Quando pensamos num
jardim pensamos num lugar de beleza e de tranquilidade. Lá não há barulho, há
calma, e parece haver uma harmonia entre os seres vivos ali: abelhas colhem o
néctar das flores, ao mesmo tempo que fazem a polinização viabilizando a fertilização
e o consequente surgimento dos frutos, beija-flores voejam equilibrando-se
misteriosamente no ar enquanto se alimentam do mesmo pólen... formiguinhas aqui
e ali carregam folhas para seu abrigo localizado em algum lugar subterrâneo.
Recentemente meu
jardim me ensinou que nesse clima idílico e bucólico pode surgir uma ameaça calma,
silenciosa, para muitos “bonita”, parecendo plenamente harmônica, mas altamente
destruidora!
Entre as plantas do
meu jardim está a conhecida “Trapoeraba roxa” (Tradescantia pallida purpúrea), uma plantinha rasteira com suas
folhas roxas grossas, suculentas. Plantamos porque traz um colorido novo para o
jardim. Quebra a monotonia do verde. Ela espalha-se preguiçosamente até onde
for permitido levando seu roxo vivo!
Um dia desses
percebi que havia caracóis no jardim. Achei bonitinho, além do mais temos um risonho caracol de barro pintado com cores
vivas, obra de algum artesão caprichoso, lá no jardim... coisa muita
apropriada: se há uma representação inanimada de um caracol, então por que não
termos um original, vivo?
Decidi deixar os
caracóis seguirem o curso de sua existência molusca.
Não demorou muito
para que eu percebesse que minha parte roxa do jardim estava sendo devastada!
Rapidamente a “Trapoeraba roxa” estava perdendo as folhas, ficando só os talos
das plantas.
Foi aí que eu
percebi que os recém-chegados não eram tão inofensivos assim. Quando fui
investigar melhor no jardim, os poucos caracóis
que eu tinha visto há algumas semanas haviam se transformado em centenas!
Eles eram uma praga no meu jardim! Fui pesquisar e descobri que eram hermafroditas,
tinham dois sexos embora precisassem de um parceiro para o “ato sexual”.
Decidi então ter o
meu jardim de volta, e a beleza das cores da minha “Traperoaba roxa”. Como?
Matando os caracóis. Decidido a exterminar os moluscos fofinhos fui à caça.
Passei horas de alguns dias juntando um por um num saco e jogando-os no lixo.
Isso a partir do final da tarde, porque durante o período do calor do sol eles
estão abrigados em seus esconderijos.
Depois da primeira
centena de indivíduos exterminados parei de contar... mas percebi que no meu
pequeno jardim os caracóis haviam se tornado uma praga, e se eu não me
empenhasse em tirá-los... meu jardim perderia por completo sua beleza.
Mortos os caracóis, algumas
semanas depois o roxo da Traperoaba foi timidamente retornando. As folhas
suculentas puderam voltar a crescer e colorir o jardim.
Aprendi que coisas aparentemente
gentis, inofensivas e silenciosas que acolhemos conscientemente em nossa mente podem
nos oferecer perigo, e podem se proliferar e iniciar um processo de autodestruição,
que se não for freado causará nossa ruína! Caraca!! Cuidado com os caracóis!