segunda-feira, 28 de março de 2016

Governistas e pastores são os últimos a reconhecerem que estamos em crise...

   Admitir que há uma crise em andamento é doloroso para algumas pessoas ou classe de pessoas especificamente. Para quem compõe a base governista, por exemplo, admitir que há uma crise estabelecida é duro, por razões óbvias. Tenta-se disfarçar, camuflar, despistar, enfim mudar de conversa, de forma que não haja uma admissão pública da existência da crise. E acredito que deve haver muita torcida para que tudo não passe de uma “marolinha”, para usar um termo utilizado há anos num momento turbulento.
     Mas há um outro grupo que também resiste bravamente a admitir o contexto de crise. Este é o grupo dos pastores.
      Quando os ventos da instabilidade, da falta de credibilidade, do desgoverno e da desconfiança começaram a soprar com toda a força fazendo balançar a grande nave da economia brasileira, a curva do desemprego teimando em seguir uma curva ascendente, muitos pastores, ministros de louvor e líderes do mundo evangélico difundiram o chavão “nós não estamos em crise, estamos em Cristo”.

    Essas frases de efeito levam as multidões ao delírio, e deixam nos pastores um senso de que a multidão está sendo abençoada, ainda que o chavão seja enganoso. E o tempo encarregou-se de provar que o chavão era demagógico, e enganoso, ainda que fosse utilizado com a melhor das intenções.
       Quando já estava claro que a crise estava instalada, e somente os governistas e alguns pastores teimavam em não admiti-la, subi ao púlpito e com todas as letras preguei acerca da existência da crise. Ainda me lembro que utilizei o texto do profeta Joel 1.3-14:
 Fazei sobre isto uma narração a vossos filhos, e vossos filhos a seus filhos, e os filhos destes à outra geração.
O que ficou da lagarta, o gafanhoto o comeu, e o que ficou do gafanhoto, a locusta o comeu, e o que ficou da locusta, o pulgão o comeu.
Despertai-vos, bêbados, e chorai; gemei, todos os que bebeis vinho, por causa do mosto, porque tirado é da vossa boca.
Porque subiu contra a minha terra uma nação poderosa e sem número; os seus dentes são dentes de leão, e têm queixadas de um leão velho.
Fez da minha vide uma assolação, e tirou a casca da minha figueira; despiu-a toda, e a lançou por terra; os seus sarmentos se embranqueceram.
Lamenta como a virgem que está cingida de saco, pelo marido da sua mocidade.
Foi cortada a oferta de alimentos e a libação da casa do Senhor; os sacerdotes, ministros do Senhor, estão entristecidos.
O campo está assolado, e a terra triste; porque o trigo está destruído, o mosto se secou, o azeite acabou.
Envergonhai-vos, lavradores, gemei, vinhateiros, sobre o trigo e a cevada; porque a colheita do campo pereceu.
A vide se secou, a figueira se murchou, a romeira também, e a palmeira e a macieira; todas as árvores do campo se secaram, e já não há alegria entre os filhos dos homens.
Cingi-vos e lamentai-vos, sacerdotes; gemei, ministros do altar; entrai e passai a noite vestidos de saco, ministros do meu Deus; porque a oferta de alimentos, e a libação, foram cortadas da casa de vosso Deus.
Santificai um jejum, convocai uma assembleia solene, congregai os anciãos, e todos os moradores desta terra, na casa do Senhor vosso Deus, e clamai ao Senhor.
    Joel profetizou num tempo de crise sem precedentes. Ele não fechou os olhos à gravidade da situação. Expôs claramente todas as mazelas e suas consequências, e convocou o povo à santidade e a clamar ao Senhor.

    Quando eu terminei de pregar alguns irmãos vieram falar comigo porque eu tivera muita coragem de pregar dessa forma e admitir que estávamos vivendo uma crise, porque esse parecia ser um assunto tabu para muitos. Melhor pregar que “não estamos em crise, estamos em Cristo”.
     Falei que me espelho nos profetas bíblicos, e tenho um especial apreço pelos profetas menores, que em seus pequenos registros literários trazem uma enorme riqueza de ensinamento. Me lembro que foi com uma citação de outro deles que eu concluí a mensagem, Habacuque 3.17-18:
Porque ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja gado;
Todavia eu me alegrarei no Senhor; exultarei no Deus da minha salvação.
    Estamos em crise, sim, mas Deus está conosco e ele nos ajudará a vencer todas as dificuldades que virão pela frente.

    Fiquei pensando qual o motivo da dificuldade de muitos pastores não admitirem a existência da crise. Me ocorreram duas coisas: Falta de fé, e enamoramento com a teologia da prosperidade. Falta de fé, porque não se consegue imaginar dando conta de todas as obrigações e compromisso num cenário adverso. Melhor acreditar que a adversidade não vai bater nossa parte, e levar os outros a crerem assim também.
    Enamoramento com a teologia da prosperidade... Há muito que a “boa teologia” condena a teologia da prosperidade. Está nos manuais, nas revistas de EBD, nos bons livros teológicos, no discurso institucional das denominações sérias... Mas há um canto da sereia na teologia da prosperidade que atrai até mesmo os mais ortodoxos. Os auditórios querem ser abençoados, querem ouvir uma promessa de vitória e de prosperidade. E é aí, que flertamos com a teologia da prosperidade. E quando se admite que a crise existe, fica mais difícil trazer a promessa da bênção e da vitória para hoje, ou mesmo para amanhã. E acreditem, nos púlpitos não predomina o discurso institucional da denominação, nem da revista da EBD... ali saem as palavras de que está cheio o coração de um pastor... que às vezes é de agradar ao rebanho e atrair novos membros...
     Em tempos de crise, sugiro a todos que aprendam a ler o texto bíblico em seu contexto, e por  favor, deixem de citar isoladamente Filipenses 4.13 “Posso todas as coisas naquele que me fortalece”. Leiam o capítulo inteiro, mas se não conseguem comecem pelo menos no versículo 11:
 Não estou dizendo isso porque esteja necessitado, pois aprendi a adaptar-me a toda e qualquer circunstância.
Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade.
Tudo posso naquele que me fortalece.
    Talvez muitos de nossos irmãos, e nós mesmos precisamos reaprender a contentar-nos com o que temos, e a passar aperto, dizendo com alegria: Posso todas as coisas naquele que me fortalece.

     Hoje eu posso falar com tranquilidade que nós estamos em crise, sim. Se alguém discordar de mim, leia pelo menos o título do editorial do jornal da minha denominação: “A bênção de Deus não nos abandona mesmo nos momentos de crise”. Amém, pastor José Wellington.

    

Um comentário:

  1. É de muita sabedoria está mensagem,realmente estamos em crise mais Deus ha de nos suprir

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