Etimologia é a ciência que estuda a origem e desenvolvimento das
palavras até chegar ao ETIMOS (ao real, ao verdadeiro). O que realmente em sua
origem aquela palavra quer dizer? O que ela comunica?
Numa época onde os significados são totalmente fluidos, ou sequer
existem, acho que a etimologia se torna uma âncora, uma coluna, uma bandeira de
esperança e solidez em nossa modernidade líquida. Deveríamos nos interessar
mais por etimologia! Ou até querer ser etimólogos!
Em tempos de fim de ano, olho pra vocês e os vejo como companheiros.
Requisito a etimologia para esclarecer melhor o que quero dizer: Companheiro, aquele
que come o pão junto. Do Latim cumpanis: cum (com, junto) + panis
(pão). Na história antiga, era bastante frequente que uma tropa, isto é, um
conjunto de pessoas agrupadas, parassem de cavalgar para descansar, e restaurar
as forças numa estalagem, num boteco qualquer na estrada, comendo o pão servido
que era compartilhado com todos. Daí saiu a palavra companheiro... aquele que
come pão junto.
Depois que comem pão junto, eles não são mais os mesmos. Alguma coisa
especial acontece nesse tempo no qual é necessário usar uma palavra, uma nova
palavra para designar as mesmas pessoas. Eles agora são cumpanis. Não
são apenas viajantes, não são meros conhecidos, são cumpanis. Eles comem
pão junto... companheiros.
No Brasil a semântica nos trouxe significados vários para companheiro:
O amancebado, a concubina, a hoje chamada união estável, antigamente era
apenas companheiro(a);
A esquerda brasileira requisitou o termo para que os integrantes ou
simpatizantes do movimento pudessem se saudar entre si. Hoje é um termo comum
no sindicalismo em busca de autenticidade do Brasil. Lembro-me da vovó, que me
contou que na década de 60, no auge da ebulição socialista no país, alguém a
chamou de “companheira Noêmia”. Ela então com toda a gravidade disse: Meu
companheiro é o meu marido!!!
Quero seguir a etimologia e pensar em vocês como companheiros. Comemos pão
junto e não somos os mesmos, pois nos tornamos companheiros de caminhada, de
luta, de alegrias, de esperança.
Lembro de Luiz de Carvalho, que partiu para junto do Divino Companheiro,
esse ano. Desde garoto que eu me lembro não apenas da música, mas da cena:
Divino Companheiro no caminho, sua presença sinto logo... O caminho de Emaús é
uma das cenas mais lindas e mais tocantes do texto sagrado... Caminhava com
eles, e fez como quem ia para mais longe, e os amigos disseram: Fica conosco...
o dia já declina. E ele entrou para ficar com eles.
Companheiro é alguém que caminha junto, e sente-se sua presença, pode-se
contar com ele. Pode-se comer junto com ele à mesa. E no comer à mesa sabe-se
quem é, pelos gestos, pelo timbre da voz, pelo riso. E percebe-se que arde
nosso coração quando falamos, quando caminhamos juntos...
Caminhemos juntos, e não tenhamos cerimônia em dizer para o outro,
companheiro, seja este humano ou divino: Fica conosco... o dia já declina.
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