Estou participando de um encontro de líderes cristãos... ninguém pode
prever o que vai acontecer num encontro. Encontros podem significar o começo de
algo novo, ou o fim de algo existente. Embora existam encontros de onde se sai
do mesmo jeito, nada acontece... e a gente
volta sem nada pra contar, nada foi acrescentado, nada mudou. Claro que
depende muito da disposição dos que se encontram... às vezes existe coisa nova
no ar, boas propostas, mas um dos lados não abre mão de suas crenças, de suas
certezas, é irredutível em suas posições, é insensível em sua avaliação do que
se apresenta, vê com desdém ou cinismo o outro e o que ele traz... então não
nasce coisa nova do encontro... não nasce um novo momento, não nasce uma nova
perspectiva, nem um novo amor, nem uma nova missão...
Este 40º Encontro da SEPAL, definitivamente não está se mostrando um encontro
insosso, uma mera formalidade, mais um evento... verdade é que eu vim com o
coração e a mente aberta para algo novo... na verdade nunca consegui deixar de
lado o meu (agora velho) coração de estudante... E de alguma forma este
Encontro foi um re-encontro com o meu passado. Ouvir o Asaph Borba dirigindo o
louvor, e ser ministrado pelo pastor Jerê, me fez voltar 20 anos antes, quando
eu ainda era um seminarista cheio de sonhos, e participava do Congresso da
VINDE, em Recife... talvez alguns até se escandalizem, mas eu ainda continuo o
mesmo garoto ávido por conhecimento e com o senso de que pouco sabe para as
tarefas que estão por vir à frente... não perdi o coração de estudante!
Imagine que você vai a um encontro e
chegando lá alguém lhe apresenta algo que contradiz seu paradigma, e o desafia
a abraçar outro paradigma. Seu orgulho é o primeiro a protestar. Já está tudo
tão arrumado na cabeça, tudo tão organizado... tá funcionando, e vem você
apresentando algo que lhe confronta, que lhe move a sair da sua zona de
conforto, a questionar suas crenças, a ser desafiado a abandonar seus
paradigmas... Foi isso que me aconteceu nesse encontro...
Com Asaph Borba
Pr. Jeremias Pereira, ou simplesmente pastor Jerê, como o conhecemos no século passado, continua nos trazendo uma mensagem profunda de Deus, com um carinho peculiar e com aquele senso de humor mineiro que só ele tem. Agora com os cabelos brancos...Falou-nos sobre a mensagem de Deus a Israel: Eu é que sei os planos que tenho pra vocês... desafiou-nos a ver a vida sob o prisma da inescrutável soberania de Deus. E ele pode falar disso, ele que perdeu a querida esposa ainda muito jovem há mais de 10 anos... e ficou com os filhos pequenos, na época ele escreveu "Quando as coisas vão de mal a pior"... Não é um texto de auto-ajuda!
Pr. Jerê
O tempo vai passando e a gente vai consolidando nossas ideias, nossos
conceitos... e eles vão se tornando em paradigmas, que são nossa maneira de
entender o mundo e agir sobre ele. (Claro que este é um conceito meu, mas que
não deve ficar tão distante do conceito acadêmico proposto por Thomas
Kuhn). A repetição das coisas e a taxa
de sucesso das mesmas nos fazem consolidar nossos paradigmas... talvez ele
tenham se iniciado moles, flexíveis, mas vão endurecendo com o tempo. E não
apenas isso, mas passamos a vê-los com carinho, passamos a protegê-los, e
atacamos todos que querem alterar nossos paradigmas. É como se isso fosse
roubar parte de nós. Afinal são frutos de nossas vivências, nossas reflexões,
nosso aprendizado... enfim é algo nosso!
Pr.
Marco Veja veio de El Salvador, magrinho, fala mansa, simples... pastoreia a
igreja Elim, um organismo em células (óbvio, todo organismo tem uma estrutura
celular...). Apresentou-nos um panorama do livro de Atos dos Apóstolos como eu
nunca tinha percebido antes (olha que eu tive a oportunidade de lecionar
durante alguns anos o livro de Atos, no meu querido STPN). Mostrou-nos os registros de Lucas em Atos como
a relutância da igreja em Jerusalém em abrir mão dos seus paradigmas da lei
mosaica de relacionamento com Deus, para abraçar os novos paradigmas da
graça... fez links com a carta aos Gálatas demonstrando que, de fato Pedro, não
obstante toda a insistência divina, continuava agarrado aos seus velhos
paradigmas...
Pr. Jeremias e Pr. Marco Vega também
trabalharam com o texto de Jer 29.4-11... um povo de Deus em Babilônia,
conclamado a interceder pela cidade em que estavam, a trabalhar pelo Shalom
(pela prosperidade, pela paz) daquele lugar, a plantar pomares, a fazer
aumentar o povo de Deus...
Dr. Bishara Awad veio de Belém, da Cisjordânia.
Ele é palestino, cristão, fundador e diretor da Faculdade Bíblica de Belém.
Começou trazendo o Salmo 11.3: “Quando os
fundamentos são destruídos, que pode fazer o justo?” Falou sobre sua
história... sua família. Seu pai morreu na guerra de 1948, e sua mãe foi
acolhida com os filhos na casa de muçulmanos, em Jerusalém. Falou sobre a
ocupação da terra pelos israelenses... como na época dos romanos... agora os
judeus são os ‘opressores’. Mas falou sobre o sublime amor de um judeu chamado
Jesus, amor este que constrange os cristãos palestinos a amarem seus irmãos
israelenses e orar por eles. Falou sobre a segunda milha...
Pr. Bishara e Marco Cruz (da Missão Portas Abertas)
Pensei nos meus paradigmas que me
faziam ver os palestinos como as pedras no sapato de Israel. Pensei na minha
educação que me inculcou um Israel triunfante... e eu li as biografias dos pais
da nação de Israel, como Golda Meir, Moshe Dayan, Ythzak Rabin... e vibrei com
cada vitória de Israel nas guerras de 1948, do Sinai em 1956, dos Seis Dias em 1967
e do Dia do Perdão, em 1973.
Agora estou ouvindo um cristão palestino
falando do amor de Jesus (nas palavras do professor Geza Vermes, Jesus, o
Judeu), falando do verdadeiro aprendizado da Segunda Milha...
É muito confronto, é muito paradigma a ser
abandonado... que Deus me ajude...
E ainda não terminou... hoje ainda tem o Miss.
Ronaldo Lidório
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