segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Cordas humanas: Laços de Amor

          

          “- Sirvo a Deus porque tenho medo do inferno.
            - Continuo casado com meu marido porque tenho medo de morrer de fome.
            - Estou casado com minha mulher porque assumi essa obrigação diante de Deus e da Igreja.”
           Estamos falando de porquês. Estamos falando de motivos. Estamos falando daquilo que nos liga, que nos vincula, nos relacionamentos.
            O que me mantem ligado a Deus? O medo do inferno?
            O que me mantem ligado ao meu cônjuge? A obrigação legal do matrimônio? O medo da incerteza de viver sozinho?
            Perguntando de outra forma:
            Qual o vínculo que nos une a Deus?
            Qual o vínculo que nos une enquanto família?
            Quase nunca paramos para pensar nestas coisas, mas elas são de grande importância para nossas vidas. Vínculos, elos de ligação.
            Passamos a integrar nossa  família quando nascemos, ou quando escolhemos aquela pessoa para casar. Também nos vinculamos à família de Deus quando nascemos de novo, quando escolhemos seguir a Cristo.
           Houve um fato inicial que nos uniu, que nos integrou, que nos sinalizou uma identificação comum. Esse fato inicial ficou no passado, faz parte da nossa história: Foi a paixão e o amor ardente por aquela moça ou aquele rapaz, que resultaram num lindo casamento. Foi o nascimento daquele filho esperado que nos fez sentir pela primeira vez a alegria de ser pais. Foi a experiência de conversão, o dia em que aceitamos Jesus, a partir do qual passamos a ser seguidores dEle.
            Mas, e daí? E então?
            Passamos a integrar uma família, isso significa viver junto. Isso significa compartilhar o cotidiano. Significa servir uns aos outros. Significa conhecer-nos em maior profundidade. Conhecer as exigências do outro, abrir mão de muita coisa para poder compartilhar a vida em comum.
            Eis a nossa pergunta inicial: O que nos liga uns aos outros? O que nos mantem vinculados?
            Por que permanecemos casados? Por que permanecemos unidos a Deus?
            O medo tem sido o principal vínculo de muitos relacionamentos.
            Muitos estão unidos a Deus por medo do inferno. Muitos estão unidos a suas famílias por medo das incertezas da vida, ou da condenação das pessoas (o que vão dizer de mim?).
             Mas o medo é um vínculo pesado demais, duro demais, angustiante demais. A vida se torna demasiadamente pesada quando o vínculo é o medo. Quem está ligado ao outro pelo medo, na realidade é um prisioneiro do medo. Alguém dizia que “A única liberdade real é a liberdade de não ter medo” (Aung San Suu Kyi).                    
            O medo, a obrigação (sou alguém que assume as responsabilidades, sou portanto obrigado), o vínculo legal (me casei com você de papel passado), podem ser  laços fortes, difíceis até de serem quebrados, mas não são os vínculos ideais. Porque não nos tornam felizes, nos tornam prisioneiros do medo, da obrigação, da lei.  
            Qual é a alternativa? João nos responde:
            No amor não há medo, pelo contrário, o perfeito amor elimina o medo, pois o medo implica castigo, e quem tem medo não está aperfeiçoado no amor.” I Jo 4.18
            Somos desafiados a cultivar outro vínculo, o vínculo do amor. Mas o amor é um laço frágil, não tem a força da legalidade, não apresenta o castigo do medo, não sinaliza com a obrigação.
            De que então, se utiliza o amor para consolidar os vínculos entre Deus e o homem, entre as pessoas de uma família? Se não faz uso do castigo, nem da legalidade, nem da obrigação?
            Deus nos responde através do profeta Oséias contando-nos a história de seu vínculo de amor para com seu povo, Israel:
           Quando Israel era menino, eu o amei, e do Egito chamei o meu filho. Quanto mais eu os chamava, mais se afastavam de mim; sacrificavam aos baalins e queimavam incenso às imagens esculpidas. Porém eu ensinei Efraim a andar; eu o carreguei nos braços; mas eles não entendiam que era eu quem os curava. Eu os atraí com cordas humanas, com laços de amor; fui aquele que lhes tirou o jugo do pescoço e me inclinei para alimentá-los.” (Os 11.1-4)
            Como se consolida o vínculo do amor?
            Em primeiro lugar, amando. “Quando Israel era menino, eu o amei”. Amando incondicionalmente, amando sabendo das exigências que este amor nos faz. Exigências de paciência, afinal nem sempre este amor é correspondido na mesma intensidade. Amando mesmo sem ser correspondido. Quanto mais eu os chamava, mais se afastavam de mim.
            Em segundo lugar, com demonstrações de afeto: “Eu ensinei Efraim a andar, eu o carreguei nos braços...” Quem ama se importa com o crescimento do outro, está  disposto a carregá-lo nos braços. Não mede esforços em fazer algo pelo outro. Embora que não haja reconhecimento pelo que se faz.
            Em terceiro lugar, reforçando os laços de amor. Os laços de amor são frágeis, podem ser ignorados, esquecidos, negligenciados, por isso são chamados de cordas humanas. São atos de amor realizados pelos homens, que o próprio Deus afirma que também os utilizou para atrair os homens.
            Em quarto lugar, aliviando e alimentando. “Lhes tirou o jugo do pescoço e me inclinei para alimentá-los.” Precisamos nos importar de tal maneira que busquemos aliviar o outro, tirando-lhe o jugo do pescoço, e alimentando-o com amor, com afeto.
            Percebem a fragilidade destes laços? A humanidade destes vínculos?
            Deus poderia atrair o homem com a ameaça do castigo, mas prefere atraí-lo com cordas humanas, com laços de amor. Para atrair a humanidade, Jesus faz a maior demonstração de amor. Morre na cruz, em lugar do homem. Esta é a grande demonstração do amor de Deus (Jo 3.16). E Jesus afirma: “Quando for levantado da terra, atrairei todos a mim” (Jo12.32).
           Este Deus que atrai o homem com demonstração de amor, também quer que estejamos vinculados a ele, pelo amor.  O fariseu Simão estava vinculado a Cristo pelos laços da obrigação, mas de repente percebe que uma mulher pecadora estava vinculada ao Mestre pelo amor:
            Vês esta mulher? Entrei em tua casa, e tu não me deste água para os pés; mas ela os molhou com suas lágrimas e enxugou com os cabelos. Não me cumprimentaste com beijo; ela porém, não pára de beijar-me os pés desde que entrei. Não colocaste óleo sobre a minha cabeça; mas ela derramou perfume sobre meus pés. Por isso te digo: Os pecados dela que são muitos, lhe são perdoados, pois ela amou muito...”  (Lc 7.44-47)
            Qual o vínculo que nos une ao Mestre? Só o amor faz nossas lágrimas brotarem aos pés do Senhor. Só o amor nos faz assumir uma atitude de humilde contrição ao beijar-lhe os pés. Só o amor nos faz entregar algo valioso ao Senhor. Nada disso o fariseu fez, embora tivesse recebido Jesus em sua casa.
            Qual o vínculo que nos une aos nossos familiares? Esposo (a) e filhos?
            Estamos empenhados em consolidar os frágeis vínculos do amor? Amando, demonstrando afeto, reforçando os laços de amor, aliviando e alimentando?
            As cordas humanas do amor são muito sensíveis, precisam ser reforçadas a todo momento, porque nos esquecemos, porque nossa necessidade de afetividade é constante, porque somos ingratos, porque muitas vezes nosso amor não é correspondido, ou não correspondemos o amor na mesma intensidade que o recebemos.
             Não foi à toa que o vínculo do amor tornou-se um mandamento, maior que todos os outros:
            Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento, e o próximo como a ti mesmo.” (Lc 10.27)
            E quantas vezes o nosso próximo está dentro de casa? Talvez tenha sido por isso que Paulo escreveu tão forte palavra de condenação para quem não cuida dos seus (I Tm 5.8). 
            Nossos relacionamentos serão mais leves, mais prazeirosos, menos estressantes, se substituirmos o medo e a obrigação pelo amor. Será que não é isto que estamos precisando? Ainda há tempo de recomeçar! 
          E acima de tudo, revesti-vos do amor, que é o vínculo da perfeição.” (Col 3.14)

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