Como qualquer outro conhecimento, o
conhecimento de Deus não se dá de imediato, é um processo, envolve a história
das pessoas, e os atos de Deus. É claro que conhecer a Deus é algo muito mais
complexo de que conhecer uma casa, um livro, um vizinho. Conhecer pessoas é
mais complicado do que conhecer coisas, porque as pessoas podem não mostrar-se
quem de fato elas são.
Conhecer a Deus diz respeito a um
entendimento de um Ser transcendente, a
apreensão da natureza do Senhor do Universo. Não nos parece algo muito simples.
Os agnósticos e os céticos afirmam que o
conhecimento de Deus é algo impossível. Na verdade, o conhecimento de Deus só é
possível, porque Ele se dá a conhecer.
Por isso Deus diz a Jeremias: Mas
o que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer... (Jer 9.23). O Grande Deus, o Criador de todas as coisas
se aproxima e começa a conversar conosco através das palavras e verdades das
Escrituras, e do seu agir no nosso dia-a-dia.
Não se trata apenas de ler a bíblia. Trata-se de ler com o desejo de nos
aproximarmos de Deus. É lendo com a
seguinte indagação: Como é que Deus me fala aqui e me chama a um amor mais
generoso? A uma relação diferenciada com Ele? Uma leitura da Palavra que
resulte em maior conhecimento de Deus
consiste em ler estando atentos interiormente às moções do Espírito de Deus na
nossa vida exterior e interior... assim, estaremos nos deixando ler por
Deus!
Vejamos o que
aconteceu com Moisés:
Como um menino hebreu que cresceu no
palácio do Faraó, aprendendo da ciência da época e conhecendo todas as divindades
do panteão egípcio, Moisés sabia muito pouco do Deus de seus pais.
Vivendo no deserto, parece-nos que
tornou-se um homem apreciador da natureza, cuja lembrança do Deus de Israel era
muito vaga em sua memória. Por isso, quando algo sobrenatural lhe é mostrado
ele acha que é algo comum, e não tem discernimento para perceber que neste algo
espantoso, está o mistério de Deus! (Êx 3.1-4) Mesmo assim, por pura
curiosidade ele se aproxima da sarça ardente, sem saber que está dando o
seu primeiro passo no conhecimento de Deus. Registre-se que Deus se revela e o
ATRAI.
A
aproximação de Moisés é profana, leviana. Ele se aproxima daquele misterioso
fenômeno de forma comum, como se fosse algo próprio da natureza. De repente, percebe que há algo mais, quando
ouve uma voz: “Não te aproximes daqui.
Tira as sandálias dos pés, pois o lugar em que estás é terra santa.” (Êx
3.5) Moisés precisava discernir o
sagrado, do profano. Diante do Deus que se revela ele não pode portar-se
levianamente.
Deus se apresenta a Moisés, e este percebe
que trata-se de uma apresentação formal
do Deus de seus pais, que se dá a conhecer a ele:
Eu
sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó. (Êx
3.6) Neste momento, Moisés é tomado de temor e reverência e esconde o seu rosto, entendendo estar diante da
majestade Eterna (Êx 3.6)
Numa apresentação, saber o nome do
interlocutor é importante. Moisés pergunta: Qual o nome do Deus de meus pais?
(Êx 3.13) Deus responde: EU SOU O QUE SOU !! (Êx 3.14) Os israelitas
indagariam: Deus se apresentou a você?
Então como ele se apresentou? Que novo conhecimento ele permitiu que dEle você
tivesse?
Eu sou o que sou, ou Eu sou aquele que é. A
revelação do nome, não é apenas uma verdade teológica, é um apelo a uma
resposta de fé por parte de Moisés e do povo de Israel.
Vamos confiar nEle? Vamos entregar nossas
vidas e nosso destino a Ele? Vamos obedecê-lo?
A seguir, Deus trouxe uma maior
tranqüilidade a Moisés quando realizou uma série de sinais. Os sinais
endossariam a presença e o poder do Deus Invisível.
Moisés e Aarão tornam-se porta-vozes de
Deus, e entregam ao Faraó e a Israel a mensagem que o Senhor lhes manda. Mas nem sempre os resultados são os
esperados. Quando as expectativas são
frustradas, Moisés volta-se para o Senhor indagando, por que?
A
resposta de Deus revela sua longanimidade, sua paciência com o homem. Deus revela sua Graça e fala da história da
sua caminhada com Israel, um povo que inicialmente, não lhe conhecia pelo nome
(Êx 6.3), fala de sua misericórdia, de promessas de salvação...
Mas Israel está demasiado sofrido e
angustiado, para que pudesse aproveitar naquele momento, o Deus que se revela
para seu povo (Êx 6.9). Moisés e o povo testemunharam a liberação por Deus das
10 pragas do Egito. Celebraram a páscoa, conforme orientação divina,
prepararam-se para a partida... e puseram-se a caminho.
Em frente ao Mar Vermelho testemunharam
novamente a intervenção maravilhosa de Deus. Diante da grandeza dos feitos
divinos, Israel teme e crê (Êx 14.31), enquanto Moisés louva e canta.
Deus continua agindo, mas também entrega a
Moisés determinações, orientações, ordenanças, leis escritas. O caminho do
deserto é um caminho de aprendizado, de expansão do conhecimento de Deus.
Moisés e os anciãos de Israel sobem o monte, e têm uma visão de Deus (Êx
24.10-11)... Depois Moisés sobe sozinho e fica com Deus, no meio da nuvem (Êx
24-12-18).
Havia um lugar especial onde Deus
conversava com Moisés. Era a Tenda do Encontro, chamada também de Tenda da
Revelação, lá ocorriam as conversas de Deus com Moisés (Êx 33.7-11). A esta
altura, o conhecimento de Deus que Moisés apresentava já era muito amplo. As
conversas aconteciam como os diálogos entre amigos. (Êx 33.11)
Moisés poderia estar acomodado
com o nível de conhecimento já obtido. O que já era muito considerável! (Acomodação
no aprendizado, é quando atingimos um ponto no qual achamos que já dominamos
todas as verdades, ou seus aspectos principais, e paramos de nos empenhar no
estudo da palavra, no aprofundamento do conhecimento de Deus. Ficamos repisando
as mesmas verdades desprezando a riqueza de conhecimento que nos espera em Deus
e na sua Palavra).
Mas, não!! Moisés desejava
mais...
Agora me mostres os teus caminhos para que
eu te conheça.. a fim de que continue a achar favor aos teus
olhos (Êx 33.13)... Deus lhe responde: Irá a minha presença contigo para te
fazer descansar (Êx 33.14)... e os pedidos de Moisés para aprofundamento do seu
conhecimento de Deus são atendidos pois, ele achou graça aos olhos do Senhor, e era
conhecido pelo nome (Êx
33.17).
Ainda
não satisfeito, Moisés pede: Rogo-te que
me mostres tua glória (Kabod)... (Êx 33.18) A que glória Moisés se referia?
Afinal ele já vira a glória do Senhor (Êx 16.7), em tantas outras ocasiões!
Tua glória (KABOD)
Vale a pena, entender por um momento o que
Moisés queria dizer por tua glória. Não há dúvidas que o termo hebraico kabod
pode ser traduzido por glória na medida em que comunica a concepção de algo
ou alguém que tem “peso” ou até mesmo uma posição de honra e dignidade. O
termo, como substantivo e verbo, pode ser empregado tanto em relação ao ser
humano como em relação a Deus. Quando usado em relação ao ser humano expõe o
valor de seus bens materiais como também seu crédito e estima. Quando
relacionado a Deus revela seu poder e autoridade.
Alguns autores concordam que Israel
experimentou a kabod de Deus como um fogo devorador sobre o cume do Sinai. O
esplendor da kabod divina era tanto que nem mesmo Moisés pôde contemplar.
Entretanto, o pensamento de kabod,
no Pentateuco não se resume apenas a uma
coluna de fumaça ou fogo, mas também está associado a completa magnificência ou
grandiosidade da presença de Deus. Era
isso que Moisés buscava... Ver Deus de forma plena! Ampliar o seu conhecimento dEle!
A resposta do Senhor é:
Farei
passar toda a minha bondade diante de ti e te proclamarei o meu nome... e
agirei com GRAÇA (terei misericórdia de quem eu quiser ter misericórdia e me
compadecerei de quem eu quiser me compadecer) (Êx 33.19)
O
Kabod de Deus se revela a Moisés como
Graça... Bondade... Misericórdia... Não é fogo, não são demonstrações de grande
força... não. Um desfile de bondade, de
graça, e do Nome Santo de Deus. Esta experiência, definitivamente bastaria,
para Moisés. Séculos depois, João escreveria, que em sua essência, Deus é Amor
(I Jo 4.8)
O homem que um dia foi atraído por uma
manifestação sobrenatural de Deus sobre uma sarça, que queimava e não se
consumia, agora gozava do privilégio de passar diante de si, a glória (kabod) de Deus. Muito mais do que
manifestação de poder, Moisés testemunhava agora a essência do Deus de Israel,
Deus de Graça e de Bondade!
Às vezes continuamos girando em torno da
sarça, em nossa curiosidade e empolgação... Há algo maior, há algo mais
completo... busquemos ver a Glória (Kabod) do Senhor.
O que aconteceu com Elias? Um novo
Encontro, e um conhecimento diferente de Deus
Elias,
era um profeta com uma caminhada interessante no conhecimento de Deus. Acabara de vencer um embate com os baalistas,
e grande vitória espiritual fora obtida diante do povo de Israel.
Mas agora, ameaçado pela rainha Jezabel,
Elias teme e busca a morte em sua tristeza. No deserto um anjo vem servi-lo e
após alimentá-lo convoca-o a continuar a caminhada. (I Rs 19.7). Sobe ao monte
e entra numa caverna para pernoitar. Ali o Senhor lhe aparece e ele testemunha
uma natureza em fúria!!!
Terremotos, ventos, fogo...
A passagem do Senhor pela montanha
foi carregada de sinais naturais. Elias já conhecia todas essas manifestações.
Deus já se mostrara para ele como o Deus que envia fogo do céu (que consumiu o
altar do holocausto, na prova do Monte Carmelo, e também consumiu os capitães e
soldados que foram enviados para prendê-lo), como o Deus que controla as chuvas
sobre a terra, que domina sobre as aves do céu (que um dia lhe serviram pão e
carne)... mas naquele momento, Elias não necessitava de mais uma demonstração
sobrenatural de poder de Deus. Mas naquele momento Elias não conseguia enxergar
Deus em qualquer dos sinais... por isso diz o texto: O Senhor não estava no
terremoto... no vento... no fogo (I Rs 19.11-12).
Ele também ansiava pela Kabod de Deus... Mas esta Kabod não estava ali...
Nossa visão de Deus, às vezes é
extremamente reduzida. Estamos atrás dos terremotos, do fogo, dos furacões, dos
terremotos despedaçados... das demonstrações sobrenaturais de poder. Que já
conhecemos, que já testificamos. Mas buscar um aprofundamento no conhecimento
do Senhor, não é a busca por estas
coisas... é mais que isso.
Para
que haja um verdadeiro encontro com o Senhor, e deste encontro resulte
aprendizado, um novo conhecimento de Deus, é necessário algo mais que a revelação
divina. É preciso que o homem consiga
enxergar o Deus que dele se aproxima.
Tem a ver com a presente necessidade humana, e sua disponibilidade em
ver o invisível!!
Elias estava carente da presença, da
essência divina...
O Kabod
de Deus se revela a Elias como um Deus acessível de forma pessoal e
inteligível à necessidade humana: Uma voz mansa e suave (I Rs 19.12). Essa
voz também reflete a bondade e graça divinas...
Elias cobriu o rosto com a capa (I Rs
19,13), ao sair da caverna e ficar frente a frente com a kabod de Deus. Por que
ele fez isso? Porque desde Jacó (Gn
32.30), passando por Moisés, sabia-se que contemplar o Senhor significaria o
fim do homem.
Mas o cobrir o rosto nos fala de reverência,
de temor. Nossa relação com o Senhor precisa estar pautada na reverência. A reverência é mais do que uma emoção; é uma
maneira de compreender, é um ato de discernimento sobre um sentido maior do que
nós mesmos.
A reverência reflete-se no Ai de mim de
Isaías (Is 6.5). É o que sentimos quando deparamos com o mistério e com a
grandeza de Deus:
Poderás descobrir as profundezas de Deus?
Poderás descobrir a perfeição do Todo-Poderoso? A sabedoria de Deus é tão alta
quanto o céu. Que poderás fazer? Ela é mais profunda do que o Sheol! Que
poderás saber? Ela é mais extensa que a terra e mais larga que o mar... (Jó
11.7-9)
Na grandeza de Deus, em sua kabod, está o sublime. Aquilo a que tudo
o mais se torna pequeno se lhe for comparado!!! Essa sublimidade gera a
reverência em nós.
Elias era reverente, temente... a
reverência pelo Senhor é o começo da sabedoria (Sl 111.10). A bíblia não prega
a reverência como uma forma de resignação intelectual, não diz que a reverência
é o propósito da sabedoria... é o caminho... o início do caminho. Um homem não
temente não desfruta da companhia divina!! Ele não consegue discernir o
sagrado, o mistério, a kabod de Deus.
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