domingo, 20 de dezembro de 2015

Companheiro...

     Etimologia é a ciência que estuda a origem e desenvolvimento das palavras até chegar ao ETIMOS (ao real, ao verdadeiro). O que realmente em sua origem aquela palavra quer dizer? O que ela comunica?
    Numa época onde os significados são totalmente fluidos, ou sequer existem, acho que a etimologia se torna uma âncora, uma coluna, uma bandeira de esperança e solidez em nossa modernidade líquida. Deveríamos nos interessar mais por etimologia! Ou até querer ser etimólogos!

     Em tempos de fim de ano, olho pra vocês e os vejo como companheiros. Requisito a etimologia para esclarecer melhor o que quero dizer: Companheiro, aquele que come o pão junto. Do Latim cumpanis: cum (com, junto) + panis (pão). Na história antiga, era bastante frequente que uma tropa, isto é, um conjunto de pessoas agrupadas, parassem de cavalgar para descansar, e restaurar as forças numa estalagem, num boteco qualquer na estrada, comendo o pão servido que era compartilhado com todos. Daí saiu a palavra companheiro... aquele que come pão junto.


     Depois que comem pão junto, eles não são mais os mesmos. Alguma coisa especial acontece nesse tempo no qual é necessário usar uma palavra, uma nova palavra para designar as mesmas pessoas. Eles agora são cumpanis. Não são apenas viajantes, não são meros conhecidos, são cumpanis. Eles comem pão junto... companheiros.
     No Brasil a semântica nos trouxe significados vários para companheiro:
     O amancebado, a concubina, a hoje chamada união estável, antigamente era apenas companheiro(a);
     A esquerda brasileira requisitou o termo para que os integrantes ou simpatizantes do movimento pudessem se saudar entre si. Hoje é um termo comum no sindicalismo em busca de autenticidade do Brasil. Lembro-me da vovó, que me contou que na década de 60, no auge da ebulição socialista no país, alguém a chamou de “companheira Noêmia”. Ela então com toda a gravidade disse: Meu companheiro é o meu marido!!!
     Quero seguir a etimologia e pensar em vocês como companheiros. Comemos pão junto e não somos os mesmos, pois nos tornamos companheiros de caminhada, de luta, de alegrias, de esperança.   
    Lembro de Luiz de Carvalho, que partiu para junto do Divino Companheiro, esse ano. Desde garoto que eu me lembro não apenas da música, mas da cena: Divino Companheiro no caminho, sua presença sinto logo... O caminho de Emaús é uma das cenas mais lindas e mais tocantes do texto sagrado... Caminhava com eles, e fez como quem ia para mais longe, e os amigos disseram: Fica conosco... o dia já declina. E ele entrou para ficar com eles.
    Companheiro é alguém que caminha junto, e sente-se sua presença, pode-se contar com ele. Pode-se comer junto com ele à mesa. E no comer à mesa sabe-se quem é, pelos gestos, pelo timbre da voz, pelo riso. E percebe-se que arde nosso coração quando falamos, quando caminhamos juntos...

     Caminhemos juntos, e não tenhamos cerimônia em dizer para o outro, companheiro, seja este humano ou divino: Fica conosco... o dia já declina.

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