Eu votei na eleição para presidente em 1989,
a primeira eleição por voto direto no país para presidência da República, depois
de longos 29 anos (a última eleição direta para presidente foi em 1960, quando
os brasileiros elegeram Jânio Quadros, que renunciou no ano seguinte e foi
substituído por seu vice, João Goulart, que foi deposto pelos militares em 31
de março de 1964). Tancredo Neves, o primeiro presidente depois dos militares
foi eleito pelo Congresso em 1985, e morreu sem ter assumido, sendo substituído
também pelo seu vice-presidente José Sarney.
Eu não precisava votar, tinha apenas 17 anos, mas que jovem brasileiro
ia perder a oportunidade de votar para presidente? Muitos de nossos pais ainda
não tinham tido essa oportunidade. E havia um motivo a mais: Votar em Lula para
presidente. Cantávamos a plenos pulmões: Lula lá, brilha uma estrela... Lula
lá, meu primeiro voto!!! A juventude se incendiava com a canção do candidato do
Partido dos Trabalhadores.
Lula perdeu a eleição. Ficamos tristes. Fernando Collor de Mello, foi
eleito por um partido desconhecido, PRN. Jovem, bonito, boa retórica, jeito de
homem sério. Empreendeu algumas mudanças que impactaram o país. Eram tempos
difíceis, alta inflação, nossa autoestima em baixa. Ainda me lembro da ministra
Zélia Cardoso e dos pacotes para enxugar a liquidez da economia. O país foi
chamado a um esforço especial para nos tirar do ciclo devastador da inflação.
Estávamos prontos a dar nossa parcela de contribuição pelo bem da pátria.
Mas tudo foi por água abaixo, quando Pedro
Collor, irmão do presidente, abriu as porteiras das denúncias de corrupção do
Governo. Outros se animaram também a denunciar. Dentro em breve uma CPI foi
aberta no congresso. O povo ganhou as ruas e os cara pintadas, jovens como eu,
foram protestar contra a corrupção. Um processo de impeachment foi aberto, e em
29 de setembro de 1992, o Congresso, liderado pela oposição petista aprovou a
saída de Collor. Antes de ocorrer a votação no Senado, o presidente enviou
carta de renúncia aos senadores. Collor saiu protestando inocência.
Muitas águas rolaram... Itamar Franco, vice
de Collor assumiu o governo e juntamente com seu ministro da Fazenda, Fernando
Henrique Cardoso, lograram êxito na estabilização econômica. A inflação foi
definitivamente domada. Na substituição de Itamar, nova eleições: Lula e FHC.
Lula perdeu na primeira vez, e na segunda, na reeleição de FHC. Mas por ocasião
da saída de Fernando Henrique, Lula foi, enfim, eleito presidente.
O
discurso ético do PT, o compromisso com a classe trabalhadora, tudo isso nos
dava a sensação que valia muito a pena, ser governado por Lula e pelo PT. Mas
ainda no primeiro mandato as coisas começaram a desandar. José Genoíno e José
Dirceu, homens fortes do partido e estrelas do novo governo se envolveram numa
série de escândalos de corrupção que ficou conhecida como Mensalão.
O Brasil entendeu que seria algo
localizado, talvez de cunho pessoal, e Lula foi reeleito, e conseguiu eleger
sua substituta, Dilma Rousseff. Dilma não conseguiu repetir a performance do
seu antecessor, mas tinha a confiança do país. A duras penas conseguiu se
reeleger, num tempo onde denúncias de corrupção surgiram de todos os lados,
originadas da própria Justiça e da Polícia Federal, na operação conjunta
conhecida por Lava Jato.
Negava-se tudo. Tudo era culpa da oposição impiedosa.
Um mar de lama atingiu o governo nos mais diversos escalões. A Petrobrás,
praticamente desabou na enxurrada de corrupção. O povo novamente foi às ruas. Um processo de impeachment foi
instaurado na Câmara dos Deputados, e hoje, 31 de agosto de 2016, o Senado
Federal acompanhou os deputados no afastamento definitivo da Presidente da
República.
Hoje não sou mais simpatizante de qualquer
partido. Mas eu, e a maior parte dos brasileiros temos consciência de estarmos
antipatizando qualquer partido, governo, facção, grupo que esteja envolvido com
corrupção.
O que derrubou Dilma Rousseff foi absolutamente a mesma coisa que
derrubou Fernando Collor de Mello, a corrupção. Mas não é só corrupção, é
corrupção conjugada com prepotência, com arrogância, com hipocrisia. Ambos
repetiram a mesma receita. E o resultado dessa combinação é sempre o mesmo:
Impeachment. Foi há 24 anos, repete-se agora!
O povo tolera erros de um chefe de
governo, mas o povo está cansado de corrupção, de ter acesso a serviços básico
precários e saber que seus tributos estão se convertendo em propina, em
riquezas indevidas para um grupo de políticos. Isso não se tolera mais. Quando
alguém vai entender isso? Enquanto isso não for entendido novos impeachments
virão!
Quem discordar do que eu estou dizendo,
precisa negar a história, precisa negar o bom senso, a lógica, a coerência...
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