“Não me instes para que te abandone, e deixe de seguir-te;
porque aonde quer que tu fores irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei
eu; o teu povo será o meu povo, o teu Deus será o meu Deus...” Rute 1:16
A decisão de Rute em ficar com Noemi,
reveste-se de um mistério e indagações que merecem investigação por parte do
leitor... Por que uma moabita deixaria sua pátria, seus familiares e seguiria a
mãe de seu marido morto, para uma terra desconhecida?
Em sua decisão em seguir sua sogra, Rute
afirma: “o teu povo será o meu povo, o teu Deus será o meu Deus...”
Rute não conhece o povo de Noemi, nunca foi na terra para onde Noemi ia...
Seria então tudo que envolvia Noemi uma total incógnita? Não. Na realidade além
da própria Noemi ela conhecia algo mais... e quando ela afirma: o teu Deus é o
meu Deus... podemos com certeza entender que ela conhecia esse Deus! Ela
demonstra que conhece o Deus de Noemi!
Ao entendermos que Rute conhecia o Deus de
Noemi estamos diante de uma realidade muito forte. Em primeiro lugar estamos
falando de um Deus que é relevante na vida da pessoa. Ele não é um mero
acessório, não é uma crença ou uma afirmação teórica. Este Deus faz parte da
vida e da história de Noemi.
Era
um tempo em que servir e temer a Deus fazia parte do cotidiano das pessoas.
Quando indagaram a Jonas quem ele era, ele respondeu: Eu sou hebreu, e temo ao
Deus do céu! A relação com Deus fazia parte da identidade do homem.
Era um tempo no qual a divindade não estava
confinada aos “gaps” das explicações científicas, ou aos tratados teológicos
que admitem que Feuerbach estava certo, ao afirmar que a divindade é uma
projeção do desejo humano...
Mas
é preciso reconhecermos que a época de Noemi em Moabe não foi um período de
muita prosperidade ou muita vitória, como falariam os triunfalistas de plantão.
Foi uma época de vacas magérrimas. Uma
família longe de casa, fugindo da fome, deixou bens e propriedades na sua terra
natal, e foi de mãos abanando para um outro país... Imagine uma família de retirantes
nordestinos fugindo da seca (fato bem provável, hoje), cruzando a fronteira do
sul penetrando em território uruguaio ou argentino... sem eira nem beira...
Conseguem se instalar no novo país,
aculturam-se, os filhos casam com moças do lugar. Mas a aculturação é
parcial... Não abandonam o seu Deus. E as noras moabitas testemunham a fé num
Deus invisível, que se mantem viva em
meio a tantas adversidades.
O pior ainda está por vir... Talvez uma
peste, ou uma epidemia dizimou os homens da família. Morreram o marido de Noemi
e seus dois filhos, deixando três mulheres viúvas, sendo uma idosa e duas
jovens.
Seria motivo suficiente para o desespero,
para o abandono da fé nesse Deus que não poupou seus filhos, que fazia pesar
sobre uma velha e sofrida mulher a sua mão...
E nesse momento é preciso registrar que não havia vitória à vista... não
havia esperança...
Mas Deus fazia parte da vida de Noemi... E
não apenas quando tudo estava bem, e a alegria invadia o coração e a casa... Ou
apenas quando a enfermidade exigia que se fizesse orações e súplicas a um Ser
maior que pudesse socorrer o moribundo. Deus fazia parte da vida daquela mulher
mesmo quando o marido e os filhos foram enterrados... mesmo depois que a última
pá de areia cobriu o corpo inanimado dos entes queridos... quando não havia
mais nada a fazer, a não ser chorar e lamentar. Quando todas as lágrimas
estavam sendo derramadas... quando a palavra de consolo do outro parece vazia e
sem qualquer sentido. Deus continuava sendo relevante para a vida daquela
mulher, ainda que fosse para ela se indignar com ele e dizer: “A mão do Senhor
voltou-se contra mim...” (Rt 1.13)
Rute não entende o que está acontecendo. Por
que tanto sofrimento sobre uma pobre mulher? Mas o que mais lhe chama a atenção
é essa confiança nesse Deus que continua viva, forte, inabalável! Ela sente
desejo de servir a esse Deus, de amar esse Deus, de tê-lo também como Senhor de
sua vida... O teu Deus, será o meu Deus!
Que Deus é esse
que temos? E que relevância ele tem em nossas vidas para que as pessoas desejem
servi-lo, amá-lo, como nós o amamos?
Ele continua sendo relevante para nós mesmo
quando não há sinalizações de grandes bênçãos? Ele continua sendo nosso Deus
mesmo quando não entendemos o que ele está fazendo conosco? Se respondermos
positivamente outros desejarão ter o nosso Deus, e dirão como Rute: O teu Deus será
o meu Deus!
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