Semana passada estava envolvido na nossa congregação com o Forum Dokimon
para a juventude, com o tema “O Evangelho Puro e Simples”, parafraseando
C.S.Lewis. Foi um tempo proveitoso de aprendizagem para todos nós que estávamos
envolvidos. Não tive tempo de acompanhar o desenrolar das novidades nas redes
sociais. Hoje, buscando me atualizar das
novidades me deparei com a lamentável notícia do cancelamento de um evento na
CPAD que teria participação do Rev. Augustos Nicodemus, juntamente com os desdobramentos
possíveis numa sociedade conectada.
Não pretendo realizar uma crítica
abrangente do episódio, pois gente com muito mais cacife do que eu já o fez,
com muita propriedade. Restou-me duas coisas, que parece que se encontram em
desuso nesses tempos de um evangelicalismo triunfante: Lamentar e Confessar...
O lamento era um recurso que os homens dos tempos bíblicos sempre
lançavam à mão nas épocas de tragédia. Foi assim com Jeremias. Quase podemos
ouvir sua voz de choro em suas Lamentações (Lam 2.11). Em meio a tanta tristeza
decide “trazer à memória aquilo que pode lhe trazer esperança” (Lam 3.21). Gostaria de seguir os passos de
Jeremias, um profeta com o qual tenho uma profunda identificação. Lamento
porque nossas instituições cedem com alguma facilidade às pressões, como o Rei
Saul, o que lhe causou, inclusive a perda do trono (I Sm 13.8-14). Lamento
porque percebemos na igreja evangélica um festival de gente imatura. Por um
lado gente imatura que por ter tido acesso ao conhecimento, a alguma formação,
permitiu que a arrogância tomasse conta de si, ignorando o que Paulo escreveu
aos coríntios: “O conhecimento/ciência (gnosis) incha, mas o amor (ágape)
edifica. (I Co 8.1)”. Por outro lado, gente imatura que por não ter qualquer
conhecimento, não sabe lidar com as situações que surgem.
Meu lamento é maior ainda porque a solução
encontrada tem sido a negação do outro. Pra quem entende, isto também é uma
forma de violência! Parece ser a solução mais simples, embora não cristã para o
impasse. Gente que pode ser ensinada através do exemplo, exortada pela palavra
para viver em amor e não em arrogância, entra em colisão com líderes sem
conhecimento e formação, e o anátema mútuo corre solto. Lamento porque num
nível institucional estamos vivendo a atitude infantil dos discípulos: “Mestre,
vimos um homem que expulsava demônios em teu nome, e nós o proibimos, pois ele
não nos acompanha” (Lc 9.49).
Eu poderia sentir, de repente, um sentimento pós-moderno denominado de
vergonha alheia. E, certamente, juntar-me ao coro das maldições. Nas Escrituras
somos chamados a encarar a culpa de nosso povo como nossa. Gosto do capítulo 9
do profeta Daniel. Daniel não fora um judeu idólatra, não transgredira os
mandamentos do Senhor, mas sua oração de confissão o inclui: “Pecamos e
praticamos o mal, agindo com impiedade e rebeldia, apartando-nos dos teus
preceitos e das tuas normas, não demos ouvidos aos teus servos, os profetas,
que falaram em teu nome... A ti, ó Senhor, pertence a justiça; mas a nós, a
vergonha, como hoje se vê...” (Dan 9. 5-7).
Confessamos que a igreja brasileira não tem se preocupado com a formação
dos seus pastores como deveria fazê-lo. Muitos se encontram totalmente
incapacitados para tão grande e nobre tarefa. Confessamos que não orientamos
nossos jovens com o amor e piedade que deveríamos fazê-lo. Às vezes nossos
seminários são fábricas de Querubins Ungidos, de donos do conhecimento, de
devoradores de livros sem qualquer temor a Deus. Fico lembrando de meu querido mestre Pr.
Thomas Fodor, no Seminário Teológico Pentecostal do Nordeste. Estava sempre
preocupado com nossa vida devocional, com nosso caminhar com Deus, angustiado
para que nossa balança entre o conhecimento e o amor estivesse em equilíbrio...
Lamentando e confessando, quero trazer à memória aquilo que pode me
trazer esperança. Conheci o Rev. Augustus Nicodemus há alguns anos, numa
Conferência Teológica. É meu conterrâneo. Fala com a gravidade de um mestre, e
a propriedade de quem sabe o que está dizendo. Posso não concordar com todas as
suas posições, mas reconheço nele um homem de Deus, com um profundo amor pelas
Escrituras. Minha formação espiritual se deu aos pés dos mestres, fossem eles
da minha denominação ou não. Como jovem pobre na periferia de Recife, gostava
de ler, mas não tinha dinheiro para comprar livros. Me tornei colportor,
da Editora Betânia, CPAD. Os livros
eram, e ainda são minha riqueza. Nunca me importei em olhar se o autor era da
minha denominação, e sim, se era alguém que tinha algo a me ensinar, sempre
tentei seguir a orientação paulina: Examinai de tudo e retende o bem (I Tes
5.21). Estudei num Seminário interdenominacional que me levou a ter uma visão
do Reino de Deus não sectária, não mesquinha. Fui fazer mestrado na querida
Faculdade Teológica Batista de São Paulo, onde o fato de ser um pentecostal
assembleiano nunca foi problema em minha relação com os professores e colegas.
Atualmente estou ministrando na Igreja a
Carta aos Gálatas, e um dos livros que utilizo é o livro de autoria do Pastor
Augustus Nicodemus. Fico pensando se
dentro em breve não haverá uma proibição de ler os livros deste expoente da
Palavra... Outro dia ministrei na Igreja sobre João 14.1-3 “Vou preparar-vos
lugar”. Ao final do culto confessei a um irmão próximo que estou desejando
muito ir, para um lugar junto ao Pai... Talvez não haja mais lugar para mim
nesse mundo, não consigo mais achar natural determinadas coisas... Resta-me seguir
o conselho de Jeremias: “Põe a tua boca no pó, talvez ainda haja esperança”
(Lam 3.29).
Tomo emprestado as palavras de Whitefield quando escreveu para Wesley,em 1741 "oro a Deus, se for pela sua bendita vontade, que sejamos todos unidos novamente… Que Deus remova todos os obstáculos que agora impedem a nossa união…"
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