sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Trânsito em Fortaleza: Uma festa à fantasia

   Hoje eu estava dirigindo, no meu trajeto de casa para o trabalho e tive uma idéia que, inicialmente reputei como louca, depois refletindo melhor achei-a original, embora que ainda meio doida! Motoristas em seus carros no trânsito formam uma espécie de festa  à fantasia...

   Vejamos o que os meus neurônios construíram:
    No trânsito não estamos fantasiados ou mascarados, porém, estamos todos  escondidos dentro de um veículo que permite se ver muito pouco de quem o ocupa (especialmente numa cidade como Fortaleza onde o calor e a luminosidade exigem fumês cada vez mais potentes, e ar condicionado ligado no máximo).   Quem vai para um baile à fantasia  pretende ocultar-se por trás de um disfarce ou uma máscara cuidadosamente escolhida, que normalmente corresponderá  à fantasia do mascarado.
    Nosso carro, cuidadosamente escolhido, pode ser nossa fantasia... Será que não é? Fantasia de poder, de beleza,  de status... Dentro de um carro lindo tem cada motorista feio! Mas numa festa  à fantasia só o disfarce se percebe, e é lindo! Deixa todo mundo de queixo caído: Que beleza! A feiúra fica escondida... só o espelho do retrovisor interno teima em revelá-la!

   Fantasia de parecer ser pobre quando se tem demais. Não posso deixar de me lembrar do finado Henrique W. Um engenheiro judeu aposentado do Banco do Brasil podre de rico. Lenda viva no mundo dos unha-de-fome.  Nunca casou. No fim da vida noivou com uma moça mas não teve coragem de casar, afinal seria muito gasto!  Ia todos os dias ao Banco para comer do lanche dos funcionários, mas diziam as más línguas que realmente ele tomava ali o seu café da manhã.  E... Sr. Henrique andava num fusca velho caindo os pedaços. Dava até dó. O rico em sua fantasia de pobre. Na verdade para afastar qualquer um que pudesse ameaçar sua riqueza, mesmo que fosse para pedir uma esmola!
    Numa festa à fantasia  loucuras são cometidas, afinal ninguém descobre a identidade do mascarado/fantasiado, e de fato por trás do disfarce  o indivíduo age sem reservas mostrando quem realmente ele é, sempre com a desculpa do personagem da fantasia. Seja através de ações descontroladas, provocações... agressões.
    No trânsito, pelo menos o que eu vivencio diariamente na ensolarada metrópole alencarina, muita gente põe as “garras de fora” ocultada pelos vidros fumês com visibilidade cada dia mais reduzida.  É o desrespeito nu e cru. É a esperteza de entrar na contra-mão numa rua estreita desrespeitando os demais motoristas que estão na fila do engarrafamento, e depois entrar sorrateiramente na frente dos demais quanto confrontado com um caminhão à sua frente. É a atitude essencial de um bárbaro, que não podendo despejar sua barbárie de peito aberto, para não se tornar motivo da crítica social, o faz de dentro de seu carro, onde está coberto pelo anonimato e protegido pela máscara do seu automóvel.
   É... acho que a alegoria não é tão louca assim, faz algum sentido.  E eu participo diariamente desta festa à fantasia, aberta democraticamente a todos que se dispõem a dirigir nas ruas das  grandes metrópoles. Em meu carrinho popular, resolvi participar fantasiado de Ezion!

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