Preciso continuar escrevendo sobre isso.
Embora me digam que “não sou obrigado a nada”. Queria me dirigir
especificamente aqueles e aquelas que se dizem tementes a Deus, ou integram uma
comunidade cristã e ao mesmo tempo abrem a boca para dizer “não sou obrigado a
nada”.
Sabe, guri, guria, garoto, garota, jovem,
cara, irmão, mano... houve um cara num passado muito distante que vivia dizendo
isso, e... se deu mal. Acabou esmagado nos escombros de um velho templo
filisteu em algum lugar na conhecida Faixa de Gaza, não sem antes passar por
uns bons perrengues.
Chamava-se Sansão. Em primeiro lugar ele
nasceu nazireu, do hebraico nazir נזיר
da raiz nazar נזר
"consagrado", "separado". Assim, o nazireu era alguém
escolhido por Deus de forma diferenciada. Ele tinha privilégios, entre os quais
receber de forma especial o Espírito de Deus, e lhe havia sido confiada uma
missão. Por outro lado, ele tinha obrigações. Fico pensando que o grande
problema das pessoas hoje é esse, elas só desejam os privilégios, os bônus
(como diziam os antigos), e não os ônus, as obrigações.
Suas obrigações estavam descritas na Lei, as regras do nazireado estavam
expressas na Torá, em Números 6.1-21. Outra questão delicada hoje é falar de
leis, de regras. Num mundo onde todos querem ser auto-nomos (auto, de si mesmo;
nomos, lei), cada um quer ditar a sua própria lei, faz todo o sentido dizer
“não sou obrigado a nada”.
Esperava-se que o nazireu se abstivesse do vinho, de bebida forte,
vinagre, uvas, nada relacionado a vinha (de sementes até as cascas), não poderia
passar navalha na cabeça (teria o cabelo crescido), não aproximar-se de cadáver e não ir a velórios.
Sansão estava submetido às leis do
nazireado, sem falar nas demais prescrições das leis mosaicas, a qual estavam
ligados todos os descendentes de Jacó.
Mas Sansão decidiu em seu
coração: Não sou obrigado a nada.
Escolheu uma garota filisteia, que
pertencia ao povo inimigo, para casar. Uma guria com outra cultura, outras
tradições. Seus pais foram contra o casamento, e falaram com Sansão. Mas ele
insistiu: Vou casar com ela, afinal, não
sou obrigado a nada.
O casamento acabou na festa de
noivado. Sansão acabou matando 1000
pessoas aparentados da noiva, para pagar uma aposta, que a própria noiva
revelou a resposta do enigma aos parentes. O enigma envolvia a quebra de uma
das regras da lei do nazireado, como aproximar-se de cadáveres. Ele buscou no leão morto, um favo de mel que
as abelhas produziram. Mas ele já decidira: Não sou obrigado a nada, muito
menos a obedecer as regras do nazireado.
Embora triste, Sansão pensou em reatar o
relacionamento com a moça filisteia, passada toda a confusão. Bateu na casa do
sogro, e qual não foi sua surpresa quando foi informado que a sua noiva fora
dada por esposa ao seu amigo filisteu. O velho lhe ofereceu a filha mais nova.
Sansão estava por demais enfurecido. Disse em alto e bom som, que em relação
aos filisteus ele agora não era obrigado a nada. E tomou trezentas raposas,
amarrou os rabos e tocou fogo, mesmo nas plantações dos filisteus, arrasando o
trigo, as vinhas e os olivais.
Indignados, os filisteus, que não eram
obrigados a nada, foram à casa do ex-futuro sogro de Sansão e queimaram a sua
ex-noiva juntamente com seu pai.
A história pararia por aqui, se Sansão não
levasse as últimas consequências o bordão “não sou obrigado a nada”, Sansão
passou a frequentar os bordéis dos filisteus. Primeiro afeiçoou-se de uma
prostituta em Gaza, depois apaixonou-se
por uma filisteia do vale de Soreque chamada Dalila. Como um juiz de
Israel, aquilo não era nem um pouco conveniente, e muito estranho para um
nazireu, alguém separado e consagrado para Deus, mas para Sansão isso não era
problema, afinal ele “não era obrigado a
nada”.
Sua força era um segredo que a ninguém poderia
ser revelado. Seus cabelos que nunca haviam visto navalha guardavam o mistério
da obediência do nazireado, e consequentemente do poder sobrenatural de Deus
sobre Sansão.
Mas a muita insistência de Dalila resultou no segredo revelado. Sem
problemas, afinal Sansão não era
obrigado a nada. Os filisteus cortaram seus cabelos, ele perdeu inteiramente
sua força. Foi levado para trabalhar como escravo dos filisteus, vazaram-lhe os
olhos, riram dele e o ridicularizaram... custou muito caro, um “não sou
obrigado a nada”.
Uma nota de um fim melancólico, em alguém
que em vida havia entendido que “não era obrigado a nada”. Essa história é
contada há mais de 3 mil anos, encontra-se na bíblia, nos capítulos 13 a 16 do livro de
Juízes...
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ResponderExcluirMuito interessante!!!