O ser humano é um ser de fascínio. Nossos sentidos têm contato com
certas coisas que parecem ecoar algo dentro de nós, então ficamos fascinados!
Os olhos brilham, a mente fica voltada para algo como um pensamento fixo, a
adrenalina corre nas veias, nada mais importa, é um fascínio, um encanto!
A história humana nos mostra que o homem é
fascinado por algumas coisas que só mudam de contexto, mas continuam as mesmas.
O homem é fascinado pelo poder. Não é à toa que em algumas sociedades um homem
tinha várias mulheres. E o fascínio pela conquista de novos territórios, pela
expansão do poder, levou a humanidade a seguidas guerras. A expansão do poder vai além do contexto
bélico propriamente dito para englobar as disputas culturais e religiosas. O
poder do sagrado fascinava o homem medieval, e dominou o pensamento da época.
A narrativa do Gênesis mostra-nos Eva fascinada por um fruto proibido.
Não um fruto qualquer, mas um fruto que lhe traria poder: O poder do
conhecimento! O homem da renascença e do iluminismo é o homem fascinado pelo
conhecimento, o conhecimento oriundo da razão. Esse poder continua fascinando o
homem do século XXI, tanto quanto o primeiro casal.
Há uma faceta do poder que parece ainda
mais fascinante do que outras: o sobrenatural, o inexplicável, o maravilhoso.
Aquilo que não tem uma resposta imediata na racionalidade humana.
Os relatos do texto sagrado
indicam desde os primórdios, que para o ser humano não há outro fascínio tão
irresistível quanto o sobrenatural, o inexplicável, o maravilhoso. Na verdade,
o Deus invisível dos hebreus se manifesta de forma sobrenatural. E o homem é
atraído como um camundongo para a fascinante armadilha divina. Foi assim com
Moisés: O fascínio de um arbusto que ardia em fogo mas se mantinha verde. Quem
poderia resistir como se nada tivesse acontecendo a tão tamanha maravilha?
Quando um povo que só conhecia Deus
através dos relatos orais dos seus antepassados, é formalmente apresentado a
esse Deus, que é invisível, a maneira encontrada por Ele de se fazer conhecido
é através do sobrenatural, do milagroso, do espantoso. Eles creram pelo
fascínio do sobrenatural. Diz o texto: “...e fez os sinais perante os olhos do povo. E o povo
creu” (Ex 4.30-31).
É assim que os judeus se tornam fascinados
por sinais, pelo sobrenatural, afinal Yahweh é o Deus Todo Poderoso, que
responde com fogo ao clamor de Elias no Carmelo (I Rs 18.38), além das inúmeras
intervenções miraculosas de Deus ao longo da história de Israel. Os gregos por
outro lado, eram fascinados pelo conhecimento. Paulo resume isto na conhecida
sentença: “Os judeus pedem sinal e os gregos buscam sabedoria” (I Co 1.22).
Escrevendo aos gálatas, Paulo indaga: “Ó Insensatos gálatas! Quem vos
fascinou para não obedecerdes à verdade”? (Gl 3.1). Alguém deveria ter
fascinado os gálatas, os induzido, os encantado, os enfeitiçado, para que
mudassem de entendimento, de crença.
Tiago poderia responder a Paulo, que cada um é tentado, fascinado,
atraído pelo seu próprio desejo (Tg 1.14). O ser pecaminoso do homem ama o
fascínio. Está dentro do homem essa tendência para ser fascinado.
Não pergunto portanto, quem nos fascinou?
Mas o que nos fascina?
Hoje, mais do que nunca somos fascinados
pelo sobrenatural, pelo místico, pelo inexplicável. E hoje há toda uma
indústria que movimenta milhões em torno desse fascínio. Uma gama de segmentos
religiosos surge e se expande graças ao fascínio pelo sobrenatural.
Não estamos aqui para negarmos que Yahweh
é o Deus todo poderoso, e que tem poder para dar a vida, tirar a vida, curar,
abrir o Mar Vermelho... Os relatos bíblicos neo e veterotestamentários estão
cheios de relatos de milagres divinos. Os fascinados pelo poder da razão e do
conhecimento sempre negaram a veracidade desses relatos. Quero registrar que
creio inteiramente na ação sobrenatural de Deus. Mas os evangelhos que, diga-se
de passagem são eivados de relatos de milagres nos ensinam algo que não pode
ser ignorado.
Num contexto judaico a existência dos
milagres, ou sinais, era autenticadora da presença de Yahweh, e legitimava a
mensagem por intermédio de quem os milagres aconteciam. Foi assim que Nicodemos
creu em Jesus: “Rabi, bem sabemos que és mestre vindo de Deus, porque ninguém
pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele” (Jo 3.2). Porém, o fato de ficarem fascinados com os
sinais que Jesus fazia, fosse multiplicação de pães, cura de aleijados ou
ressurreição de mortos, não os fazia seguidores verdadeiros de Cristo, e muitos
o abandonaram (Jo 6.66), quando lhes foi esclarecido que precisavam partilhar
da sua humanidade e crer no seu sacrifício (Jo 6.54). O fascínio é egoísta,
visa fins pessoais, o gozo individual.
É Paulo que complementa quando fala do
fascínio dos judeus e dos gregos, ele diz: “Mas nós pregamos a Cristo
crucificado” (I Co 1.23). Paulo nos diz o que exatamente nos deve fascinar. Não
é a ressurreição de Lázaro, nem a cura da sogra de Pedro, nem a restauração da
vista de Bartimeu, nem a cura da filha da mulher siro-fenícia. O que nos deve
fascinar é o Cristo crucificado.
E olhando para o Calvário veremos essa
escolha da fascinação muito bem ilustrada:
Um dos crucificados com Jesus lhe diz: “Se
tu és o Cristo, salva-te a ti mesmo e a nós” (Lc 23.39). Fascinava-o o sobrenatural.
Ele iria crer em Jesus se milagrosamente, e numa demonstração de poder sem
igual, o mestre se despregasse dos cravos, e baixasse até o chão, deixando a
cruz vazia, salvando também a vida dos
demais crucificados, e condenando à morte eterna o restante da humanidade.
A proposta nos faz lembrar a
tentação de Cristo, na qual o diabo tenta o Senhor buscando fazê-lo fascinantes
demonstrações de poder: “Se tu és o filho de Deus, dize a esta pedra que se
transforme em pão”; “Se tu és o filho de Deus, lança-te daqui abaixo...” (Lc
4.3,9).
Jesus ainda é tentado com uma proposta de
fascinante poder: “Dar-te-ei a ti todo este poder e a sua glória” (Lc 4.6).
Por outro lado, o outro crucificado não se
fascina com qualquer ato de glória e poder que Jesus pudesse fazer, mas apenas
lhe diz: “Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu Reino (Lc 23.42).
É apenas o fascínio pelo crucificado. Que
não sejam os milagres que nos fascinem, ou mesmo as possibilidades de glórias
deste mundo. Mas Cristo, apenas ele, o crucificado! A nascente igreja de Cristo
aprendeu que os milagres estão no âmbito da soberania de Deus. Foi assim que
Tiago foi morto à espada, mas Pedro foi liberto da prisão por um anjo do Senhor
(At 12.1-10).
Se formos fascinados apenas pelo poder
sobrenatural, ficaremos indefinidamente em busca de milagres e maravilhas, e
não do Cristo crucificado. Se ficarmos buscando o fascínio do poder e glórias
terrenas nos curvaremos diante dos ídolos. Simão, o mago samaritano recém
convertido fica extasiado diante dos sinais que Deus realiza (At 8.13). Não lhe
atraía o Cristo crucificado, morto, sepultado e ressuscitado. Lhe atraía de tal
forma o sobrenatural que ele ofereceu aos apóstolos dinheiro para que ele
pudesse ser também detentor do poder (At 8.18). Para que ele pudesse exercer
livremente ações fantásticas e miraculosas. Foi duramente repreendido pelos
apóstolos: Ele não era um cristão convertido!
A prática de Simão é encontrada em toda a
parte, em pleno século XXI. Que nosso
fascínio seja o Cristo crucificado, e como pobres pecadores que somos, nos
juntemos ao ladrão da cruz dizendo: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares
no teu Reino.
Mesmo diante de tamanha Paciência Divina em se revelar através dos tempos, levando sempre em conta a capacidade gradual e evolutiva do entendimento humano, ainda somos atraídos como camundongos na direção de migalhas "sobrenaturais"...
ResponderExcluirA Longanimidade do Pai é mesmo soberanamente constrangedora!
Lindo e real entedimento de fé,pura fé misercordia e amor puro e simples .Gloria A Vós Senhor.
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