Ano passado fui com meus filhos para uma
manhã na Pinacoteca de São Paulo. Agora estou revendo as fotos e posso
assegurar que uma passada lá faz um bem danado para a alma e à sensibilidade de
qualquer ser humano. Às vezes falamos do Rijksmuseum
de Amsterdam, ou do Museu d’Orsay, do Louvre
e Versailles em Paris, ou do Museu
Britânico e da National Gallery, ou do Museu
do Prado em Madri, da Galeria Uffizi
em Florença, ou da Academia em
Veneza, ou mesmo dos Museus do Vaticano...
mas não valorizamos o que temos debaixo do nosso nariz. Quem não pode
atravessar o oceano para apreciar os museus de arte do hemisfério norte, pode
descer na Estação da Luz, e a partir do trem urbano ou do metrô adentrar no
mundo da arte.
Alguns quadros me causaram impacto peculiar. Certas obras retratam
situações cotidianas, outras eternizaram na tela um sentimento, uma expressão...
Praia de Biarritz é um enorme quadro de Paul Michel Dupuy,
datado de 1913... há um século!
Ocupa quase toda uma parede, mas chama a atenção principalmente por
retratar um mundo de costumes tão diversos, quanto o de hoje. O pintor conseguiu transpor para a tela a
forma como as pessoas viviam, como se relacionavam...
Parece
que a praia era destinada ao lazer e folguedo das crianças. As mulheres,
tanto mães como babás estão ali, não para curtir a praia, e sim para cuidar dos
pequenos. Não se veem homens buscando o lazer na praia. Os pequenos núcleos
familiares se espalham no cenário, sempre com a presença infantil.
As roupas eram sóbrias, cobrindo todo o corpo.
A presença das babás registra o alto nível dos frequentadores do espaço...
parece que não era frequentado pelas classes menos favorecidas.
2013... cem anos depois. Pensei em ver como está a Praia de Biarritz...
Vi que continua sendo um espaço muito procurado
para o lazer, continua sendo uma praia badalada. Não é mais exclusiva dos
ricaços, nem apresenta mais exclusividade para a criançada, todo mundo anda de
roupa de baixo, e estas são mínimas! Somente as areias, as ondas e o calor de
Biarritz continuam os mesmos!
Outra obra que me chamou a atenção foi “Saudades de Nápoles”, um quadro pequeno, obra da francesa Berthe
Worms, 1895.
Nessa tela a saudade não é uma abstração,
não é algo difícil de se definir... Ela se materializa, se incorpora, ela
transforma-se e está espelhada no olhar dessa criança... É um menino que
está sofrendo pela dureza da vida que
lhe foi imposta. A calça remendada e rasgada nos joelhos, indica o trabalho
duro do engraxate que se ajoelha para cumprir seu ofício. Os sapatos estão em
petição de miséria. Parece que a exaustão o levou a sentar por um minuto num
banco de concreto ao pé de uma parede caindo o reboco. Encostou o rostinho em seus instrumentos de
trabalho, a caixa de engraxate, encimada pela escova... a pintora capta esse
momento e a expressão daquele rosto, que tem um nome: Saudade. É um olhar que é um
misto de ausência, de nostalgia, de cansaço, de esperança, de sonho...
Saudades!
Quem tem um encontro com a arte nunca fica
insensível! Vai lá, e conta também sua história.
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