Chovia muito hoje de manhã. Eu estava dirigindo e na minha frente um carro andava devagar. Impaciente, pensei: deve ser um velho. Dito e feito, constatei ao ultrapassar grosseiramente o “velho lento”, e corri em busca do “tempo perdido”.
Depois que o motorista “velho” ficou para trás comecei a pensar: Podia ser meu pai... poderia ser eu daqui a uns anos. E por que a impaciência? E por que a ponta (do iceberg) de discriminação?
Constato que integro a parte culta da sociedade, com graduações que se enfileiram, cursos que se empilham, títulos que se sobrepõem, um status estabelecido... Definitivamente alguém que deveria ter assimilado a civilização. A etimologia nos indica que civilização vem do latim civis, que significa cidade. Civilizado é alguém que aprendeu a viver na cidade, com outras pessoas.
Estou sendo civilizado em minha impaciência no trânsito com o motorista idoso? Não obstante formação superior que indica anos e anos nos bancos escolares ainda não sou um homem civilizado... Agi como um homem das cavernas... um pré-histórico. Mas agi como alguém fruto da minha época: uma civilização que abriu mão dos valores, do respeito em troca do sucesso, da velocidade, da prosperidade a todo custo.
É tempo de refletir e repensar. Ainda posso pensar como jovem, agir e sentir como tal. Mas o tempo está passado. Breve perderei os reflexos, a acuidade visual não será a mesma... serei um velho. Um velho que não aprendeu a ter paciência!
O Eclesiastes chama a velhice de dias difíceis nos quais a visão escurece, os ouvidos se fecham, as pernas não sustentam mais o corpo, os dentes caem... Mas isto dito de uma forma poética, profunda:
“...antes que o sol e a luz, a lua e as estrelas se escureçam, e as nuvens voltem depois da chuva; quando os guardas da casa tremerem, e os homens fortes andarem curvados, e cessarem os moedores por já serem poucos, e os que olham pelas janelas se escurecerem; quando as portas da rua se fecharem; quando diminuir o barulho do moinho e acordares com o canto dos pássaros e silenciar o som de todos os cânticos; quando temeres a altura e te assustares pelos caminhos; quando florescer a amendoeira, o gafanhoto for um peso e o desejo já não se despertar...” (Ec 12.1-5)
Pensei como critico quem joga lixo na rua do carro, quem faz manobras proibidas... e digo: não são pessoas civilizadas... Do alto da minha civilização, da minha cultura, me vejo bárbaro, ignorando a lentidão do velho. Confesso: também não sou uma pessoa civilizada.
Sou cristão, mas neste momento estava longe de mim as palavras do Livro Sagrado: Amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo... Tudo o que quiserdes que os homens vos façam fazei vós também a eles...
Constato também que é muito fácil apontar o erro alheio... como dizia Jesus: Tira primeiro a trave do teu olho, para depois olhares o argueiro do olho do teu irmão.
Acho que estou no caminho da mudança... Confissão e arrependimento. Ver o mundo de outra forma, e dentro em breve poder dizer com o poeta:
“Ando devagar porque já tive pressa...
Levo este sorriso porque já chorei demais!”
Finalizo com uma música em homenagem ao “Velho”. É dedicado, no meu caso, ao meu Velho Pai, que no trânsito de Recife deve causar muita angústia nos motoristas impacientes e “civilizados”. Senhores, lembrem-se: Vocês irão envelhecer!!!
Muito legal.
ResponderExcluirGostei da mensagem. Enseja reflexão e, certamente, mudança de atitude dos novos no trato com os idosos, os quais no passado também foram jovens. E... não podemos esquecer que estamos envelhecendo a cada novo dia que Deus nos dá. Eu que o diga, Eziooon!
ResponderExcluirMuniz
Aldeota