Escrevo... Escrevo pra não
morrer. Pra não ter um ataque apoplético, pra tentar prolongar a vida e manter
saudável o sistema circulatório. Sim, porque ouvindo o que se ouve todo o dia hoje,
um ser como eu entra em coma bem rapidinho.
Algumas pessoas escrevem para informar, manter o status de escritor e
alimentar seus fãs e fazer a festa dos críticos literários. Usando a expressão
do profeta bíblico, como eu não sou escritor nem filho de escritor, escrevo
para não morrer.
Ouço os bordões de jovens e adolescentes por alguns motivos: Convivo com
alguns em casa, já fui líder de jovens na igreja, às vezes entro em sala de
aula para preparar jovens para encarar os desafios da empresa, e... sou pastor de
igreja, onde muitos jovens participam.
Jovens adoram bordões... frases de efeito.
Coisas que sejam ditas por todos. Consequências de uma sociedade mimética e
conectada. Isso não seria problema se
alguém pensasse sobre o que está se dizendo. Sobre qual a proposta contida no
bordão. Eis o que me deixou a ponto de morrer, como Nabal, o marido de Abigail
(I Sm 25.37): Não sou obrigado a nada.
Esse bordão passou a caber em qualquer
momento, em qualquer conversa em que alguém seja requisitado a fazer alguma
coisa: Não sou obrigado a nada. É dito
com um ar de vitória. Como alguém que está com uma via da Lei Áurea na mão.
Vamos tomar café... Não sou
obrigado a nada!
Hora
de acordar... Não sou obrigado a nada!
Lavar a louça... Não sou obrigado a nada!
Estudar... Não sou obrigado a nada!
Vamos ensaiar... Não sou obrigado a
nada!
Fui pesquisar e descobri que há um ou
dois anos um grupo lançou este hit, de estilo não muito definido: Não sou
obrigado a nada. Não vou dar mais detalhes sobre, pra ninguém matar a
curiosidade informando-se mais sobre esta obra musical, e assim perder seu
precioso tempo.
Hoje eu fiz algumas perguntas pra uma
jovem próxima: Você vai pra escola? (que
diga-se de passagem custa uma fábula!) Você toma banho e veste uma roupa limpa?
Você senta na mesa e come sua comidinha gostosa? Por que? Pra que? Se você não
é obrigada a nada?
Povo ingênuo, ouça-me, por favor: Seres
humanos, que definitivamente não são seres irracionais evoluídos, são obrigados
a quase tudo! Imperativos morais, sociais, políticos, religiosos, afetivos...
coisas que dominam o mundo dos humanos, e nos tornam seres civilizados, nos
obrigam a seguir regras, convenções, orientações, obedecer leis...
Você que abre a boca para falar uma
asneira sem tamanho dessas, faça algumas
coisas, já que você não é obrigado a nada: Ande nu, não tome banho... ou coisas
menos radicais, não renove a carteira de motorista, não pague o IPVA. Quando for
abordado no trânsito, olhe para o guarda e diga: Não sou obrigado a nada.
Realmente, não somos obrigados a nada, se
quisermos abrir mão de nossa humanidade. Se esquecermos que somos a Imago Dei,
a imagem de Deus, e simularmos que somos animais imundos. Na década de 60, o
movimento hippie tentou ensaiar essa ideia esdrúxula... foi apenas um
movimento. Não vingou. A humanidade e
seus imperativos falou mais forte. Eles voltaram à sociedade e à civilização. O
Festival de Woodstock durou apenas 3 dias.
Nunca abra a sua boca para dizer que não é
obrigado a nada, se você está abrigado num teto, comendo à mesa com talheres,
copos e garfos, se você vai ao Shopping escolher suas roupas e não abre mão do
seu smartphone, se você faz parte de uma família, que em tese, deveria ter o
mínimo de regras de convivência. Você é obrigado sim, a ajudar, a cuidar do
mundo e das pessoas à sua volta, a obedecer, a seguir as convenções sociais, a
cumprir orientações, a refletir, a olhar para cima e ver-se como a Imagem de
Deus...
E pra você que não sabe, dizem os
cientistas que os impulsos genéticos inscritos nos animais irracionais os
impelem a lutar pela vida, utilizando uma linguagem darwiniana. Uma espécie de
imperativos de sobrevivência... nem eles portanto, diriam tal imbecilidade, de
que não são obrigados a nada.
Talvez só os seres inanimados, que quando
criança eu aprendi que eram seres brutos, possam dizer “não sou obrigado a nada”!
Se você não quiser me matar do coração,
nunca abra sua boca pra dizer junto de mim: Não sou obrigado a nada. Por favor!
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