quinta-feira, 15 de março de 2012

Sobre subir em árvores, pobreza e choro

    Estou tendo a alegria de participar do 8º Congresso de Teologia Vida Nova. Estive ausente em algumas edições do evento, e senti imensamente. É importante para mim esse tempo...
    Sinto necessidade de, em algum momento, parar de correr na floresta, subir numa árvore e contemplar a imensidão lá de cima... Refletir sobre os caminhos percorridos, visualizar lá de cima os obstáculos que eu hei de enfrentar quando descer da árvore... enxergar que tipo de trilha estou conseguindo abrir no meio da floresta. Será um caminho tortuoso?  Às vezes o caminhante só se preocupa em abrir a trilha, não importa se ela seja tortuosa, cheia de equívocos... subir na árvore ajuda a corrigir algumas coisas. O Congresso é a árvore na qual me proponho a subir de tempos em tempos.
     Dr. Shedd tem ministrado as reflexões nos devocionais, pela manhã e à noite. Aos oitenta e dois anos, o velho missionário, fundador das Edições Vida Nova (que ora comemora seus 50 anos de existência), com sua sabedoria e calma característicos tem trazido aos corações dos congressistas mensagens do coração de Deus.
    O desafio da santidade, a partir das bem-aventuranças tem sido o tema das mensagens. O sermão do monte (Mateus 5) é vivificado e nos incomoda e constrange, em pleno século XXI  (Estive ano passado na Galiléia, e lá de cima do provável monte das bem-aventuradas, contemplei o Lago de Tiberíades, e as praias tão familiares ao Mestre). Alguns detalhes trazidos pela sensibilidade pastoral do Dr. Shedd são tão fortes que não permitem a ninguém ficar alheio à Palavra do Senhor.
   Bem-aventurados os pobres de espírito (Mt 5.3)...  pobre de espírito é alguém capaz de aceitar a avaliação que Deus faz de nós. E qual a avaliação que Deus faz de nós?
    Ele não precisa de nós, ele não depende de nós. Nós não somos indispensáveis para ele. Ele se utiliza de nós por sua misericórdia, ele nos escolhe por sua graça, ele nos alcança por seu amor. Nossa  justiça não passa de trapo de imundícia.  Nós é que necessitamos dele, carecemos dele. Em toda a nossa “importância”, nosso “saber”, nossa “espiritualidade”... somos nada, nossa sabedoria é loucura para Deus. Nosso saber é apenas aflição de espírito. Quando aceitamos essa avaliação feita pelo Senhor de nós mesmos... somos pobres de espírito. Carentes... necessitados...
    Bem-aventurados os que choram (Mt 5.4)...  não é o choro por uma dor, não é o choro de raiva, de indignação, é outro choro. É o choro do pesar pelo pecado, é o choro do coração contrito. São as lágrimas que devem ter escorrido das faces de Davi enquanto escrevia o Salmo 51, e registrava:  ó Deus, tu não desprezarás o coração quebrantado e arrependido” (v. 17).
    É a tristeza decorrente da ação do Espírito Santo, que ao convencer-nos do pecado, nos entristece. Nos entristece por termos transgredido, por termos entristecido nosso Senhor, amigo, Salvador, Pai...  É sobre isso que Paulo fala em II Co 5: “pois a tristeza segundo a vontade de Deus produz o arrependimento que conduz à salvação (v.8-11)”. É a contrição, o quebrantamento... quantos de nós não sabemos mais o que significa o quebrantamento? Talvez hoje outra coisa tenha tomado o lugar da contrição, do pesar, do choro, das lágrimas, da tristeza segundo a vontade de Deus...
      Não estaria a arrogância tomando o lugar do quebrantamento? A arrogância de um Saul, que encontra sempre uma desculpa para o pecado...  É muito mais fácil sermos arrogantes do que contritos...
     Mas nestes dias... em que homens são amantes de si mesmos, gananciosos, arrogantes, presunçosos, blasfemos... (II Tm 3.1-6) A voz do Senhor ecoa novamente, e lá de cima do monte nas longínquas terras da Galiléia nos diz: Bem-aventurados os que choram porque eles serão consolados!