Liderar parece ser algo absolutamente
simples. Quem olha as ações de um líder e almeja a liderança, normalmente fica
pensando que no lugar daquele líder, faria muito melhor! Fala-se dos grandes
líderes do passado e do presente, e comenta-se sobre seus feitos como se fossem
as coisas mais banais do mundo.
Alguém pode dizer: Alexandre, o Grande foi um grande conquistador grego
que subjugou o império persa e estendeu seus domínios até a Índia; Charles Spurgeon foi um pregador inglês que criou
uma rede de assistência social e sacudiu a Inglaterra com seus sermões; Pastor Emiliano foi um líder pentecostal que consolidou o crescimento da Assembléia de
Deus no Estado do Ceará. Falar dessa forma parece que o legado dessas pessoas
foi algo muito simples, e suas realizações enquanto líderes parece ter sido
algo muito natural, espontâneo...
Eu diria que a liderança é das mais complexas artes existentes na labuta
humana. Liderar, meus caros, é muito mais complexo do que parece.
O mercado editorial é repleto de publicações que se propõem a ensinar a
arte de liderar: Aprenda a liderar com Napoleão Bonaparte, ou com Alexandre, o
Grande, ou com Jesus Cristo... Toda a
literatura tem sua validade e é possível, obviamente, obter grande aprendizado
com a história dos líderes do passado. Mas seria isso suficiente?
Talvez a fonte da maior parte dos fracassos dos líderes da atualidade
seja exatamente a aplicação dos métodos utilizados por outros, noutro tempo,
noutra situação, noutro lugar. Como a maior parte do que se faz em ciências
humanas, não é possível em liderança garantir êxito com experiência passada. Não
se pode fornecer receitas sobre como fazer a partir do que aconteceu com
outros. Podemos trabalhar com princípios, que nortearam experiências exitosas. Mas é preciso algo além dos princípios...
Algo que está ligado à percepção do líder...
É preciso que o líder saiba quem são e como
agem (e reagem) os seus liderados, para que ele possa posicionar-se e
desenvolver uma relação sadia com os mesmos, e possa levar a efeito os desafios
propostos.
Para nós que atualmente trabalhamos com a liderança de jovens na igreja,
nossos liderados constituem o que os sociólogos chamam de geração Y. Esta classificação envolve os nascidos após
os anos 80. É uma geração que se deparou com o “boom” da rede mundial de
computadores/internet, e o surgimento de uma nova tecnologia da informação,
fato este que modificou substancialmente as relações humanas.
Não se pode lidar com esta geração da mesma forma que meus líderes
lidaram comigo. É preciso conhecer as características desta geração para que
possamos desenvolver um relacionamento que lhes faça assumir o papel de
liderados. E quem é esta geração Y?
A geração Y é uma geração que “sabe das coisas”. A geração anterior
assumia que não sabia das coisas, e o líder era aquele que sabia (ou deveria
saber), e portanto era alguém em quem se podia depositar a confiança, alguém
que podia ser seguido. A idade, a
formação, a experiência, tudo contava para que o líder pudesse ser alguém cujo
conhecimento, ou bagagem o credenciavam para a liderança. E as pessoas
precisavam de um líder... sentiam necessidade de alguém para seguir, para
direcioná-las...
A
geração Y é uma geração que sabe das coisas. Não precisa de ninguém que a
ensine, não quer saber de ninguém que a direcione. A autonomia da geração Y
tira do caminho qualquer pessoa que possa estar ali para orientar. Quem precisa
de orientação?
A geração Y é uma geração que sabe das
coisas. É uma geração que acessa o Google
que imediatamente, e sem gaguejar, responde todas as suas questões. E quando,
mesmo assim, ainda há alguma dúvida, faz-se uma conferência nas redes sociais,
com os “amigos” virtuais que discutem a situação, e chega-se a alguma
conclusão.
A geração Y quer ser protagonista da sua própria história. É uma geração que não quer que outros façam
por si. Ela quer fazer, do seu jeito, de sua forma, com a sua cara. Não adianta
chegar para alguém da geração Y pedindo que algo seja feito, e que seja feito
“assim ou assado”. Nada vai acontecer...
Quem vai liderar a geração Y precisa saber
que sua liderança não é aceita pelo simples fato de que ele foi colocado
naquela posição, isto é, há uma liderança institucional. Ele precisa conquistar
o seu espaço de liderança no coração dos liderados. Eles vão avaliar cada
passo, cada ação daquele líder, para concluir se ele pode assumir em suas
vidas, e na vida do grupo o papel de líder.
Ora, se esta geração sabe das coisas, não
precisa de ninguém que a ensine, nem oriente, nem direcione, é autônoma...
Ainda há lugar para um líder? A resposta é positiva. Apesar de tudo, é uma
geração consciente de que quer deixar sua marca na história. De que quer ir a
algum lugar. De que não quer passar despercebida na existência. E isso só é
possível se houver alguém que ocupe o papel de liderança em suas vidas, na vida
do grupo.
A liderança é um lugar a ser
ocupado no coração da geração Y. Não da forma tradicional, que estávamos
acostumados. Não de forma impositiva, não apenas institucionalmente. É preciso
conquistar, ganhar a confiança...
O líder hoje que
ignorar estes fatos está definitivamente fadado ao fracasso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário