por Thalison Evangelista
Estamos às vésperas das eleições, e os
debates entre candidatos acontecem em todas as grandes emissoras do país. Muita
gente assiste, outros não. Alguns se empolgam, outros, na verdade, se
horrorizam com a falta de conhecimento, comprometimento, ética e outras
virtudes nos candidatos.
O Brasil vem passando por uma espécie de
despertar (pouco, diga-se de passagem) no aspecto político. Talvez diante do
fato de tantos escândalos de corrupção e também de uma crise financeira enorme,
as pessoas procuram saber o motivo por trás de tudo isso. Mas esse tipo de
despertar nos esclarece, ou pelo menos nos alerta, para outro tipo de problema,
a saber, a esperança depositada na
política (ideologias, partidos, etc.).
Nós vivemos em um mundo profundamente
secularizado, apesar de ouvirmos muito a palavra “espiritualidade”, na verdade
ela hoje é usada em muitos sentidos, menos no sentido real. Mas, embora
secularizado, o homem jamais deixou de ser um “ser religioso”, pois é da sua
natureza adorar. Mesmo o mais ateu dos ateus adora alguma coisa, seja o objeto
de adoração um animal, dinheiro, sexo, poder ou ideias.
David Koyzis argumenta em seu excelente livro
“Visões e Ilusões Políticas”, que “a ideologia provém do comprometimento
religioso (idólatra) de uma pessoa ou comunidade”. Talvez soe estranho para
nós, modernos, essa afirmação. Afinal, estamos acostumados a ver política
totalmente separada de religião, e enquanto no meio cristão se vive uma espécie
de esquizofrenia em que no contexto da vida “secular” somos movidos por
pensamentos diferentes em várias situações, vivendo uma dicotomia, no meio não
cristão costumamos ouvir: “Não se discute religião, política e futebol”. Mesmo
parecendo estranho, queremos apontar alguns argumentos que mostrarão fazer
muito sentido o que Koyzis diz.
A “ideologia é religião invertida”, diz o historiador Russell Kirk. Nós diríamos ainda que ideologia é uma religião reducionista. Ela
nasce primeiro no imaginário do ideólogo, e depois tenta se encaixar na
realidade. Assim, para poder fazer sentido, necessariamente precisará descartar
algumas verdades da criação, criar outras, e distorcer outras tantas. Dessa
maneira, ela acabará formando uma visão errada da criação, criando formas
distintas de enxergar o que é o mal, e mostrando formas ruins de redenção para
esse tipo de mal.
Alguns pensadores, ao analisarem os
totalitarismos políticos, percebem que na raiz do pensamento dos totalitários,
está sua maneira equivocada de perceber quem é o homem. Mas, poderíamos ir
além, percebendo que, na verdade, suas maneiras de enxergar a criação são distorcidas.
Por exemplo, na ideologia socialista/comunista, a liberdade individual e grupos
que pensam de forma diferente (opressores) são vistos como o mal da criação a
ser combatido, por isso, o próprio Marx percebia que era necessário a ditadura
do proletário, e necessário também a luta armada, para o fim dos “opressores”,
que atrapalham a paz e a prosperidade mundial. Essa forma de ideologia, apesar
de mostrar sua ineficiência em vários países, ainda é almejada por muitos, como
uma esperança utópica, uma “religião”. Mas não só ela, como todas as outras
ideologias são vistas também como esperança política para a humanidade.
Existe um perigo enorme na adoção dessas
ideologias, pois como afirma o professor Francisco Razzo, em sua obra "A Imaginação Totalitária", “na articulação
conceitual, uma variável pode ser eliminada com a força do raciocínio, [mas] no
mundo da vida, que é o mundo de pessoas vivas e reais, eliminar variáveis pode
significar eliminar pessoas”, ou seja, nossas ideias têm consequências
práticas, e elas podem ser catastróficas. Quando se delimita o pensamento a um
âmbito restrito, podemos pensar o que for. Porém, quando se tenta levar as mais
variadas formas de pensamentos para a realidade, e transforma-las em verdade
absoluta, as consequências podem ser terríveis e irreparáveis. O homem
insuficiente, tenta criar uma maneira de pensar que corresponde a tudo, e falha
por ser justamente insuficiente, e não conseguir visualizar tudo. Apesar das
falhas, as ideologias tomam o coração humano com a força de um ídolo, que por
sua vez exigirá nosso sacrifício, e também dos outros.
A ideologia surge da nossa estiagem
espiritual. Trocamos o Deus cristão por diversos ídolos, incluindo nossas
próprias ideias absurdas. A confiança na graça salvadora através de Cristo, é
substituída pela confiança ideológica-política. O escatológico dia do juízo
final, onde a justiça será manifesta de forma perfeita por Deus, agora é
realizado aqui e agora, onde são julgados e aniquilados aqueles que são
contrários e atrapalham a imposição de nossa ideologia. A esperança no porvir, nos novos céus e nova
terra, é alterada pela utopia da “Sião terrena”, a perfeição na terra. Como
diria Kirk, “a ideologia, em suma, é uma fórmula política que promete um
paraíso terreno à humanidade; mas, de fato, o que ela criou foi uma série de
infernos na terra. ”
É possível que o ideólogo questione se o
Cristianismo não funciona também como uma ideologia. A resposta é simples: Não.
O Cristianismo é, na verdade, revelação de Deus. Não é produto de uma
imaginação de ideias feita por alguns intelectuais, portanto não pode ser
chamado de ideologia. A ideologia é materialista e naturalista, e por ser
reducionista desse modo, não levando em consideração toda a realidade criada, sempre
vai errar em sua visão total, apesar de acertar em alguns aspectos. O
Cristianismo não é materialista, nem naturalista, mas percebe que existe Alguém
absoluto de onde temos o referencial para afirmar o que é a criação, o que é o
homem, o que é mal e o que é bom. A ideologia, no entanto, não tem referencial
absoluto para afirmar o que é bom, ou o que é mal, utilizando somente a razão
como forma final de avaliação. O conflito, por fim, será inevitável, pois, como
sabemos, cada ideologia tem suas ideias do que é bom e do que não é, cada uma
afirmando que algo deve ser combatido e aniquilado, apontando cada qual à uma
redenção diferente e ineficaz. Assim, os meios para alcançar os objetivos
redentores não são levados em conta, e no sentido mais maquiavélico, os “ideolatras”
levarão suas ideias adiante, rumo ao inconcebível.
É preciso perceber qual cosmovisão estamos
utilizando para avaliar nossas decisões. É necessário analisar nossa maneira de
pensar, e perguntar a nós mesmos por que julgamos tal ação mais valiosa que
outra.
Os Cristãos devem ter sua mente cativa à
Palavra de Deus, que é o referencial para toda forma de julgamento de visões. É
através dela que analisamos cada ação, cada ideia proposta, cada ideologia, em
seus aspectos bons e ruins. Qualquer candidato que fale a verdade, seja ele
ateu ou não, fala por Deus, pois, “toda verdade, é verdade de Deus”, mas, se
fala mentira, seja cristão ou não, não fala por Deus, pois, “seja Deus
verdadeiro, e todo homem mentiroso”.
Que a nossa esperança seja aquela que ainda
não podemos ver, como escreve o Apóstolo Paulo. Que ela seja depositada em
Jesus Cristo, Filho de Deus, nosso Salvador, Redentor e Senhor, e não nos governantes desta terra, tão falhos como qualquer um de nós, e
busquemos àquele a que toda forma de governo deve estar sujeita.
É impressionante como temos vivenciado tantos casos de absurda hostilidade e desafeição entre servos que agem iguais aos "ideólatras", presunçosos, convictos de que alcançaram a Verdade através de suas próprias conclusões...
ResponderExcluirQuando enfim entendermos que somente a Escritura Sagrada pode regrar nossa Fé e todas as nossas práticas, será contundente e natural cumprirmos as orientações deixadas na carta aos Filipenses 2:
"Nada façais por rivalidade nem por vaidade; pelo contrário, cada um considere, com toda a humildade, as demais pessoas superiores a si mesmo."
Excelente reflexão, irmão Thalison Evangelista! Deus continue vos abençoando e que se multipliquem os textos neste riquíssimo Blog para a glória do Senhor e edificação nossa!