Às
vezes ficamos atordoados com o cristianismo vivido no século XXI. Pensamos que
estamos vivenciando algo inédito, que são características dos tempos
pós-modernos. Nada me espanta mais.
Percebi que, pelo menos na história da
igreja cristã pode-se aplicar plenamente a máxima bíblica “Não há nada novo
debaixo do sol” (Ec 1.9).
Gostaria de convidá-lo a ler um trecho de
um livro, que achei absolutamente atual:
“ Quão poucos são os que amam a cruz de Jesus
Muitos encontram Jesus agora,
como apreciadores de seu reino celestial; mas poucos que queiram levar a sua
cruz. Tem muitos sequiosos de consolação, mas poucos da tribulação; muitos
companheiros à sua mesa, mas poucos de sua abstinência. Todos querem gozar com
ele, poucos sofrer por ele alguma coisa. Muitos seguem a Jesus até ao partir do
pão, poucos até beber o cálice da paixão. Muitos veneram seus milagres, mas
poucos abraçam a ignomínia da cruz. Muitos amam a Jesus, enquanto não encontram
adversidades. Muitos O louvam e bendizem, enquanto recebem d'Ele algumas
consolações; se, porém, Jesus se oculta e por um pouco os deixa, caem logo em
queixumes e desânimo excessivo.
Aqueles, porém, que amam a
Jesus por Jesus mesmo e não por própria satisfação, tanto O louvam nas
tribulações e angústias, como na maior consolação. E posto que nunca lhes fosse
dada a consolação, sempre O louvariam e Lhe dariam graças.
Oh! Quanto pode o amor puro
de Jesus, sem mistura de interesse ou amor-próprio! Não são porventura
mercenários os que andam sempre em busca de consolações? Não se amam mais a si
do que a Cristo os que estão sempre cuidando de seus cômodos e interesses? Onde
se achará quem queira servir desinteressadamente a Deus?”
Onde está você neste jogo de afirmações?
Agora vem o mais interessante: Quem
escreveu este texto?
Thomas de Kempis, há mais de 500 anos!
Século XV... Norte da Europa.
A oeste, França e Inglaterra se
digladiavam numa guerra sem fim, que já ia para mais de 100 anos. Constantinopla encontrava-se sob constante
ameaça dos turcos. Na Boemia, a Universidade de Praga era sacudida pela
destemida pregação do Reitor Jan Huss, que em 1415 sucumbiu nas chamas da
fogueira, condenado por heresia. Durante
quase quarenta anos dois papas haviam disputado o trono de Pedro, um em Roma
outro em Avignon, na França. Tempos turbulentos aqueles...
Servir a Deus significava abraçar a vida
religiosa, era sinônimo de deixar a vida comum, e recolher-se no interior dos
muros de um mosteiro ou de uma abadia.
Nascido na pequena cidade de Kempen,
no extremo oeste da Alemanha, em 1379 ou 1380, o jovem Thomas foi aos 13 anos
estudar em Deventer, na Holanda. Como
era costume a cidade veio a se tornar
parte do seu nome, Thomas de Kempis. Naquela época um avivamento espiritual estava
em andamento nos Países Baixos. Uma nova devoção era pregada, um fervor
semelhante aos primitivos cristãos de Jerusalém e Antioquia era observado.
Aqueles que aderiam ao movimento eram chamados de “Irmãos e Irmãs Devotos”. Eles não faziam votos, mas viviam uma vida de
castidade, obediência e pobreza. Thomas aderiu ao movimento e trabalhou
incansavelmente pelo Reino de Deus. Ajudou a estabelecer uma casa para a
comunidade no Monte de Santa Ana, próximo a Zwolle. Depois tornou-se um dos
religiosos regulares.
Ele devotou sua vida à oração, ao estudo, copiar manuscritos, ensinar
noviços e ouvir a confissão das pessoas que o procuravam. Quando lhe davam uma
posição de autoridade na comunidade ele preferia a quietude de sua cela ao
desafio da administração. Um possível
retrato autêntico seu foi preservado com o que deve ter sido seu lema,
enquanto em vida: “Em todos os lugares tenho procurado descanso... não encontrei, exceto em pequenos recantos
com pequenos livros”.
Marcou definitivamente a
história com sua obra, hoje traduzida por todo o mundo, como um clássico
devocional “Imitação de Cristo”. O trecho 11 do livro Segundo, dessa obra, traz
a atualíssima mensagem que lemos acima.
Morreu em 1471... mas suas percepções ainda
continuam atual, no século XXI! A sede da comunidade foi destruída no período da Reforma, mas o espírito do avivamento ainda persiste hoje!
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