domingo, 11 de junho de 2017

Pombos: romantismo e convivência, o que a sabedoria hebraica nos ensina

     Época dos namorados, o romantismo está no ar. Comprei um mimo altamente calórico para minha namorada, numa chocolateria famosa da cidade, ganhei um óculos esporte de presente, porque ela não suporta o meu óculos escuro, disse que é de surfista... Fui convidado a falar num jantar de namorados numa de nossas igrejas e me veio ao coração uma reflexão a partir das pombas.
   Bichinho gracioso, tão lindo que é abundantemente citado no livro mais romântico das Escrituras, Cantares de Salomão. Salomão derrama-se em galanteio para sua amada chamando-a “Pomba minha” (Cant 2.14, 5.2, 6.9), além do mais os olhos da sua amada são tão lindos que são comparados aos olhos das pombas (Cant 1.15).
    Casais românticos (e ricos, claro!), vão a Veneza para fazer o seu álbum de noivado ou de casamento. E o que encontram na praça mais famosa da cidade mais romântica do mundo? Pombos, pombos e mais pombos. Assim, pombinhos humanos misturam-se aos pombos nativos na paisagem da Piazza San Marco.
   


     Quando fomos a Veneza, há exatos 10 anos, nossa visão dos pombos era assim. Romântica, idealizada: bichinhos lindos, meigos, fofos...
     Essa visão mudou bastante, quando algumas famílias de pombos resolveram se instalar em nosso telhado. Olha que sujeira fazem! Parece que fazer pose com os pombinhos na Piazza San Marco é muito diferente de conviver com eles em nossa própria casa. A convivência, o cotidiano, o dia a dia muda nossa ideia das coisas.
     Parece que não somente nós, conseguimos perceber isso, os profetas bíblicos também. Os profetas apontam coisas que aparentemente o romântico Salomão parece ignorar (!?)
    Isaías é o profeta que mais cita nossos românticos bichinhos alados. Mas o que percebe Isaías? A beleza das pombas? A graça de seu voo?
    Você já testemunhou o incessante arrulhar das pombas a ecoar no silêncio da noite? “Gru... gru... gru...” É bem essa figura que Isaías usa para o gemido dos aflitos. Ele escreve: ... gemia  como uma pomba chorosa... (38.14) e ... gememos como pombas. Procuramos justiça, e nada! Buscamos livramento, mas está longe (59.11).
    O profeta Isaías traz o gemido queixoso, (e chato!) das pombas. Somente quem divide o espaço com os pombos se incomoda com o seu arrulhar abusado. Naum também faz referência a esse gemido atribulado (e atribulante!) das pombas (Na 2.7).
    Outro profeta a citar as pombas é o profeta Oséias: “Efraim é como uma pomba enganada, sem entendimento” (Os 7.11). A pomba é lembrada como uma ave insensata, facilmente seduzida, lograda, enganada, presa fácil.
    


        Aos pombinhos de plantão, namorados ou noivos, preparem-se para um tempo especial após o casamento: a convivência. O cotidiano, o dia a dia, a convivência, vai além da contemplação apaixonada dos belos olhos do seu pombinho ou da sua pombinha. No dia a dia você descobrirá que seu pombinho querido às vezes age como um pombo insensato. Você se surpreenderá ao descobrir que sua pomba amada reclama e atribula a si própria e a você.
       Será isto motivo para perda do encanto? Dos galanteios românticos?
       Talvez não. Será que Salomão de fato ignorava a insensatez das pombas e seu gemido angustiante? Não nos parece! Salomão não era apenas um romântico incurável e apaixonado pelas mulheres. Ele também era um cientista. Vejamos o que se diz sobre ele:
      “Também falou das árvores, desde o cedro que está no Líbano até ao hissopo que nasce na parede; também falou dos animais, e das aves, e dos répteis e dos peixes” (I Rs 4.33).
       Para um especialista em botânica e zoologia, seria muito estranho ignorar certas características de uma ave que ele tão bem conhecia, pois era abundante em seu país. Então sou forçado a concordar que Salomão era ciente dos gemidos e da insensatez das pombas.
      Mas por que ele olha para sua amada como “Pomba minha” e a galanteia comparando-a com a beleza dos olhos das pombas?
      Salomão nos responde do alto de sua sabedoria. Parte da resposta ele próprio nos dá no livro de Cantares: “O amor é forte como a morte” (Cant 8.6). A outra parte ele nos dá no livro de Provérbios: “O amor cobre todas as transgressões” (Pv 10.12). Essa é uma verdade que Pedro registra em sua epístola: “O amor cobre um grande número de pecados” (I Pe 4.8). Wayne Gruden nos diz: “Onde falta amor cada palavra é vista como suspeita, cada ato é passível de incompreensão e sobram conflitos.”

       Ame sua pombinha, seu pombinho, com suas imperfeições e fragilidades. Quanto mais cedo você descobrir os gemidos e a insensatez, mais rapidamente você vai aprender a arte da convivência, e vai, como Salomão, continuar amando, pois o amor cobre multidão de defeitos.
     Feliz dia dos namorados a todos os pombinhos...