Lagartas são
bichos asquerosos. Feias. Destruidoras. Só comem tudo que está pela frente.
Algumas têm aspecto bem terrível. Umas têm chifrinhos, outras têm pelos que
queimam... Algumas pessoas apresentam verdadeiro pavor por lagartas. Minha tia
Ruth é uma delas. E contam que no casamento da minha mãe, quando ela foi calçar
o sapato tinha lagartas de coqueiro lá dentro. Como elas chegaram ali? Ninguém
sabe. Mas foi uma loucura de gritos pavorosos.
Quase que não tinha casamento.
Hoje de manhã eu fui
caminhar no nosso jardinzinho, ouvindo os passarinhos e sentindo os raios de
sol do alvorecer. Observei meu “pezinho” de limão com muitas folhas devoradas.
Me aproximei mais cuidadosamente e vi, pelo menos três ou quatro. Naquela hora
da manhã estavam dormindo. Possivelmente digerindo as folhas que tinham
devorado durante a madrugada. Feias, meu Deus! Pelo amarronzado, pareciam
pequenas serpentes.
Fiquei lembrando quando eu era garoto. Influenciado por minha
tia, que tinha horror a lagartas, sempre que via uma, eu corria para matá-la.
Agora, compreendendo melhor a natureza e os homens, vejo que não faz sentido
destruir aquele pequeno ser asqueroso. Porque há um mistério na natureza
chamado metamorfose, e aquela lagarta nojenta vai se transformar numa linda
borboleta... questão de tempo! Mas quem quer esperar pra ver? Melhor se livrar
logo da lagarta feiosa.
Fui pesquisar e
descobri que as lagartas de nosso pequeno limoeiro são do gênero Heraclides, e
de fato seu aspecto lembra pequenos répteis ou seres de ficção científica.
Descobri também que aquela lagarta horrorosa vai se transformar (se ninguém
intervir desastrosamente no seu curso) numa borboleta do gênero Papilio, família Papilionidae. Quando eu era
garoto, lá em casa tinha um quadro de borboletas empalhadas. Fiquei pensando,
nunca vi falar de um quadro de lagartas empalhadas.
Me veio então uma
pergunta: Como teremos borboletas se não suportarmos as lagartas? A metamorfose
não se encontra apenas entre as lagartas. Há metamorfose também no mundo dos
homens. Há mudança, há transformação. Podemos ter esperança porque metamorfoses
ainda são testemunhadas. Nós todos em algum momento somos gente-lagarta. Lagartas
que ao fazerem coisas feias se tornam asquerosas. Outras lagartas querem
distância de nós. Alguns (que se dizem mais evoluídos) querem tirar logo as
lagartas do seu campo de visão.
Pergunto
novamente: Como teremos borboletas se não suportarmos as lagartas?
Para quem é
cristão, sabe muito bem que o ensino paulino é que até a Parousia, vivemos num
corpo corruptível qual lagartas nojentas, mas a metamorfose ocorrerá e o que é
mortal se revestirá de imortalidade (I Co 15.50-57). Quem está na igreja sabe muito bem que somos
lagartas entre lagartas, mas a natureza divina está silenciosamente sendo
gerada em nós através do Espírito Santo, e nos transformando naquilo que somos “Imago
Dei”. Tempo de lagarta é um período, breve. Entretanto, para que tenhamos
borboletas, suportemos as lagartas!
Seu texto me fez lembrar automaticamente de um trecho de O pequeno príncipe e Antoine de Saint-Exupéry:
ResponderExcluir"Disse a flor para o pequeno príncipe: é preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas".
Suportar lagartas nunca é muito fácil, ás vezes causam medo, nojo, pavor... mas como já foi dito, sem elas é impossível ver as borboletas.
Quanto a nós, é preciso que suportemos o período de lagarta, em que muitos nos desprezarão, em que muitos não farão caso de nós ou até tentarão nos matar para sermos transformados, para recebermos o corpo incorruptível.
Paz :)
Sensacional analogia, mestre Geber!
ResponderExcluirDesconheço qual o tempo de duração das nossas amiguinhas feiosas mas, como disse Moisés em Salmos: "Os anos de nossa vida chegam a setenta, ou a oitenta para os que têm mais vigor; entretanto, são anos difíceis e cheios de sofrimento,
pois a vida passa depressa,
e nós voamos!
Enorme e saudoso abraço!
Ótima palavra,
ResponderExcluirQue Deus continue lhe abençoando maravilhosamente!
A Paz do Senhor.