quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Já que estamos falando de crianças...

  ... Os ateus de plantão afirmam que a fé é um sentimento infantil. Os afetos religiosos denotam dependência, um filho dependente de um pai, precisa ser guiado, conduzido. Talvez seja por isso que Jesus disse que precisávamos nos fazer como crianças para herdar o reino dos céus (Mc 10.15). Eles estão certos [os ateus]. Eu sou um exemplo disso, afinal sou um homem feito, mas ainda sou dependente... dependo de Deus, do seu amor, do seu carinho, de sua proteção.

   Quem deixou de ser criança, e já é dono de seu nariz, rejeita a orientação paterna, não quer que ninguém lhe diga o que fazer. O Pai para ele morreu. Coitado. Está órfão.  Ficou adulto.
     Não sou Peter Pan, mas espiritualmente vou continuar criança. Criança que ainda ora quando acorda, quando come, quando vai dormir... que pede ao Pai que seja o meu guia  na tomada de decisões. Criança que num púlpito não fala as suas próprias palavras, mas as palavras que o Pai manda! Ainda bem que eu continuo tendo Pai.
    Queria dizer pra vocês que é muito bom ter Pai.
   Crianças gostam de carrinho, de aviãozinho, de barquinho... Quem não brincou de barquinho de papel? Hoje eu ia pro trabalho e pensando... Quando era garotinho eu aprendi lindas músicas de barquinho. A minha preferida não era cantada por um menininho. Era um senhor com cara de vovô: Feliciano Amaral.



     Era um poema com uma ou outra palavra difícil, mas era tão belo, tão puro, que um garotinho de 2 ou 3 anos escutou tanto que passou a cantar também, falando as palavras do seu jeito. Ainda hoje não sei bem o que significa FANAL:

Noite azul, céu sereno
Num barco pequeno,
Vou deslizando no mar
E a brancura da lua,
Nas águas flutua,
Numa beleza sem par.

De longe parece ouvir-se uma prece,
No vento, nas ondas, na espuma quem em véu
Emoldura o caminho que passa o barquinho,
Seguindo as estrelas que o guiam do céu

Mas em dado momento, transforma-se o vento
Cessa da lua o clarão
E o mar tão bravio é um desafio
Ao barco sem direção

Com voz de lamento, do meu pensamento
Orei ao meu mestre, com fé sem igual
E voltou a bonança, vitória se alcança
Olhando pra Cristo, o eterno fanal.


    Da brincadeira com barquinho a ser o próprio barquinho na metáfora do poeta, foi um caminho natural. Me vi na canção como o barquinho que às vezes navega num mar tranquilo, às vezes tudo se transforma e vira uma confusão. Mas o que fazem os filhos quando temerosos? Gritam,  Papai, papai. Naquela época eu nem sonhava que um dia eu também teria filhos, e que para eles eu seria uma referência de abrigo e proteção.
    Coisa de criança “com voz de lamento orei ao meu mestre, com fé sem igual...” Fiz isso no carro hoje de manhã. Dirão os ateus com razão: Criança, não cresceu. Verdade.


    Ainda criança, outro poeta fez questão de consolidar em minha mente e coração a metáfora do Ezion/Barquinho. Também trazia expressões ainda hoje incompreensíveis, imagina naquela época para um garotinho. Esse era jovem e bonitão: Ozeias de Paula, com a sua Canção do Nauta:

Que ternura, são calma as ondas do mar...
Meu barquinho, desliza sutil sob o nume solar.

Tal qual aventureiro que vaga no mar aquém
O meu barquinho deslizando vai pois descanso e dulçor
Há no porto além.

Se algum dia feroz temporal açoitar
Prontamente eu sei que Jesus há de vir me amparar.

Entre as ondas levanto os meus olhos pra o céu
E suplico vem cristo Jesus pilotar meu batel.


    Dizem que homens não choram, mas meninos choram... estou chorando. Choro sempre. Chorando porque no meu barquinho está meu Pai, a me conduzir, guiar e amparar... Feliz Dia das Crianças!


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