sírio das tempestades (chamado pelos hebreus de Rimmon, II Rs 5.18), cujo templo estavam em Damasco, através daquela carta fazia um pedido ao rei de Israel, filho de Yahweh. Ambos os reis fariam uma ponte entre seus respectivos deuses em prol da cura do general sírio. Nada mais comum, se existia algo que poderia ser feito pela divindade, naturalmente o rei, filho do deus iria fazê-lo!

    De repente o rei israelita transtornado fica aliviado ao receber uma notícia, e o general sírio é encaminhado à casa de um profeta.

    Naamã conhecia profetas, era uma atividade comum no mundo da época. Mas os profetas sírios buscavam descobrir o futuro para orientar os reis sobre guerras, alianças, decisões a serem tomadas... Em que um profeta israelita poderia ajudá-lo?

   Ele imaginou então que o profeta iria sair à porta para recebê-lo, na qualidade de um alto emissário do reino sírio, se colocaria de pé, e invocaria o nome do Senhor seu Deus, passaria a mão sobre a sua pele e restauraria a sua lepra (II Rs 5.11).

   Qual não foi sua surpresa quando foi recebido à porta por um servo, um mensageiro, que lhe disse sem rodeios: “Vai e lava-te sete vezes no Jordão, e a tua carne te tornará e ficarás purificado.” (II Rs 5.10)   

 

   Nenhuma honra, nenhuma deferência, nenhuma referência à sua importância, seu cargo... sua eminência. Uma verdadeira humilhação, pouco caso... um absurdo total e pleno.
   Possesso de raiva Naamã esqueceu qual tinha sido o objetivo daquela viagem. Ele não estava ali como comandante do exército sírio para vencer mais uma batalha contra os israelitas. Nem como representante do alto escalão do Governo de Damasco. Ele estava ali como um leproso em busca de cura, um condenado em busca de salvação...
   Mas seu orgulho escondia dele toda essa realidade. Então ele toma consciência de que a ordem é para lavar-se no Rio Jordão! O Rio Jordão... não pode ser, lavar-se sete vezes no Rio Jordão! É demais para o entendimento de um homem!
    
    Claro que o General conhecia o Jordão. Era um curso dágua que se originava do degelo do Monte Hermon, nos recantos fronteiriços do seu país, a Síria, com o Líbano. O nome Jordão significa aquele que desce. E aquele rio não fazia outra coisa a não ser descer. Na fronteira com a Síria, o Jordão atravessa o lago de Hule. Um pouco abaixo do lago de Hule era necessário cruzar o Jordão para penetrar em território sírio. Mais ao sul estava o lago de Genezaré, que já está a 210 metros abaixo do nível marítimo, e 110 km abaixo, estava a foz do Jordão, a 390 metros abaixo do nível do Grande Mar, no Mar Salgado.
    Além de configurar uma forte descida, o Jordão era também um rio de muitos meandros, muita sinuosidade, muitas curvas... a conjunção destas duas características fazia do Jordão uma turbulenta corrente barrenta.
   

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Confissões (Parte 1)

    Ando ausente de postagens por tantos afazeres. Mas acho que em datas marcantes, preciso deixar algum registro. Daqui a algumas horas estarei completando mais um ano de vida... Quarenta anos, para ser mais exato.  Este final de semana estive com meus familiares no casamento do meu primo Ivson Erick, lá no sertão do meu Pernambuco. Minha mãe me abraçou e disse surpresa: Já tenho um filho com 40 anos! É isso aí, mainha... já se vão 39 anos dessa época aí, lembra?
    
     Navegando na internet, descobri surpreso que posso ser classificado como um ex-favelado (ou quem sabe um ex-futuro-favelado).  No site da CUFA,  Central  Única de Favelas, constatei  a existência da Favela do Córrego da Jaqueira, na Linha do Tiro. Nós residimos lá, boa parte da nossa infância, no número 241.
     A qualificação geográfica correspondia à realidade: Córrego. Recorro ao dicionário que esclarece: rego por onde corre água, caminho apertado entre montes...  A periferia do Recife tem muitos córregos, eu me lembro do Córrego do Ouro, Córrego do Botijão...  lá no bairro ainda tínhamos o Córrego das Negras, Córrego Central, Córrego do Curió, Córrego do Tiro... As montanhas invadidas de forma desordenada e urbanizadas à força, tornaram-se Altos.  Entre os Altos ficavam os Córregos.  Nós morávamos embaixo, no Córrego. Atrás de casa uma barreira demarcava as encostas do Alto dos Coqueiros. No final da rua, uma ladeira bastante íngreme (à época não pavimentada)  era o caminho que nos levava à casa dos nossos avós, no Alto do Deodato.
     No “pé da ladeira” existia um chafariz. Naquela época não tinha água encanada para todos. Então se ia buscar água no chafariz público. Nosso chafariz era funcional, não tinha nenhuma arte barroca ou moderna que o adornasse.  Guardávamos água num tonel (para higiene de forma geral) ,e  numa jarra (para consumo). Meu pai foi um dos que batalharam para que fosse instalada a água encanada nas casas de nossa rua.
     Era uma vida difícil, apertada... me lembro quando chovia. Descia água, muita água de todas as encostas e o nosso Córrego transformava-se em rio.  Só saíamos de casa quando a água escoava e recebíamos o nosso córrego de volta.
   Aos três anos fui para a Escola da Tia Lu. Até um dia desses minha mãe ainda guardava os meus cadernos... “a” uma bolinha e uma perninha. No dia em que o filho de Tia Lu, Flávio, teve sarampo, dizem que eu cheguei em casa contando que “ele estava com uma febre... e com a cara cheia de mofo”.
    Se eu fechar os olhos me lembro de todo mundo. Dos ricos da rua, aqueles que tinham carro e alguns muito poucos que tinham linha telefônica, própria ou alugada. Dos meninos da rua... que passavam o dia vagabundando e jogando bola. Dos jogos de bola de gude, das brincadeiras inocentes de “fruta”, “Boca de Forno”... e outras que tomavam lugar na calçada de casa quando anoitecia.  Da vizinha que morava na barreira na rua de trás de nossa casa e tinha 10 filhos. De tio João Batista e Vina, sua mulher. Das músicas de Amado Batista que enchiam o Córrego nos dias de domingo. Do pessoal que frequentava os hospitais psiquiátricos. Daqueles que foram assassinados por envolvimento com droga, roubo...
    Saímos por um tempo de nossa casa, que foi alugada e fomos morar de aluguel, um tempo em Abreu e Lima, e depois em Ouro Preto, Olinda. Nesse período morávamos todos juntos, meus pais, tios e avós. 
   
     Em 1978, obtive uma vaga no Colégio da Polícia Militar de Pernambuco, pouco tempo depois meu irmão também ingressou no Colégio.
   Voltamos para nossa velha casa, agora só nós, desta feita com um irmão mais novo.  Éramos cinco. Nossa casa era de taipa. As portas e janelas eram frágeis, e mais de uma vez fomos roubados à noite, por ladrões que destelhavam a casa ou conseguiam entrar forçando as janelas.
   Meu pai resolveu então construir nossa casa de alvenaria, ainda que para isso tivesse que se endividar muito. Ao longo de dez anos nossa casa foi lentamente... muito lentamente tomando forma. Servi de ajudante de pedreiro, muitas vezes. Peneirava a areia, carregava tijolo.
   Não tínhamos televisão, nem recursos para viajar e conhecer muitos lugares novos. Então eu descobri que se abrisse um livro eu podia viajar, conhecer, explorar... Fui me tornando aos poucos um leitor compulsivo, apaixonado. Este hábito se refletia nos destaques que fui acumulando ao longo dos anos no Colégio, e eu comecei a marcar época entre os meus colegas e professores.
    Nesse tempo aconteceu uma coisa curiosa: O BANDEPE - Banco do Estado de Pernambuco resolveu promover uma semana de aprendizado do mundo bancário, abrindo uma mini-agência no Colégio. Por dois anos seguidos eu fui escolhido para integrar a direção da mini-agência: no primeiro ano como Gerente, e no segundo como Coordenador.  Estas fotos são com a jornalista Lola e o Comandante do Colégio Coronel Ferraz, e a pose de gerente é com o Presidente do Bandepe. 

    No casamento de Ivson pude constatar o que é a passagem do tempo. As marcas do tempo em toda a parte... nas rugas de cada rosto, na flacidez da pele outrora firme, nos cabelos brancos que sobressaem quando não encobertos pela tinta escurecedora, no sobressalto ao se constatar que as crianças transformaram-se em moças e rapazes... na ausência dos avós que nos deixaram para estarem juntos no descanso eterno.  Houve um tempo em que eu coloquei o noivo nos braços e passeei com ele no Zoológico de Recife. Ele era um garotinho lourinho, e eu um jovem cheio de sonhos...
  

quinta-feira, 15 de março de 2012

Sobre subir em árvores, pobreza e choro

    Estou tendo a alegria de participar do 8º Congresso de Teologia Vida Nova. Estive ausente em algumas edições do evento, e senti imensamente. É importante para mim esse tempo...
    Sinto necessidade de, em algum momento, parar de correr na floresta, subir numa árvore e contemplar a imensidão lá de cima... Refletir sobre os caminhos percorridos, visualizar lá de cima os obstáculos que eu hei de enfrentar quando descer da árvore... enxergar que tipo de trilha estou conseguindo abrir no meio da floresta. Será um caminho tortuoso?  Às vezes o caminhante só se preocupa em abrir a trilha, não importa se ela seja tortuosa, cheia de equívocos... subir na árvore ajuda a corrigir algumas coisas. O Congresso é a árvore na qual me proponho a subir de tempos em tempos.
     Dr. Shedd tem ministrado as reflexões nos devocionais, pela manhã e à noite. Aos oitenta e dois anos, o velho missionário, fundador das Edições Vida Nova (que ora comemora seus 50 anos de existência), com sua sabedoria e calma característicos tem trazido aos corações dos congressistas mensagens do coração de Deus.
    O desafio da santidade, a partir das bem-aventuranças tem sido o tema das mensagens. O sermão do monte (Mateus 5) é vivificado e nos incomoda e constrange, em pleno século XXI  (Estive ano passado na Galiléia, e lá de cima do provável monte das bem-aventuradas, contemplei o Lago de Tiberíades, e as praias tão familiares ao Mestre). Alguns detalhes trazidos pela sensibilidade pastoral do Dr. Shedd são tão fortes que não permitem a ninguém ficar alheio à Palavra do Senhor.
   Bem-aventurados os pobres de espírito (Mt 5.3)...  pobre de espírito é alguém capaz de aceitar a avaliação que Deus faz de nós. E qual a avaliação que Deus faz de nós?
    Ele não precisa de nós, ele não depende de nós. Nós não somos indispensáveis para ele. Ele se utiliza de nós por sua misericórdia, ele nos escolhe por sua graça, ele nos alcança por seu amor. Nossa  justiça não passa de trapo de imundícia.  Nós é que necessitamos dele, carecemos dele. Em toda a nossa “importância”, nosso “saber”, nossa “espiritualidade”... somos nada, nossa sabedoria é loucura para Deus. Nosso saber é apenas aflição de espírito. Quando aceitamos essa avaliação feita pelo Senhor de nós mesmos... somos pobres de espírito. Carentes... necessitados...
    Bem-aventurados os que choram (Mt 5.4)...  não é o choro por uma dor, não é o choro de raiva, de indignação, é outro choro. É o choro do pesar pelo pecado, é o choro do coração contrito. São as lágrimas que devem ter escorrido das faces de Davi enquanto escrevia o Salmo 51, e registrava:  ó Deus, tu não desprezarás o coração quebrantado e arrependido” (v. 17).
    É a tristeza decorrente da ação do Espírito Santo, que ao convencer-nos do pecado, nos entristece. Nos entristece por termos transgredido, por termos entristecido nosso Senhor, amigo, Salvador, Pai...  É sobre isso que Paulo fala em II Co 5: “pois a tristeza segundo a vontade de Deus produz o arrependimento que conduz à salvação (v.8-11)”. É a contrição, o quebrantamento... quantos de nós não sabemos mais o que significa o quebrantamento? Talvez hoje outra coisa tenha tomado o lugar da contrição, do pesar, do choro, das lágrimas, da tristeza segundo a vontade de Deus...
      Não estaria a arrogância tomando o lugar do quebrantamento? A arrogância de um Saul, que encontra sempre uma desculpa para o pecado...  É muito mais fácil sermos arrogantes do que contritos...
     Mas nestes dias... em que homens são amantes de si mesmos, gananciosos, arrogantes, presunçosos, blasfemos... (II Tm 3.1-6) A voz do Senhor ecoa novamente, e lá de cima do monte nas longínquas terras da Galiléia nos diz: Bem-aventurados os que choram porque eles serão consolados!