domingo, 31 de julho de 2011

Dia 27: Triste Colheita...

    Dia 27 de Abril, faleceu no Texas vítima de um acidente automobilístico o Rev. David Wilkerson. Exatamente três meses depois, no dia 27 de Julho, morreu na Inglaterra o Rev. John Stott. Mas o que estes estrangeiros têm a ver comigo? Muita coisa... Ambos fizeram parte da minha formação espiritual. Nunca os vi e nunca souberam de minha existência, claro. Mas ambos foram de fundamental importância para o meu entendimento dos desígnios divinos, e da ação presente de Deus na Terra.
   David Wilkerson...

   Quando eu tinha 14 anos me tornei colportor (para quem não sabe, colportor é alguém que vende livros de conteúdo religioso) da Editora Betânia. O livro mais procurado do meu catálogo naquela época era "A Cruz e o Punhal", que já ia na sua 14ª edição (o meu velho e surrado exemplar é dessa época). Líamos, e vibrávamos com as aventuras do Rev. Wilkerson no Brooklin violento dos anos 60. Depois queríamos acompanhar o que aconteceu com os jovens saídos das drogas como o portoriquenho Nicky Cruz. A história de Nicky estava num outro livro: "Foge, Nicky, Foge". Tudo o que o Rev. Wilkerson escrevia nós absorvíamos avidamente. Outros livros vieram como "Depois de A Cruz e o Punhal", "Não Estou com raiva de Deus". Depois a história foi lançada em filme, que assisti numa sessão no Colégio Americano Batista, ao lado da Igreja da Capunga.

    O tempo passou, mas não perdi o Rev. Wilkerson de vista. Li também o testemunho de sua esposa, Gwen Wilkerson, um livro de inestimável valor "Na Força do Senhor" (editora Vida), no qual ela conta seus conflitos com o esposo e sua luta contra o câncer.
    Depois me tornei colportor também da CPAD, que tinha os direitos autorais de um outro livro famoso do Rev. Wilkerson,  "Toca a Trombeta em Sião". Era uma denúncia corajosa dos desafios do cristianismo da época. Foi um best-seller, em 1 ano se esgotaram 5 edições.   
    Rev. Wilkerson tornou presente para todos nós o significado de chamado missionário, de obediência e dependência de Deus. Era como se o livro de Atos estivesse sendo vivido novamente. Sua voz profética foi ouvida em todo o mundo! Todos fomos chamados a Tocar com ele a Trombeta.
     John Stott...


    Em 1990 terminei o ensino médio no Colégio da Polícia Militar de Pernambuco, e no ano seguinte comecei o curso teológico no querido Seminário Teológico Pentecostal do Nordeste. Lá fui apresentado aos escritos de um  ilustre inglês, Rev. John Stott, clérigo anglicano, capelão da Coroa britânica.
    Quando pensávamos em alguém que se citado, traria peso ao nosso argumento, pensávamos em John Stott. Não se poderia estudar Soteriologia sem a leitura de "A Cruz de Cristo", clássico sempre. Suas exposições de "Atos" e "Romanos" eram imprescindíveis. Quando fui lecionar Atos dos Apóstolos, indicava sem medo de errar o livro de John Stott, publicado pela ABU. Ajudou-nos com sua clareza e simplicidade habituais em questões polêmicas como sexo, em "Grande Questões sobre Sexo", publicado pela Vinde.
     Parte da minha biblioteca foi financiada indiretamente por ele. Como? Através do "Evangelical Literature Program and Langhamk Scholarship Program", um projeto para fornecimento de livros e bolsas de estudos para seminaristas e pastores, criado por John Stott. Enquanto aluno e professor do seminário adquiri muitos livros subsidiados pelo projeto do Rev. Stott.
    Quando fui o professor homenageado pela turma concluinte do ano 2000, no STPN, comprei e presenteei cada um dos formandos com outro clássico do Rev. John Stott, "O Cristão em uma Sociedade não cristã".  Ele escreveu e deixou claro para nós que "Crer é também pensar".
      Em 27 de julho, John Stott partiu para a Eternidade. Fico triste porque meus referenciais estão indo embora. Mas fico feliz porque tenho referenciais. E sinto grande responsabilidade também, porque hoje me transformo em referencial para muitos... Que eu trilhe os caminhos destes grandes homens, que inculcaram em mim, mesmo à distância, através de seus escritos e testemunhos, uma fé verdadeira e firme em Jesus Cristo que é o mesmo ontem, hoje e eternamente!

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Conversas sobre o Livro de Habacuque

1.       Os questionamentos de uma pessoa de fé
    Muitos textos bíblicos apresentam uma atualidade que surpreendem os mais céticos e incrédulos. O livro do profeta Habacuque é um deles. O nome exótico, sonoro e pouco utilizado (Quem conhece alguém chamado Habacuque?), esconde um texto riquíssimo em beleza estética, profundidade espiritual e atualidade teológica.
   Em nossa conversa sobre Habacuque, começamos com os questionamentos do profeta, encontrados no primeiro capítulo:
   “Até quando, Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: Violência! E não salvarás? Por que razão me mostras a iniqüidade, e me fazes ver a opressão?” (Hab 1.2-3) “Por que olhas para os que procedem aleivosamente, e te calas quando o ímpio devora aquele que é mais justo que ele? E por que farias os homens como os peixes do mar, como os répteis, que não têm quem os governe?” (Hab 1.13-14)  
   O questionamento surge quando os fatos aparentam alguma incoerência. Quando a lógica do cotidiano parece comprometida. Quando o raciocínio humano não encontra razoabilidade nos fatos com os quais se depara. Habacuque questiona porque não há resposta divina ao seu clamor. Ora, diante do clamor humano espera-se a resposta do céu. Quando a resposta não vem, surge o questionamento: “Até quanto, Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás?”
    Diante da inércia do Eterno Regente do mundo, ante às injustiças e desmandos da sociedade humana, a lógica do crente brada: “Por que calas quando o ímpio devora aquele que é mais justo que ele?
    Indagações... questionamentos...

    Para muita gente a definição bíblica de fé parece estar calcada em certezas, em impossibilidade de questionamento: “A fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem...” (Hb 11.1). Este conceito, belo, apropriado e suficiente por sinal, nos indica que a fé confere sentido à crença de coisas futuras e invisíveis.  Garante-nos que não estamos loucos quando afirmamos que cremos no mundo porvir, bem como que Cristo está assentado à direita de Deus intercedendo por nós. A fé é o que confere sensatez e coerência às nossas afirmações, mesmo que estas não encontrem amparo na metodologia científica.
    Mas esta definição não indica que o crente (aquele que tem fé) não questione, não faça indagações. É importante que tenhamos em mente que existem indagações e indagações. Existem indagações basilares, que caso existam é indicativo que o indivíduo ainda não tem consolidada a sua fé, a sua crença. Por exemplo, quem questiona a própria existência de Deus não pode estar nos domínios da fé, ainda encontra-se no universo da incredulidade. Afinal, “é necessário que quem se aproxima de Deus creia que ele existe...”(Hb 11.6).
    Existem indagações que surgem de um coração cheio de fé. Existem questionamentos que partem da pureza e sinceridade de quem confia no Senhor e quer manter sua fé no Todo-Poderoso. Habacuque era assim... Não entendia por que certas coisas eram do jeito que eram, e não tendo as respostas indagava ao Todo-Poderoso.
     Por que temos tanta certeza da fé de Habacuque?
     Por causa de sua atitude no versículo 1 do capítulo 2. Após uma saraivada de questionamentos, Habacuque toma uma decisão:  Eu me colocarei sobre a minha torre de vigia; ficarei sobre a fortaleza e vigiarei, para ver o que Ele me dirá e o que terei como resposta à minha queixa”.
     Humildade, sinceridade, fé, eis o que está por trás desta atitude. Alguma coisa Deus me dirá, algo para manter coerente o meu pensamento, algo para acalmar meu espírito em ebulição, algo para confirmar que eu não estou enlouquecendo. Vou esperar... vou esperar pela resposta divina.
     E a resposta veio. Não com as respostas ao questionário de Habacuque, mas com uma clareza fora do comum, com uma simplicidade óbvia, um óbvio ululante (como ele não tinha entendido isto ainda?): “O Justo viverá por sua fé” (Hab 2.4). A fé confere ao crente um sentido à existência que dispensa as explicações e respostas aos questionamentos. As indagações considerar-se-ão satisfeitas pela afirmação da fé. Por isso, o justo, vive por sua fé.
     Lembrei do meu avô, Justo... já não está mais conosco... viveu por sua fé, deixando-nos o exemplo!