domingo, 6 de março de 2016

Conheça aquele que não é obrigado a nada... e seja alguém que não é obrigado a nada...

  Estou finalizando agora essa conversa sobre “não sou obrigado a nada”. Ficou claro que o bordão “não sou obrigado a nada” é infantil, bobo. Portanto, não o repita porque todo o mundo está falando. Nas relações entre os homens seremos sempre obrigados a alguma coisa, mesmo contra a nossa vontade.
   Mas há outras relações onde essa obrigatoriedade não é observada. Falo em primeiro lugar da relação de Deus com o homem, depois falo da relação do homem com Deus.
    Começando no livro dos princípios, o Gênesis, vamos encontrar o que teologicamente chamamos de Queda. Embora criado à imagem de Deus para o louvor e glória do Criador, o homem desobedece e seu pecado essa imagem do Criador, afasta o homem de Deus, e cria desordem no mundo físico e espiritual. Isto é a Queda.
    Deus poderia ter deixado de lado o homem desobediente e caído. Mas  não o faz. O busca na viração da tarde, providencia-lhe vestimenta, e registra a promessa de redenção, no protoevangelho de Gn 3.15. Ele não era obrigado a nada, mas o fez!
  Tempos depois diante de uma humanidade pervertida e iníqua, Deus provê salvação através da arca para Noé e sua família, e a história do homem recomeça... Deus não era obrigado a nada, mas o fez!
  Deus se revela a um mesopotâmio da cidade de Ur, chamado Abrão. No meio de uma sociedade caldéia que adorava a lua, e construía templos em formas de pirâmides, conhecidos como zigurates, Deus escolhe Abrão e lhe faz promessas.
  Uma aliança, cuja celebração tem como modelo os rituais de suserania e vassalagem da época, é firmada entre Deus e Abraão (Gn 15.1-19). Deus firma a aliança e faz promessas a Abraão. Ele não era obrigado a nada, mas o fez!
    Da descendência de Abraão surge o povo de Israel. Escravizado no Egito, é milagrosamente tirado de lá através da ação sobrenatural de Deus. Peregrinando no deserto, é tempo de pensar: Por que nós? Por que fomos escolhidos?
    Moisés responde e esclarece ao povo esta questão. Não é porque Ele fosse obrigado a alguma coisa. Mas Moisés afirma: “Não vos teve o SENHOR afeição, nem vos escolheu porque fôsseis mais numerosos do que qualquer povo, pois éreis o menor de todos os povos, mas porque o SENHOR vos amava e,  para guardar o juramento que fizera a vossos pais, o SENHOR vos tirou com mão poderosa e vos resgatou da casa da servidão, do poder de Faraó, rei do Egito. Saberás, pois, que o SENHOR, teu Deus, é Deus, o Deus fiel, que guarda a aliança e a misericórdia até mil gerações aos que o amam e cumprem os seus mandamentos.” Dt 7.7-9

      Foi iniciativa divina firmar a aliança com Abraão, e Ele cumpriu integralmente a aliança, por AMOR. O amor é a resposta para entender a ação de um Deus que não é obrigado a nada, mas o faz!
   O povo de Israel se mostra desobediente, arredio, rebelde. Se Deus fosse homem, a nação seria totalmente extinta, mas ele é Deus, e não homem. Ele não era obrigado a tolerar as infidelidades sem fim de Israel. Mas Ele o faz, não porque é obrigado a nada. Vejamos as próprias palavras do Senhor (Os 11.1-9):
Quando Israel era menino, eu o amei; e do Egito chamei a meu filho.
Mas, como os chamavam, assim se iam da sua face; sacrificavam a baalins, e queimavam incenso às imagens de escultura.
Todavia, eu ensinei a andar a Efraim; tomando-os pelos seus braços, mas não entenderam que eu os curava.
Atraí-os com cordas humanas, com laços de amor, e fui para eles como os que tiram o jugo de sobre as suas queixadas, e lhes dei mantimento.
Não voltará para a terra do Egito, mas a Assíria será seu rei; porque recusam converter-se.
E cairá a espada sobre as suas cidades, e consumirá os seus ramos, e os devorará, por causa dos seus próprios conselhos.
Porque o meu povo é inclinado a desviar-se de mim; ainda que chamam ao Altíssimo, nenhum deles o exalta.
Como te deixaria, ó Efraim? Como te entregaria, ó Israel? Como te faria como Admá? Te poria como Zeboim? Está comovido em mim o meu coração, as minhas compaixões à uma se acendem.
Não executarei o furor da minha ira; não voltarei para destruir a Efraim, porque eu sou Deus e não homem, o Santo no meio de ti; eu não entrarei na cidade.
     O amor é a grande explicação da forma como Deus age. Talvez o bordão bobo circulante pudesse ser aqui utilizado para falar de um conceito teológico muito caro para o mundo cristão: o conceito de graça. Graça significa a atitude de um Deus que não é obrigado a nada, mesmo assim nos alcança em seu inexplicável amor.

    Os escritos joaninos vão enfocar esse amor de forma clara e bela: Porque Deus amou o mundo de tal maneira que DEU o seu filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo 3.16). Ele  não era obrigado a enviar o seu Filho para salvar a humanidade, mas o fez por AMOR.

   Esta ação da graça de Deus, que não trabalha com a ideia de obrigação, e sim de amor, nos confronta a um posicionamento. Ainda nos escritos joaninos encontraremos: Nós o amamos a ele porque ele nos amou primeiro. (I Jo 4.19)
    Um Deus que não é obrigado a nada, mas tudo faz por amor, cria no coração do recebedor de sua graça uma dívida de amor. E então, passamos amá-lo, a obedecê-lo, a segui-lo. Não porque somos obrigados a nada, mas porque Ele nos amou primeiro.

     Talvez devêssemos concluir esta reflexão com as palavras de Paulo, em II Co 5.13-21. Não precisa acrescentar mais nada. Apenas podemos concluir, que em nossa relação com Deus, também não somos obrigados a nada. Mas tudo o que fazemos provém da reconciliação em amor e graça que Ele nos outorgou. E este amor nos constrange. Assim, em nossa relação com Ele, não somos obrigados a nada, caso contrário nos tornaríamos apenas religiosos e cumpridores de normas e regras. Mas o amor de Cristo nos constrange a sermos nova criatura, a sermos embaixadores do ministério da reconciliação:

“Pois, se enlouquecemos, é por amor a Deus; se conservamos o juízo, é porque vos amamos. Porquanto o amor de Cristo nos constrange, porque estamos plenamente convencidos de que Um morreu por todos; logo, todos morreram. E Ele morreu por todos para que aqueles que vivem já não vivam mais para si mesmos, mas para Aquele que por eles morreu e ressuscitou.
Assim, de agora em diante, a ninguém mais consideramos do ponto de vista meramente humano. Ainda que outrora tivéssemos considerado a Cristo assim, agora, contudo, já não o conhecemos mais desse modo. Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação; as coisas antigas já passaram, eis que tudo se fez novo! Tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por intermédio de Cristo e nos outorgou o ministério da reconciliação. Pois Deus estava em Cristo reconciliando consigo mesmo o mundo, não levando em conta as transgressões dos seres humanos, e nos encarregou da mensagem da reconciliação.

Portanto, somos embaixadores de Cristo, como se Deus vos encorajasse por nosso intermédio. Assim, vos suplicamos em nome de Cristo que vos reconcilieis com Deus. Deus fez daquele que não tinha pecado algum a oferta por todos os nossos pecados, a fim de que nele nos tornássemos justiça de Deus.”

Um comentário:

  1. Como sempre o mestre Ezion nos tras uma palavra sábia, embasada nas escrituras e instrutiva para refletirmos e glorificarmos a Deus.

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